Ataque à Petrobras só gerou desemprego, gasolina cara e fome, diz Gleisi
Em entrevista à ‘TV Fórum’, presidenta do PT denuncia “lacerdismo” da Lava Jato e privatizações e garante que a legenda está pronta para debater o futuro do país: “Queremos discutir a vida do povo”
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A Petrobras, um dos principais instrumentos para o desenvolvimento nacional e para a soberania o Brasil, está sob forte ataque neoliberal, alertou a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Em entrevista à TV Fórum, da Revista Fórum, nesta segunda-feira (22), Gleisi condenou o que caracterizou como “lacerdismo” em torno da Petrobras, e cujo falso discurso de combate à corrupção – o mesmo que vitimou Getúlio Vargas em 1954 – é só mais uma desculpa para entregar o patrimônio do povo brasileiro ao capital estrangeiro.”Hoje a gente revive essa história, com a mesma sanha de quem acusa”, disse, referindo-se ao ataque. Ela argumentou que é vital reverter decisões que impactaram não apenas a empresa mas a vida da população, que hoje sofre com as altas dos preços dos combustíveis, em um ciclo vicioso que afeta toda a economia.
“Queremos discutir a vida do povo. Porque está desempregado, porque estamos passando por essa situação, a economia do Brasil é uma das piores do mundo e não é só por conta da pandemia”, opinou. “Tudo o que foi feito [contra a Petrobras] levou a isso: nosso povo voltou a sentir a dor da fome e da inflação”, lamentou Gleisi.
“No final, vimos que o que se queria não era combater a corrupção, era entregar o petróleo brasileiro aos interesses estrangeiros”, apontou a petista, para quem o ex-juiz Sergio Moro encontrará dificuldades para esclarecer o desastre que se abateu sobre o país após a Lava Jato.
A importância do pré-sal
“É uma sandice esse negócio de vender a Petrobras, que foi criada para fortalecer o Estado brasileiro em cima da nossa capacidade produtiva de petróleo. Os EUA fazem guerra com o mundo por petróleo, invadem países, matam… aqui não. Só precisaram do Moro, que foi treinado no Departamento de Justiça norte-americano para fazer o desmonte de uma das maiores empresas do mundo”.
Gleisi comentou sobre a importância dos investimentos feitos por Lula no pré-sal, descoberto durante o seu governo para tornar o Brasil competitivo. “Nós desenvolvemos uma das tecnologias de ponta no mundo, que é a extração de petróleo de águas profundas. Hoje o custo do barril extraído em águas profundas é quase o custo do barril extraído na Arabia Saudita, onde o petróleo jorra da areia”.
Autossuficiência
“Você produz petróleo para que? Para ter gasolina, diesel gás e derivados. Por que cargas d’água a gente teria de abrir mão de fazer isso com nosso petróleo e deixar que a ponta fosse produzida por outros e [para] pagarmos a intermediação?”, questionou.
Ela ressaltou ainda que a empresa deve ser capaz de dominar todos os processos da cadeia de produção, motivo pelo qual os governos do PT investiram em refinarias, gasodutos e na BR Distribuidora. “Nossa lógica era: o petróleo do poço ao posto, essa deve ser a lógica da cadeia completa de uma empresa que se quer forte. Energia é fundamental para o desenvolvimento do país”, frisou. “Era isso que estava na cabeça de Getúlio Vargas quando criou a Petrobras: uma empresa impulsionadora do desenvolvimento brasileiro”.
A responsabilidade de Moro na crise
“Aliás, [Moro] terá de explicar, e muito, porque o preço da gasolina, do diesel, do gás de cozinha que temos hoje é responsabilidade do Moro. Desestruturaram todo o marco regulatório do pré-sal, abriram para que a Petrobras fosse retirada do processo como a empresa mais importante e mudaram a política de preços, que hoje é dolarizada e tem como único foco dividir os lucros das empresas com seus acionistas privados. Moro conseguiu isso”.
“Moro vai ter de explicar à população brasileira, inclusive a conta matemática que dizia que a Petrobras foi saqueada nos nossos governos. Mas a gasolina, o diesel, o gás de cozinha, eram baratos”, justificou.
Operação Spoofing
Gleisi lembrou ainda que farsa da Lava Jato contra Lula foi desmontada a partir da Operação Spoofing, confirmando o que o PT e a defesa do ex-presidente sempre denunciaram. “A operação veio para mostrar aquilo que dizíamos desde o início: isso é uma armação. Aquele powerpoint do Dallagnol, a forma de fazer as delações premiadas, as provas que não existiam, o cerceamento da defesa, tudo o que dizíamos no processo”, elencou a petista.
Para a dirigente, o discurso em torno do combate à corrupção hoje está muito enfraquecido. “Desestabilizaram o Brasil com a Operação Lava Jato, que não teve nenhuma preocupação com os interesses nacionais, com as empresas, com o emprego das pessoas, para tirar um grupo político que estava no governo e impedir que ganhasse as eleições de 2018”, apontou.
Combate à corrupção nos governos do PT
Na entrevista, Gleisi também desmontou a falácia de que o PT é contra o combate à corrupção. “Criamos os mecanismos para combater a corrupção: a Controladoria-Geral da União (CGU), que não existia, a Lei de Acesso à Informação (LAI), o Portal da Transparência… são instrumentos importantes para que as pessoas tenham acesso e acompanhem o dia-a-dia do governo”, definiu.
“E sempre respeitamos institucionalmente o trabalho do Ministério Público, do Judiciário, da Polícia Federal. Nunca você viu o PT intervir em qualquer investigação”, ressaltou. “O que não podemos aceitar é essa narrativa de que houve corrupção sistêmica nos governos do PT”, reagiu a presidenta do PT.
“Não temos de medo de fazer esse debate, inclusive com Sergio Moro. Até agora a gente não pôde fazer a contraposição ao Moro como gostaríamos. Essa operação [Lava jato] só teve o sucesso que teve porque contou com a grande mídia”.
Memorial da Verdade
Ela apontou o papel importante do Memorial da Verdade no restabelecimento dos fatos e da justiça na perseguição a Lula. “O livro fala de todos os processos avaliados pela Justiça. Em 23 processos, Lula foi inocentado, porque não tem nenhuma sentença o condenando”, disse, lembrando que Sergio Moro foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como juiz parcial nos três processos da Vara de Curitiba.
“Temos processo por processo: o que é a acusação, porque ela não se sustentava, e qual foi a decisão judicial. Ou seja, Lula está solto e inocente. Queremos debater isso, inclusive a Petrobras.
A viagem de Lula na Europa
A presidenta do PT avaliou como grande o impacto da viagem de Lula pela Europa porque apresentou ao mundo um pouco da diplomacia ativa e altiva que fez do Brasil protagonista mundial há pouco mais de uma década. “[A viagem] mostra que o Brasil que tem condições de se relacionar com o resto do mundo, é querido no exterior, só não tem interlocução hoje, não é respeitado”, analisou.
“Em um país como o nosso, é fundamental ter boas relações internacionais, seja por conta das questões políticas, de desenvolvimento, de comércio”, explicou. “O Brasil não é uma ilha isolada, tem relações de todos os tipos. Ter alguém com capacidade para representar o país e seu povo é fundamental para que a gente tenha desenvolvimento”.
“Para o mundo, Lula é uma referência, uma liderança política importante e que fez um bom governo. Ou seja, conseguiu colocar o Brasil em outro patamar perante o mundo, éramos respeitados. A política do nosso chanceler Celso Amorim, altiva e ativa, fazia toda a diferença. Essa viagem foi importante porque resgatou um pouco nossa imagem, que estava muito ruim”.
Eleições
“Fico muito impactada com a normalização da candidatura do Moro”, declarou Gleisi, apontando novamente o papel da imprensa no processo. “A normalização de um ex-juiz, que foi coordenador de uma das maiores operações, segundo ele, para combater a corrupção, virar candidato a presidente”.
“Então é normal, o cara é juiz hoje, julga, condena – e depois soubemos em que circunstâncias isso se deu, com as condenações e a perseguição ao presidente Lula… Daí ele muda de roupa. É uma normalização muito ruim para o processo democrático brasileiro”, advertiu.
“Do ponto de vista eleitoral, para nós, não há nenhuma preocupação. Vamos ver se ele aguenta na arena política, fazer um debate. Ele vai ter de explicar muita coisa que fez, sobre os processos, e como chegou a esse posicionamento de entrar para a política”, desafiou.
Da Redação