Bolsonaro despreza Consciência Negra e diz que é ‘coitadismo’
Presidente eleito não emitiu nenhum comunicado sobre a importância da data; durante a campanha, ele negou escravidão e a consequente dívida histórica
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Jair Bolsonaro (PSL) não acredita na Consciência Negra. O presidente eleito não sabe o que foi a Escravidão e tampouco acredita nos seus efeitos na formação da sociedade brasileira. Tanto é que durante sabatina no Roda Viva da TV Cultura, ainda durante o período eleitoral, ele negou haver alguma dívida histórica com as comunidades negras. Por isso, o dia 20 de Novembro já se passou e Bolsonaro não emitiu nenhum comunicado sobre a importância da data.
“Que dívida histórica é essa que temos com os negros? Eu nunca escravizei ninguém na minha vida (…) O negro não é melhor do que eu, e nem eu sou melhor do que o negro”, declarou Bolsonaro à época.
O secretário nacional de Combate ao Racismo do PT, Martvs Chagas, revelou que o desprezo de Bolsonaro pela Consciência Negra já não surpreende. “Mais grave do que a falta de comentário do presidente eleito sobre a Consciência Negra é o que ele já disse sobre a população negra e sobre os quilombolas. Quando Bolsonaro diz que não enxerga cores, ele quer comparar pessoas completamente diferentes, com origem e culturas diferentes, de forma igual e isso é um descalabro. Se você tratar os desiguais de forma igual, você perpetua a desigualdade”, critica Chagas.
Para o presidente eleito, as políticas sociais que visam diminuir as desigualdades raciais não passam de “coitadismo” e precisam acabar. “Isso não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro“, disse durante a campanha.
As declarações racistas de Bolsonaro impressionam ainda mais se lembrarmos que ocorreram mesmo após ele ter sido condenado a pagar R$ 50 mil por danos coletivos, por ter afirmado, sobre uma comunidade quilombola, que “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas” e que “não fazem nada, eu acho que nem pra procriar servem mais”.
Ódio à população negra e retrocesso
Chagas revelou que o governo de Bolsonaro representará um retrocesso em todas as conquistas do Movimento Negro no Brasil. Segundo o secretário, as medidas do presidente eleito vão reduzir o poder aquisitivo que a população negra conseguiu nos últimos anos, levando-a para a “linha da marginalidade, para o o mais baixo estrato da pirâmide social brasileira”.
“Estamos muitos preocupados, pois Bolsonaro representa um retrocesso na emancipação da população negra, que vinha ocorrendo com os programas sociais. Ao dizer que vai colocar educação à distância no ensino fundamental, armar a população e reduzir ainda mais os direitos trabalhistas, ele atinge frontalmente a população negra”. apontou Chagas.
Ao que parece, o desprezo do presidente eleito pelas comunidades Quilombolas vem de família. O empresário Theodoro da Silva Konesuk, cunhado de Bolsonaro, invadiu terras quilombolas e as utilizava para criação de gado. Em 2013, a juíza Gabriela de Oliveira Thomaze determinou que a área fosse devolvida para o quilombo do bairro Galvão, em Iporanga. Somente em setembro deste ano Theodoro devolveu as terras, mas mandou seus funcionários ao local para que destruíssem as cercas e plantações de banana feitas pelos quilombolas.
Os próximos quatro anos serão de muita preocupação para a população negra, de acordo com Chagas. “É um momento de angústia, essa é a palavra certa. Mas essa angústia certamente seguirá como resistência. Somos herdeiros dos africanos escravizados e sabemos que foi feito todo um preparativo para acabar com essa raça, como diz a direita. Mas conseguimos resistir, os negros e negras do Brasil conseguiram resistir, se aquilombaram e se organizaram nas religiões e culturas. Devemos isso aos nossos ancestrais, essa capacidade de resistência e superação, é o que vamos fazer”, finaliza Chagas.
Da Redação da Agência PT de Notícias