Bolsonaro, vilão internacional dos direitos humanos
Após a Human Rights Watch chamá-lo de sabotador, a Coalizão Solidariedade Brasil lança a segunda edição de seu Barômetro denunciando a “explosão” dos índices de direitos humanos. “Bolsonaro e seu governo são uma verdadeira calamidade para o país, seus cidadãos e para o planeta”, conclui Erika Campelo, integrante do coletivo
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O solapamento dos direitos humanos levado a cabo pelo desgoverno Bolsonaro é mais uma vez exposto à opinião pública internacional, uma semana depois de a organização Human Rights Watch acusar o presidente de sabotar o combate à crise do coronavírus. Desta vez, foi a Coalizão Solidariedade Brasil que promoveu um evento-protesto em frente à Embaixada do Brasil em Paris, na manhã desta terça (19), para divulgar a segunda edição do ‘Barômetro de Direitos Humanos no Brasil’.
Os manifestantes lançaram uma fumaça negra e seguraram cartazes com os dizeres: “Solidariedade com o Brasil que resiste” e “Alerta às violações dos direitos humanos”. O documento, que integra a campanha ‘O Brasil resiste – Lutar não é um crime’, foi entregue na embaixada aos representantes do Brasil na França. Também foi enviado para a imprensa europeia e todos os deputados e senadores franceses, além de todos os deputados francófonos e lusófonos do Parlamento Europeu.
Produzido por entidades que atuam na França e possuem parceiros brasileiros, como Greenpeace, Autres Brésils e France-Amérique Latine, o barômetro é uma análise de 11 temas de fundo social. Entre tantos crimes e perversões cometidos por agentes do Estado sob anuência e estímulos insidiosos do “chefe da Nação”, o documento denuncia a deterioração da cidadania no país como um todo já na metade desta era Bolsonaro.
“O barômetro de alerta é um relatório que explica como todos os índices de direitos humanos e degradação do meio ambiente estão explodindo no Brasil”, relatou à agência ‘RFI’ Erika Campelo, co-presidente da associação Autres Brésils. “Bolsonaro e seu governo são uma verdadeira calamidade para o país, seus cidadãos e para o planeta.”
“Ecologicamente, a Amazônia atingirá um ponto de não retorno em menos de três anos, as políticas federais destruindo-a como nunca antes. Socialmente, a violência policial também está atingindo um nível alarmante, revelando total impunidade”, segue Erika. “Neste contexto, a gestão da pandemia é caótica e Bolsonaro continua a negá-la.”
Segundo a militante, a ideia é sensibilizar políticos franceses e europeus sobre como a política de Bolsonaro está acabando com o Brasil e os brasileiros, com repercussões em todo o planeta. “Quando você acaba com a biodiversidade, você assassina a Amazônia, você deixa desmatar, você não deixa a floresta se regenerar, está-se então atingindo a biosfera do planeta todo”, argumenta a co-presidente da associação Autres Brésils, criada em 2002.
“Outro índice preocupante do relatório é o número de homicídios, que explodiu no Brasil em 2020, sendo que, entre os assassinados, 79% são negros. Existe um problema não apenas de racismo estrutural, mas de impunidade no país”, aponta Erika.
O barômetro mostra que o número de mortos pela polícia cresceu 6% no primeiro semestre de 2020, em relação ao mesmo período de 2019. Os feminicídios cresceram quase 2%, enquanto apenas os assassinatos de pessoas trans subiram 47% no ano passado – metade das pessoas mortas entre grupos LGBTQI+ no mundo é de brasileiros.
O documento também relata que, entre janeiro e outubro de 2020, foi registrado um ataque por dia de Bolsonaro à imprensa. E indica que invasões de territórios indígenas, comunidades ribeirinhas e quilombolas cresceram 1.800% no ano passado.
O avanço da fome é outra preocupação. “Gostaria de destacar a questão da segurança alimentar no Brasil hoje. O problema das pessoas que não têm o que comer todos os dias, ou que não sabem se poderão fazer três refeições, é muito grave. É impressionante o número de famílias brasileiras que estão nesta condição”, espanta-se a ativista.
“Nesta segunda edição do barômetro, a gente anuncia 43 milhões de pessoas em estado de insegurança alimentar. Ou seja: 20% da população brasileira hoje não sabe se vai poder almoçar e jantar todos os dias. Destes, 15 milhões passam fome, pura e simplesmente, o que corresponde a 6% dos brasileiros”, calcula Erika.
Desgoverno transforma Acordo Europa Mercosul em alvo de campanha
Ostentado como a única vitória diplomática em tempos de Ernesto Araújo no comando do Itamaraty, o Acordo de Livre Comércio Europa/Mercosul é alvo de campanha da Coalizão. “Pedimos aos deputados franceses e aos eurodeputados que não ratifiquem esse acordo, que ajudaria a intensificar o desmatamento e a endossar o fim dos direitos sociais e dos trabalhadores no Brasil”, afirma Erika.
“Esse acordo vai contra os direitos do meio ambiente. Temos a opinião pública francesa e europeia agora do nosso lado, vencemos essa batalha por essa narrativa. Os deputados nacionais dos países europeus estão muito sensíveis a essa questão”, comentou a militante, adiantando: “Em fevereiro vamos encontrar novamente os eurodeputados e os parlamentares franceses com esta segunda edição do barômetro de alerta para mostrar como é importante não ratificar o acordo”.
A Coalizão Solidarité Brésil foi criada em dezembro de 2018, a partir de uma convocação da Autres Brésils. “Convocamos organizações parceiras que já trabalhavam há anos com brasileiros, o que chamamos aqui na França de Solidariedade Internacional. Sabíamos então já naquela época que o desastre seria iminente e muito grande”, conta Erika Campelo.
O coletivo é um ponto de discussão e de ação coletiva pela defesa da democracia e dos direitos humanos e ambientais no Brasil. Em janeiro de 2020, lançou a campanha ‘Le Brésil resiste, lutter n’est pas um crime’ (O Brasil resiste, lutar não é crime).
O barômetro é uma cartografia das categorias sociais criminalizadas no Brasil: povos indígenas, comunidades camponesas, sem-terra, afro-descendentes, pessoas LGBTQI+, mulheres etc. As conclusões do documento confirmam o crescimento da violência contra defensores/as de direitos e diversas categorias sociais excluídas nos últimos anos.
Os dados coletados são fruto de análises e de relatórios produzidos pelas organizações brasileiras e pelos movimentos sociais parceiros. O texto resulta de estudos e pesquisas, além de experiências vividas pelas organizações, que realizam cotidianamente um trabalho de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente.
“A partir do primeiro relatório, lançado em janeiro de 2020, fomos convidados por cinco deputados franceses e organizamos um colóquio no Parlamento em Paris para apresentar, por temáticas, toda a destruição do Brasil por esse governo irresponsável, ou por esse desgoverno, como costumamos dizer”, conclui Erika Campelo.
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Da Redação