Bolsonaro aprofunda miséria em 24 dos 27 estados do país
Empobrecimento atingiu 24 das 27 unidades da Federação. “Enquanto o povo precisa de socorro, Bolsonaro se recusa a manter o auxílio emergencial, destrói o Bolsa Família e está mais preocupado em promover o caos”, disse Gleisi Hofmann
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O percentual da população pobre aumentou em 24 das 27 unidades da Federação brasileira entre o início do desgoverno Bolsonaro, no primeiro trimestre de 2019, e janeiro de 2021. A fatia da população pobre na média do Brasil como um todo passou de 25,2% no primeiro trimestre de 2019 para 29,5% em janeiro de 2021.
Houve ainda expansão da parcela populacional em pobreza extrema em 18 das 27 unidades da Federação. No início do desgoverno Bolsonaro, 6,1% dos brasileiros viviam na pobreza extrema. Em janeiro deste ano, já eram 9,6%. O ritmo do empobrecimento foi mais intenso no Nordeste e em grandes centros urbanos.
Em São Paulo, por exemplo, a parcela de população pobre subiu de 13,8% em 2019 para 19,7% em 2021. No Rio de Janeiro, o número ultrapassou um quinto da população, passando de 16,9% para 23,8%.
No Piauí, o número de pobres no estado subiu 5,3 pontos e agora 46,4% vivem com menos de R$ 450 por mês. Pernambuco (45,3%) e Paraíba (45,2%) registraram alta de 4 pontos. Embora 54,9% da população maranhense vivam na pobreza, o estado teve um dos menores índices de aumento (1,8 ponto).
Na região Norte, o Amapá tem o maior índice, com 55,9% da população pobre – alta de 4,5% desde 2019. Os três únicos estados onde não houve expansão da pobreza tinham participação acima de 30% dos pobres na população geral: Acre (46,4%), Pará (45,9%) e Tocantins (35,7%).
Os números foram calculados por Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). O estudo tomou como base dados de renda da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e da Pnad Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A classificação de pobreza no Banco Mundial, de renda per capita de R$ 450 por mês, também foi considerada.
“A pobreza aumentou na maioria dos estados e teve altas bastante elevadas em grandes centros urbanosalu, no Sudeste e no Nordeste. As economias dos centros urbanos são muito focadas em serviços, como alimentação, alojamento e entretenimento, que foram mais atingidos pelas características desta crise”, disse o pesquisador ao jornal Valor Econômico, que divulgou os dados.
Segundo o economista, a tendência é que a pobreza e a pobreza extrema permaneçam em níveis mais elevados que os observados antes da pandemia, uma vez que o auxílio emergencial deve acabar e o mercado de trabalho permanecerá fragilizado por muito tempo, devido à falta de políticas públicas para reativar a economia e recuperar os empregos. Outro fator que contribui para reduzir ainda mais rendimentos já achatados é a trajetória de alta inflacionária, sem previsão de acabar.
A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, chamou a atenção para o cenário. “Brasil tem aumento generalizado da pobreza, segundo FGV. Mas enquanto o povo precisa de socorro, Bolsonaro se recusa a manter o auxílio emergencial, destrói o Bolsa Família e está muito mais preocupado em promover o caos porque sabe que vai perder em 2022”, postou a deputada federal paranaense em seu perfil no Twitter.
Brasil tem aumento generalizado da pobreza, segundo FGV. Mas enquanto o povo precisa de socorro, Bolsonaro se recusa a manter o auxílio emergencial, destrói o Bolsa Família e está muito mais preocupado em promover o caos porque sabe que vai perder em 2022 fazer seu trabalho.
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 25, 2021
Oscilação do valor do auxílio emergencial foi determinante
No ano passado, Daniel Duque foi um dos pesquisadores que constataram os efeitos do auxílio emergencial sobre a redução da miséria no Brasil. Entre maio e junho de 2020, a população em pobreza extrema (com renda inferior a US$ 1,90 por dia) caiu de 4,2% para 3,3%. O percentual de brasileiros em situação de pobreza (com renda menor que US$ 5,50 por dia) também diminuiu: de 23,8% para 21,7%.
Como resultado, os níveis de penúria foram os menores já registrados por todas as pesquisas domiciliares brasileiras. Nos anos 1980, quase 15% dos brasileiros sofriam com a pobreza extrema.
Desde que o auxílio emergencial caiu pela metade, a R$ 300 a partir de setembro de 2021, Duque observou que o número de pessoas vivendo em situação de pobreza aumentou em mais de 8,6 milhões. A proporção subiu de 18,3% em agosto para 22,4% em setembro, o equivalente a 47,395 milhões. No mesmo período, mais de 4 milhões de pessoas passaram a fazer parte da população em situação de miséria.
O economista manifestou preocupação seguidas vezes com o que iria ocorrer com parcela significativa da população brasileira quando acabasse o estado de calamidade, em 31 de dezembro, e o auxílio fosse suspenso. Os pagamentos foram retomados apenas em abril, sobre bases muito mais restritivas.
Os valores são de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375, dependendo da família, limitado a um benefício por família. Apenas 45,6 milhões de pessoas o recebem, 22,6 milhões a menos do que no ano passado, e só o recebe quem recebeu no ano passado. O benefício será pago apenas até outubro.
Da Redação