Bolsonaro diz que “esperança é a última que morre” e aposta na judicialização da eleição nos EUA
Aliado de Trump para entronar presidente o golpista Juan Guaidó na Venezuela, Bolsonaro sinaliza apoiar a resistência judicial de seu ídolo político. Segundo o jornalista Jamil Chade, a orientação para o Itamaraty é não reconhecer a vitória de Joe Biden, mesmo que atinja os 270 votos do colégio eleitoral, que garante a vitória de um dos candidados
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O bolsonarismo entrou em curto-circuito diante da iminente derrota de seu ídolo, Donald Trump, na matriz do Império. “A esperança é a última que morre”, lamuriou Bolsonaro no cercadinho do Palácio do Planalto, na quarta-feira (4). Para o filho e ex-futuro embaixador nos EUA, Eduardo Bolsonaro, a culpa “é da esquerda”, segundo ele, “bem organizada em nível mundial”. E, preocupado, emendou que o “que acontece lá pode se repetir aqui”. A posição reproduz o comportamento de alinhamento automático do atual governo Bolsonaro à administração Trump.
Aliado de Trump para entronar presidente o golpista Juan Guaidó na Venezuela, Bolsonaro sinaliza apoiar a resistência judicial de seu ídolo político. “Parece que foi judicializado o negócio lá, um Estado ou outro, vamos esperar um pouquinho”, disse também na quarta-feira. Segundo o jornalista Jamil Chade, a orientação para o Itamaraty é não reconhecer a vitória de Joe Biden, mesmo que atinja os 270 votos do colégio eleitoral, que garante a vitória de um dos candidatos, a ser referendada pelo Congresso em janeiro. O contrário ocorreria apenas no caso do próprio Trump reconhecer a derrota.
A inédita e desastrosa postura internacional do governo brasileiro de alinhamento incondicional a Donald Trump é duramente criticada pelo ex-chanceler Celso Amorim. “O modelo de atitude, de estilo, de personalidade [de Trump] é também o modelo dos valores básicos, ao meu ver absurdos, que ele prega”, disse Amorim, antes da abertura das urnas, na terça-feira. “Essa é uma eleição na qual os valores básicos estão em jogo e isso terá uma influência no mundo inteiro, principalmente nos países que têm o atual presidente americano como modelo”, advertiu o ex-chanceler brasileiro.
A tentativa golpista de Trump apoiada por Bolsonaro está sendo contestada por expressivas lideranças do Partido Republicano. O líder do partido no Senado, Mitch McConnell, e o senador Marco Rubio, ambos da extrema-direita norte-americana, questionaram a declaração antecipada de vitória feita por Trump e criticaram suas acusações de fraude. O líder republicano no Senado afirmou que “uma coisa é dizer que ganhou as eleições e outra é dizer que não se deve continuar a contagem de votos”. Para Rubio, “contar votos emitidos legalmente não é fraude”.
A posição adotada por Trump nos Estados Unidos já foi usada por Bolsonaro durante sua eleição em 2018, quando afirmou que somente uma “fraude” impediria a sua vitória. Enquanto Trump questiona o voto pelo correios norte-americano, Bolsonaro duvidava da segurança e da legitimidade das urnas eletrônicas no Brasil. No caso dos Estados Unidos, a acusação de fraude da votação pelo correio justifica a estratégia da campanha de Trump de impedir a contagem dos votos. A votação antecipada pelo correio foi estimulada pela campanha democrata, enquanto a campanha dos republicanos apostou no voto no dia 3, terça-feira.
Da Redação