Bolsonaro tenta intimidar Congresso com tanques, mas democracia resiste

Parlamentares rechaçam desfile de blindados na Esplanada dos Ministérios no dia em que Congresso analisa voto impresso. Partido dos Trabalhadores cobra explicações de ministro da Defesa

Desde 1988, a Marinha do Brasil realiza na cidade de Formosa (GO) um treinamento que leva o nome da cidade a 500km de Brasília. Neste ano, porém, pela primeira vez, segundo nota oficial da Força, a operação contará com a participação do Exército e da Aeronáutica e incluirá um desfile de blindados e armamentos em frente ao Palácio do Planalto e, consequentemente, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

O tal desfile foi agendado para esta terça-feira (10), com o pretexto de se entregar a Jair Bolsonaro e seu ministro da Defesa, Walter Braga Netto, o convite para que os dois acompanhem o treinamento, que reunirá mais 2 mil homens em plena pandemia, no próximo dia 16.

Quem conhece minimamente Bolsonaro, no entanto, percebeu uma evidente tentativa de, mais uma vez, utilizar as Forças Armadas para intimidar os demais Poderes no momento em que o atual presidente repete ameaças antidemocráticas e pressiona pela aprovação do voto impresso, que Arthur Lira, de maneira absurdamente submissa, levará à analise do Plenário no mesmo dia em que os tanques desfilarão na Esplanada dos Ministérios.

“Bolsonaro quer intimidar o Congresso Nacional fazendo desfile de blindados na Esplanada amanhã? O país numa grave crise e vão mobilizar gente e equipamento, gastando dinheiro publico para satisfazer sua índole autoritária?! E as Forças Armadas vão aceitar isso?!”, cobrou a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), presidenta nacional do PT.

O partido, inclusive, prepara um requerimento de informação ao ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Por que o ato foi anunciado de última hora e coincide com a votação do voto impresso, qual será o custo com diárias e combustíveis e quais comandantes estão envolvidos são algumas das perguntas feitas pela bancada do PT na Câmara, que não descarta a possibilidade de acionar o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público.

A também deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) apontou o dedo diretamente à ferida de Bolsonaro, anotando que ele só tenta, com esse gesto, encenar uma força que não tem: “É um absurdo o que o Bolsonaro está fazendo hoje. Tentando intimidar e usando as forças armadas para demonstrar uma falsa força. Vamos lutar para que o voto impresso NÃO passe e continuaremos na luta até o Brasil se livrar desse psicopata.

Também da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara, Carlos Zarattini (SP), acrescentou ao raciocínio de Benedita que Bolsonaro apela para os blidados por estar fraco como nunca esteve. “Será que muita gente vai cair nessa que o desfile militar de Bolsonaro significa apoio das Forças Armadas às suas loucuras autoritárias? Usar as Forças pra se reforçar quando está cada vez mais fraco no povo pode ter efeito contrário”, avaliou.

Lula vê medo em Bolsonaro

No fim de semana, o presidente Lula analisou, em entrevista à imprensa alemã, que Bolsonaro age cada vez mais movido pelo medo, pois percebe que, se não sofrer o impeachment, será derrotado nas eleições e, depois disso, poderá ser julgado, tanto pelo genocídio que praticou e pratica na pandemia quanto pelo envolvimento em esquemas de corrupção na negociação de vacinas.

Graças à entrega de mais e mais poder ao Centrão e ao apoio que tem de parte da elite econômica, com a destruição dos direitos trabalhistas e empresas públicas, Bolsonaro tem conseguido evitar o impeachment. Como as urnas ele não consegue comprar com cargos e orçamentos paralelos, resta ele atacar as eleições e ameaçar a democracia.

Aqueles que não abrem mão da democracia, porém, não se deixarão intimidar. É como bem ressaltou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA): “Bolsonaro afronta o Brasil e convoca tanques de guerra para as ruas no dia previsto para votação da PEC do voto impresso. A democracia não será intimidada!”

Da Redação

 

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