Copiando seu guru Bannon, Bolsonaro compra ideia de conspiração chinesa

Enquanto Bolsonaro recusa vacina chinesa, cresce teoria da conspiração sobre criação do coronavírus em laboratório chinês. Estrategista de Trump, Steve Bannon está por trás da teoria sem base científica

Sem qualquer base científica, Bolsonaro recusou nesta semana a CoronaVac, colocando em risco a vida de milhões de brasileiros. Os motivos para recusar a vacina produzida pela empresa chinesa Sinovac são rasos, sustentados meramente por birra ideológica, sem qualquer resquício de ciência. A decisão, contudo, não parece movimento isolado, mas em sincronia com Steve Bannon, seu guru, e a extrema-direita norte-americana.

Em meados de setembro ganhou notoriedade na imprensa dos Estados Unidos Li-Meng Yan, uma virologista chinesa que afirmava que o coronavírus foi desenvolvido em laboratórios e intencionalmente espalhado pelo mundo, como uma arma biológica. O artigo de Yan foi logo refutado pelas maiores autoridades científicas, como o Johns Hopkins Center for Health Security.

No estudo sem fundamento, constavam duas instituições indicadas como afiliações ou financiadoras: Rule of Law Society e Rule of Law Foundation. As duas foram criadas por Steve Bannon, principal estrategista de Trump e conselheiro da família Bolsonaro, e Guo Wengui, bilionário chinês. Foi no iate de Guo que Steve Bannon foi preso por fraude.

Reportagem da CNN mostrou que trechos da pesquisa de Yan foram extraídos de uma postagem anônima do site G News, também ligado a Guo e Bannon. Não bastasse isso, três dos coautores de Yan são pseudônimos, prática muito incomum na ciência, pois reduz a credibilidade do estudo, revelou a CNN.

Em entrevista à rede norte-americana, a virologista da Universidade de Columbia Angela Rasmussen disse que o estudo de Yan é frágil para quem tem algum conhecimento científico na área e tem um propósito essencialmente de propaganda política.

Bannon e Guo seguem espalhando, ainda assim, a teoria de que o coronavírus é uma arma biológica chinesa e afirmaram que a China deliberadamente infectou o presidente dos EUA, Trump.

O discurso conspiracionista e de negação da ciência baseada em evidências ecoa no Brasil. Bolsonaro afirmou que a vacina da China tem um descrédito muito grande “porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido lá”. Para atacar a China, Bolsonaro baseou-se em mentiras. Aliás, segundo a agência de checagem Aos Fatos, Bolsonaro já deu ao menos 710 declarações falsas sobre o novo coronavírus.

É mentira que nenhum outro país do mundo se interessou pela CoronaVac. Chile, Indonésia e Turquia já demonstraram interesse em adquirir ou testar a vacina. Bolsonaro ainda falou que não gastaria bilhões com uma vacina que não saiu da fase de testes, mas assinou acordo de quase R$ 2 bilhões para produzir a vacina de Oxford, ainda sem eficácia comprovada. O que orienta o governo não são as evidências científicas, muito menos o interesse da população com a saúde em risco, mas sim seus interesses e jogos ideológicos.

Com isso, espalham-se as mais absurdas mentiras sobre China, vacina e coronavírus. Não é verdade que a população da China já estava vacinada contra a Covid-19 e por isso não fez lockdown, nem que a China comprou vacina da Suécia porque aquela testada em São Paulo não funciona. Por fim, vale ressaltar: a vacina também não causa dano genético irreversível, não é feita de fetos de bebês abortados, não “causa homessexualismo”, nem implantará um chip 5G nas pessoas.

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