Artigo: Avanços da mulher na política – Por Teresa Sousa

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) das eleições de 2012 mostram que 72,8 milhões dos eleitores brasileiros são mulheres, o equivalente a 51,9% do número total.

É incontestável a relevância da mulher no processo democrático brasileiro. No entanto, tamanha parcela de participação se deve a um longo processo de emancipação, ainda em vigência, fruto de incontáveis lutas feministas que, acompanhando os processos de democratização, se estruturaram e ganharam força para permitir à mulher exercer papéis que antes eram acessíveis somente aos homens.

No mês da comemoração dos 82 anos do direito ao voto feminino, é importante resgatar a memória de parte deste processo de luta pela democracia e cidadania.

Alzira Soriano foi a primeira mulher a ocupar um cargo eletivo, em 1928, no Rio Grande do Norte, pelo Partido Republicano, mas não completou o seu mandato. O direito do voto feminino foi obtido em âmbito nacional pelo código eleitoral provisório durante a ditadura Vargas, mais precisamente em 1932, porém era restrito apenas a mulheres casadas e com autorização do marido, agraciando principalmente mulheres da alta sociedade.

O fim das restrições ao pleno exercício de cidadania veio somente com o código eleitoral de 1934. Era sem obrigatoriedade, que só foi imposta em 1946.

Goiás também vivia um momento histórico relevante no contexto da luta das mulheres, era o período em que Pedro Ludovico Teixeira liderava a revolução contra o coronelismo e, nesse contexto, combatia também toda a simbologia patriarcal e autoritária associada aos que detinham o poder sobre o Estado na época – em consequência, abriu espaço para as mulheres em um ambiente político mais democrático. Outro marco na luta feminista do Estado foi o Gabinete Literário da Cidade de Goiás.

Criado em 10 de abril de 1864, servia de palco para manifestações culturais do final do século 19 até meados do século 20. Em1929, durante uma crise no Gabinete causada por falta de sócios e uma diretoria indiferente, surge uma diretoria composta inteiramente por mulheres, sugestão de Antônio Ramos Caiado, que alegava que as mulheres teriam mais tempo e disposição para realizar um trabalho não remunerado. A decisão surtiu efeito e a diretoria presidida por Consuelo Ramos impulsionou o Gabinete, numa época marcada pela divulgação de novos costumes e práticas e atuações sociais que não se restringiam ao papel de esposa.

Retornando ao processo histórico brasileiro, em 3 de maio de 1933 a médica paulista Carlota Pereira foi a primeira mulher a ser eleita deputada federal, participando dos trabalhos na Assembleia Constituinte de 1934 a 1935. Eunice Michiles foi a primeira senadora, assumindo o cargo como primeira suplente do senador João Bosco de Lima, já no final da década de 70, quando os movimentos feministas ganharam cada vez mais força e estruturação no rastro da contracultura dos anos 60, que representou uma ruptura com os tradicionalismos remanescentes das décadas anteriores. Foi uma década responsável por um legado de quebra de paradigmas e reafirmação da autonomia das mulheres. Já na década de 80, Maria Esther foi a primeira ministra no Brasil. Em 1994, Roseana Sarney foi eleita a primeira governadora, no Estado do Maranhão.

Enfim, em 2010, em uma eleição histórica, Dilma Rousseff se tornou a primeira mulher eleita presidente do Brasil, fato que mostra o quanto a participação feminina na política avança. Contudo, o número de mulheres no Poder Legislativo ainda é bastante inferior ao de homens. Há muito a ser feito, já que o ambiente político é masculino e ainda exige muito das que buscam se sobressair.

Que essa data de comemoração sirva para que, cada vez mais, as mulheres não precisem provar seu valor duplamente.

Teresa Sousa é secretária municipal de Políticas para as Mulheres de Goiânia (GO

 

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