Morre Tantinho da Mangueira – Nota de Pesar

Compositor e baluarte da Estação Primeira e companheiro de tantas lutas pela democracia e defesa da cultura.

Morreu neste Domingo de Páscoa, aos 72 anos, Devani Ferreira, o Tantinho da Mangueira, compositor e baluarte da Estação Primeira e companheiro de tantas lutas pela democracia e em defesa da cultura.

A Secult PT RJ abraça os amigos e familiares de Tantinho nesse momento de dor, e escolheu um poema do companheiro Sérgio Gramático, publicado no livro “Poeticidade Maravilhosa”, Ed. Íbis Libris, para nossa última homenagem a esse homem que fará muita falta.

“Um Tantão de Voz”

Saia de baixo da saia
Da saia rodada da baiana
Pra ver o carnaval que é o mundo
E como desfila essa gente
Que desce a ladeira
Seu gueto
Com sua alegria
Com sua tristeza
E sua dança de preto
Com dificuldade
E com sua riqueza
Que planta na avenida
Uma nova favela generosa
E germina com aplausos
Em verde e rosa

Saia de baixo da saia
Da saia alvorada da baiana
Pra saber que o mundo é um morro
Feito de descer vielas
Feito de subir em becos
Foz de talentos
De cofres secos
Feito pra pintar e bordar
Nos barracos pendurados
Nos pés de manga
Na ginga de ganga
Pra soltar pipa, chutar bola
Tacar pedra na amplidão
Pular muro
Criar machucado
Correr chão
Voar céus
Pra ser moleque esperto
Liberto e levado
Levado num sonho sereno
De um dia poder cantar
E crescer pleno

Saia de baixo da saia
Da saia abençoada da baiana
Pra lutar pelo seu sustento
Pra arquivar o seu talento
E vender limão na feira
E suar a testa na estação primeira
Descolar um troco
Pra passar sufoco
Pra cantar um samba na rádio
Usando boa manobra
Botando os pés um desejo
Sapato de couro de cobra
Pra levar documentos
Pelos escritórios
Pelos corredores
E por toda parte
Servindo a Fundação
Ao nacional e à arte
E se aposentar um dia
E enfim poder cantar
Um prêmio pela melodia
Por reaquecer o morno
Tirando com maestria
Um compositor do forno

Saia
Saia de baixo da saia
Da saia encantada da baiana
Com sua pele africana
Com seu olhar infante
Já que a vida
É consumida num instante
E o mundo é só um cantinho
É só um tantinho de terra
Pra ecoar sua voz gigante

 

P.S: Foto _ Eduardo Lurnel

PT Cast