Aumenta em 1.200% a participação de CACs em ocorrências envolvendo Lei Maria da Penha
Elevação do envolvimento de homens com porte legal de arma de fogo em crimes previstos na Lei Maria da Penha ocorreu ao longo do governo Bolsonaro
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Reportagem exibida no último domingo (19) pelo programa Fantástico, da Rede Globo, alertou para o envolvimento dos chamados CACs (colecionadores, atiradores e caçadores) em ocorrências policiais da Lei Maria da Penha.
Entre 2019 e 2021, ou seja, os três primeiros anos do mandato de Jair Bolsonaro, a prática de violência contra as mulheres por esses homens aumentou 1.200%, claro resultado da liberação geral das armas sob o estímulo do governo anterior.
Para se ter ideia da gravidade do quadro, somente no Distrito Federal, o número de ocorrências policiais cresceu de 24 em 2019 para 205 em 2022.
Nas 205 ocorrências encontradas no ano passado, quase a totalidade dos autores era do sexo masculino, com apenas 3 casos de mulheres figurando como autoras.
Dados obtidos pela TV Globo, via Lei de Acesso à Informação, mostraram ainda que o envolvimento de CACs nas ocorrências registradas de acordo com a Lei Maria da Penha saltou de quatro em 2019 para 48 no ano passado.
Especialistas da área de segurança pública apontam um considerável aumento do número de CACs a partir da flexibilização das regras para a aquisição de armas de fogo e de munição – inclusive de uso restrito – durante o governo Bolsonaro.
“Em 2022, nas 205 ocorrências encontradas, quase totalidade dos autores era do sexo masculino; com apenas 3 casos de mulheres figurando como autoras. Ademais, cerca de 28,5% dos autores do sexo masculino tinha entre 36 e 40 anos de idade. Trata-se, portanto, de uma população masculina jovem e de meia idade. Essa situação de predileção por armas de fogo por parte de homens jovens não é novidade, porém, ganhou status de fetiche com o ex-presidente Bolsonaro. Afinal, os discursos dele em defesa de armas de fogo, em regra embebidos por testosterona e agressividade, tornaram-se praticamente política de seu governo” ”, afirma Alexandre Pereira da Rocha, doutor em Ciências Sociais pela UnB e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em artigo publicado no site da entidade.
A flexibilização nos trâmites para a compra de armamentos teve início já em em 2018, último ano do governo Temer, quando os CACs receberam autorização para adquirir quase 59,5 mil armas.
Mas, a partir de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, esse número foi subindo e chegou a 904.858 novas armas para CACs nos últimos quatro anos, equivalendo-se à liberação de 26 novas armas por hora em quatro anos.
“Especificamente em 2022, em aproximadamente 16,0% dos crimes praticados por autores como CACs as vítimas eram mulheres; considerando fatos referentes à Lei Maria da Penha, à violência psicológica contra a mulher e ao stalking. Ademais, no geral, ressaltaram-se crimes provavelmente oriundos de relações interpessoais ou domésticas; como ameaça, injúria, lesão corporal. Em todos esses crimes se observa alta significativa dos registros entre 2019 e 2022; justamente o período de maior expansão dos registros de CAC”, conclui ele em sua análise.
Assim que tomou posse na Presidência da República, em 1º de janeiro de 2023, o presidente Lula assinou decreto para controlar o registro de armas no país, suspendendo novos registros de CAC´s e a concessão de novos registros de cursos e clubes de tiro.
Nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, o Governo Lula anunciou novas medidas para a implementação e o fortalecimento das políticas públicas voltadas para o combate à violência e a valorização das mulheres brasileiras.
Da Redação