Bolsonaro desonra cargo que ocupa com preconceito e ofensas a nordestinos

Candidato associa votação consagradora de Lula no Nordeste ao analfabetismo e fomenta “efeito manada” de agressões nas redes. “Não conhece o Brasil e não tem respeito pelas pessoas”, critica Izolda Cela

O Nordeste tem memória: durante governos do PT, a Região apresentava índice de crescimento de 4,1% ao ano, enquanto o país ficou na marca de 3,3% (Imagem: Site do PT

A emenda foi pior do que o soneto. Após ofender o povo nordestino pela enésima vez, associando a estrondosa votação de Luiz Inácio Lula da Silva na região ao analfabetismo, Jair Bolsonaro amanheceu no Twitter, nesta quinta-feira (6), pedindo aos apoiadores que “não caiam em narrativas” que o indisponham com nordestinos. As recorrentes falas – e atos – contra o povo da região, porém, são auto-explicativas, e indefensáveis.

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“Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste”, apontou Bolsonaro durante transmissão eleitoral em seu canal no YouTube, nesta quarta-feira (5).

“Não é só taxa de analfabetismo alta ou mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores na região”, prosseguiu o futuro ex-presidente, alimentando ainda mais o “efeito manada” entre seu eleitorado, que desde o último domingo (2) vem atacando ferozmente os nordestinos nas redes sociais.

“O presidente dá provas evidentes do que já se sabe: ele não conhece o Brasil e não tem respeito pelas pessoas”, respondeu a governadora do Ceará, Izolda Cela, na primeira postagem de uma sequência. “Infelizmente, o analfabetismo ainda é um problema brasileiro. Ele não sabe disso porque o Governo Federal não dialoga com estados nem com municípios.”

Além de ofender os nordestinos – como faz com quilombolas, homoafetivos, indígenas, mulheres e até a memória dos mortos pela Covid-19 – Bolsonaro também mentiu descaradamente, afirmando que “esses estados do Nordeste estão há 20 anos sendo administrados pelo PT”. Em sua coluna no portal UOL, o jornalista Reinaldo Azevedo – que não é nordestino, tampouco petista – tratou de restituir a verdade.

“O governo petista mais antigo do Nordeste é o da Bahia (desde 2007)”, ressaltou Azevedo. “É, obviamente, mentira que o Nordeste esteja sendo administrado há 20 anos pelo PT. De todo modo, durante quase todo o tempo dos governos petistas, o Nordeste cresceu mais do que a média do país”, arrematou o colunista, lembrando reportagem da revista Época, de 2013, que tratava o Nordeste como a “China brasileira”.

Com Lula e Dilma, o Nordeste prosperou e foi feliz

De fato, entre 2003 e 2013, sob os Governos Lula e Dilma Rousseff, o Nordeste apresentava índice de crescimento de 4,1% ao ano, enquanto o país ficou na marca de 3,3%. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), entre 2001 e 2012, o nordestino teve o maior ganho de renda entre todas as regiões, o que fez com que a participação da base da pirâmide social caísse de 66% para 45%.

Em sentido contrário ao da precarização trabalhista promovida após o golpe de 2016, as ações dos governos petistas para a região também geraram empregos. Em 2002, apenas cinco milhões de nordestinos tinham emprego formal. Em 2013, o número havia crescido para quase nove milhões.

O resultado despontou no campo social. Em 2002, quando Lula foi eleito presidente pela primeira vez, mais de 21,4 milhões de nordestinos viviam em situação de pobreza. Em 2012, o número caiu para 9,6 milhões, conforme estudo da Fundação Perseu Abramo.

“Agora”, sob Bolsonaro e seu ministro-mascate Paulo Guedes, a pobreza e a fome reapareceram. Mas até hoje estados nordestinos lideram rankings de ensino, e o Nordeste é a região que mais avança no quesito oportunidades de educação.

O inquilino do Planalto tem extrema dificuldade em lidar com fatos. Inventa dados para camuflar a completa desqualificação para o cargo. Acreditava que, ao destinar a maior parte dos recursos da excrescência chamada “orçamento secreto” para o Nordeste, compraria os votos para se reeleger, após três anos e meio negligenciando os seres humanos que vivem na região. Vem daí a frustração, manifestada em forma de insultos.

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Mas o povo não é bobo. Nunca foi. Embora sempre se expresse coletivamente com alegria, picardia e paixão. Como na onda de piseiros e blocos que precedeu o primeiro turno das eleições e fez os votos bolsonaristas regredirem em quase todas as capitais nordestinas entre 2018 e 2002. No Nordeste, Bolsonaro nunca mais vai se criar.

Da Redação

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