Bolsonaro quer tirar ensino superior do MEC e demolir a Educação
Ao retirar ensino superior do MEC, Bolsonaro desmantela atuação sistêmica da educação na formação de professores e definição de diretrizes básicas
Publicado em
Bolsonaro já criticou uma suposta “tara” dos jovens brasileiros por diploma universitário. Antes de eleito, ele revelou seus planos de cobrar mensalidade nas universidades federais. Agora, o governo do PSL planeja o golpe final na Educação de ensino superior. Com anúncio do astronauta Marcos Pontes paro o Ministério da Ciência e Tecnologia, Bolsonaro quer tirar do Ministério da Educação (MEC) a responsabilidade sobre as universidades do país.
A alteração representaria uma quebra no sistema educacional, segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, nesta quarta-feira (31). A mudança esvaziaria o orçamento do MEC, uma vez que o ensino superior – incluindo instituições federais, hospitais universitários, ProUni e Fies – representou 64% do gasto primário em educação em 2017, de acordo com relatório do Tesouro Nacional. Bolsonaro, inclusive, já anunciou que não pretende ampliar o orçamento da Educação, segundo a Folha.
A retirada do ensino superior do MEC vai dificultar a articulação com a educação básica e ações de reformulação dos cursos de formação de professores. A educadora Maria Helena Guimarães de Castro, que já foi secretária-executiva do MEC e presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), explica que a transferência para a Ciência e Tecnologia traria dificuldades na regulação do ensino superior privado e na articulação de políticas para professores.
A especialista lembra que a maior parte dos professores do país, que atuam na educação básica, se formam em instituições privadas de ensino superior. “Todo programa de formação está e precisa estar articulado com diversos órgãos do Ministério da Educação, em conversa com estados e municípios, onde estão os professores”, disse Helena à Folha.
Atuação sistêmica comprometida
Atualmente, a Lei 13.502, aprovada em 2017, institui que o MEC tem responsabilidades que vão da educação infantil à pós-graduação, o que confere, segundo especialista, uma atuação sistêmica sobre a Educação, fazendo as articulações necessárias.
Sob pretexto de investir na educação básica, por sua vez, Bolsonaro quer desmantelar o sistema de educação do país. Contraditoriamente, o governo do PSL quer implementar o ensino à distância desde o ensino fundamental, acabando com a socialização dos alunos, merenda, salários dos professores e dificultando a vida dos pais, principalmente das mães, que precisa trabalhar fora.
A atuação sistêmica do MEC na Educação ficará comprometida na reformulação dos cursos de formação de professores. Tais reformulações dependem da interação entre as instituições de ensino superior e as políticas de educação básica, como a Base Nacional Comum Curricular.
Toma lá, da cá de responsabilidades
O governo Bolsonaro não parece ter planos muito claros para o MEC. Se por um lado ele quer esvaziar o ministério, por outro quer incorporar outras responsabilidades. A equipe do PSL indicou que planeja incorporar os ministérios da Cultura e Esporte ao da Educação.
Ainda segundo a reportagem da Folha, há dúvidas sobre o posicionamento de órgãos ligados ao MEC, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que atua tanto na educação básica quanto na educação superior. O FNDE é responsável por transferências de recursos para escolas e redes como para o Fies (Financiamento Estudantil). A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) também tem atuação na educação básica.
Outra confusão que a mudança pode causar, é em relação as competências constitucionais na Educação. As escolas de educação básica estão sob responsabilidade de municípios e estados. O MEC atua na indução de políticas educacionais, como currículo de alunos, formação de professores e distribuição de recursos.
A grande maioria das instituições de ensino superior não fazem pesquisa científica, com exceção das grandes universidades. Com isso, não há sentido a vinculação ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Por fim, o ensino superior privado é avaliado e regulado por diferente secretarias do MEC, como Inep e Capes. Mas para Bolsonaro, está tudo bem. Não precisamos ter “tara” por diploma universitário.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Folha de S.Paulo