Bernardo de Vito Schneider: O Padre Vermelho

Não possuo a experiência e o aprofundado conhecimento que muitos dos autores da Tribuna de Debates tem, por isso permitam-me expressar brevemente o que penso por meio de um conto.…

Lula Marques/Agência PT
Tribuna de Debates do PT

Não possuo a experiência e o aprofundado conhecimento que muitos dos autores da Tribuna de Debates tem, por isso permitam-me expressar brevemente o que penso por meio de um conto.

“Havia em um vilarejo muito humilde um padre, cuja batina era vermelha, morava em uma casinha simples afastada de tudo e de todos, mas conhecia muito bem o povo e sempre ia visitá-los e tanto os habitantes quanto o padre sabiam muito bem do que o vilarejo precisava, precisava de uma igreja para trabalhar a favor dos mais pobres. Então após muita luta foi enviado um outro padre ao vilarejo, ele usava batina preta, falou que a igreja poderia ser construída desde que o padre vermelho assumisse a liderança, mas teria que deixar parte da administração da igreja sob seu controle. Pensando na necessidade do vilarejo e dos pobres o padre vermelho aceitou. O tempo foi passando e o padre vermelho começou a perceber que não conhecia o tal do outro padre tão bem assim e foi investigar mais sobre sua administração, para sua surpresa descobriu que a administração era toda corrupta e que o padre da batina preta estava roubando todo o dinheiro do vilarejo para si, entretanto antes que o padre vermelho pudesse delatar a corrupção do padre traidor, o tal padre se adiantou e voltou todos contra o padre vermelho. O acusaram de tudo o que o outro padre fazia, mas como não tinha sido ele quem roubou não encontraram o dinheiro, mesmo assim o expulsaram da igreja.

O padre vermelho então voltou para sua velha casinha, hostilizado e triste, muito triste. O vilarejo estava fervendo, muitos queriam o padre vermelho morto, outros queriam que ele fosse expulso do lugar, o padre traidor então disse para que se acalmassem que a justiça viria no tempo certo, que agora o importante era correr atrás do prejuízo deixado pelo padre vermelho e para isso seriam necessários sacrifícios tanto dele como do povo, mas que ficassem confiantes, pois, agora ele passaria a usar uma batina branca, imaculada. O povo admirado aplaudiu estrondosamente o padre, agora, branco. Cheio de novidades, o padre branco declarou que a igreja teria um conselho de padres, todos de batina branca, e a batina vermelha seria proibida. O tempo foi passando, a igreja piorando e todo o trabalho do padre vermelho sendo abandonado, ficando no passado, alguns habitantes do vilarejo então começaram a perceber que havia algo de errado e foram atrás do padre vermelho, que já estava mais velho e mais abatido, mesmo assim pediram para que ele tentasse negociar uma cadeira no conselho da igreja, para ao menos poder interferir em algumas decisões cruéis do conselho de padres brancos.

No entanto, o padre vermelho sabia que, na verdade, não conseguiria interferir de fato nas decisões do conselho e então disse que seria melhor, por mais que doesse em seu coração, deixar que o vil conselho seguisse trabalhando, ele continuaria ali fazendo seu trabalho de base, trabalho de formiguinha, e quem sabe pouco a pouco as pessoas começassem a enxergar o verdadeiro significado da cor das batinas e acordassem para o golpe dado contra elas mesmas. Além do mais, de que adiantaria ter que vestir uma batina preta para se assentar junto aos padres brancos, isso só estaria retirando o significado, a dignidade e desvalorizando a batina vermelha. Por fim ele disse: – Enquanto isso, eu irei chorar com os que choram e me alegrar com os que se alegram, mas só irei voltar, de fato, quando o vilarejo clamar o retorno da batina vermelha. É preciso ser radical em tempos difíceis e por ‘radical’ quero dizer retornar à raiz.”

Acredito que o Partido dos Trabalhadores tem muito a fazer pela sociedade brasileira e, mais ainda, que irá fazer. Mas é preciso tomar algumas atitudes radicais, precisamos definir de uma vez por todos que tipo de sociedade queremos, no estatuto já temos isso por escrito entretanto é preciso aproximarmos o que está escrito para, de fato, nossas atitudes, pensamentos, funcionamento interno, mandatos, coligações e etc. Não há mais espaço para um partido sem coerência de pensamento e ação, se seguirmos nesse modelo afirmo que, infelizmente, padeceremos.

O tempo é algo muito relativo e precisamos perceber o tempo da oportunidade para o nosso partido, que se dane o fato de estarmos perdendo cargos e prefeituras, essa é a hora de voltarmos de onde nunca deveríamos ter saído: das ruas, juntos aos oprimidos. É a oportunidade de fazermos crítica e autocrítica, de fazermos uma faxina interna, nos afinarmos, rompermos com aquilo e aqueles que não condizem com nosso partido e unir quem realmente quer fazer a transformação da sociedade, e fazer acontecer! Temos que alinhar o pensamento de todos do partido em um objetivo comum, retirar das nossas entranhas o espírito faccioso e egoísta, voltar almejar a utopia. Realizar reuniões mais frequentes, mais debates, investir na formação dos filiados, abrir novos canais de mais fácil diálogo e participação entre os diretórios municipais, estaduais e nacional, valorizar a base do partido e não apenas sua cúpula.

São tempos de golpe e é claro que são difíceis, mas são de rupturas, reformas e polarizações que são feitas as grandes revoluções, vamos voltar a caminhar juntos, como irmãos e irmãs, como iguais, não em busca de poder ou somente pelo partido, mas pelo nosso povo, pela nossa gente. Porque é de sonhos que o povo é feito e é de sonhos que o PT precisa voltar a ser!

Por Bernardo de Vito Schneider, 27 anos, biólogo e estudante de pedagogia, recém filiado ao PT, para a Tribuna de Debates do VI Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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