Brasil em chamas: “Bolsonaro é o responsável”, denuncia Gleisi
Em entrevista à CNN Brasil, nesta quarta-feira (18), presidenta nacional do PT defendeu a pronta resposta do governo Lula, os mais de 50 inquéritos abertos pela PF e destacou as recentes ameaças fascistas de incendiar o país
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A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), responsabilizou Jair Bolsonaro pelos incêndios que se alastram pelo país e destacou o esforço do governo Lula para reverter a destruição da estrutura destinada a prevenir e enfrentar emergências dessa natureza, promovida pelo ex-presidente. Esse foi um dos assuntos tratados nesta quarta-feira (18) durante entrevista ao programa Bastidores CNN.
Gleisi denunciou a participação da extrema direita em uma ação coordenada para incendiar o país, com o objetivo de desestabilizar o governo Lula e apagar as digitais de Bolsonaro no processo de destruição ambiental.
“A direita não tem nenhum motivo pra politizar e não devia nem estar discutindo esse assunto, porque a responsabilidade do que nós estamos vivendo hoje foi do governo da extrema-direita”, enfatizou a presidenta do PT.
” Vamos lembrar aqui o que o Bolsonaro fez. Bolsonaro entrou falando contra a questão ambiental. Ele tinha um ministro do meio ambiente que dizia que tinha que liberar a boiada, deixar passar tudo, flexibilizar a legislação. Eles enfraqueceram o Ibama, fecharam o ICMP, enfraqueceram o IMP. Ele se vangloriou de não fazer concurso público pro pessoal do Ibama. Tem registro disso, tem ele falando essa situação”, acrescentou a parlamentar.
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Gleisi lembrou do ato terrorista que ficou conhecido como o “dia do fogo”, em 2019, quando latifundiários bolsonaristas incendiaram o país em apoio ao retrocesso promovido por Bolsonaro na área ambiental.
“Teve apoio aí de um monte de agricultores atrasados, que fizeram o dia da queimada em 2019, acho que vocês lembram disso, para dar apoio às medidas contra o meio ambiente que o Bolsonaro estava tomando”, pontuou Gleisi.
A deputada também recordou que, durante a convocação para o ato fascista do 7 de setembro, na Avenida Paulista, um dos slogans era “O Brasil vai pegar fogo”.
“Então, é gente que não tem compromisso com a questão ambiental. O país foi desaparelhado de tudo que tinha. Vamos lembrar aqui que, no último governo da presidenta Dilma [2016], nós tínhamos a menor taxa de desmatamento da Amazônia”, disse Gleisi.
“Depois veio o Bolsonaro, e nós sabemos o que aconteceu. O que eu estou dizendo aqui é o óbvio, que ele dizia que não tinha compromisso nenhum com essa questão ambiental. E nós pegamos o país totalmente desestruturado. Aliás, fizemos agora um concurso público também para o Ibama, para os órgãos de fiscalização ambiental, que foi muito importante, mas você não reestrutura algo em tão curto espaço de tempo. Eu acho que tem muitos esforços do governo federal nesse sentido, e a gente já conseguiu reduzir o desmatamento na Amazônia”, ressaltou a presidenta do PT.
Terrorismo
Gleisi destacou ainda a firme atuação da Polícia Federal, que já instaurou mais de 50 inquéritos para identificar e responsabilizar os autores das queimadas.
“Como disse a ministra Marina Silva [Meio Ambiente e Mudança do Clima], nós temos um terrorismo ambiental, e isso está acontecendo em vários lugares do Brasil. É preciso investigar isso profundamente, e eu acho que a Polícia Federal tem feito um excelente trabalho. Já tem mais de 50 inquéritos abertos, é preciso investigar profundamente e chegar aos responsáveis”, declarou.
Ainda durante a entrevista, a presidenta do PT elogiou a pronta resposta do governo Lula ao problema das queimadas, que incluiu a articulação com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso para que a emergência das queimadas seja tratada como uma pauta do Estado brasileiro. “Eu acho que o presidente tem feito todos os esforços para enfrentar esse problema, inclusive chamando os poderes, agora os governadores, e se virando para ter recursos”, disse.
Gleisi elogiou a decisão do ministro do STF Flávio Dino de autorizar a abertura de créditos extraordinários para o combate às queimadas, sem que os recursos sejam contabilizados nas metas fiscais do governo. A parlamentar destacou que não havia verbas suficientes para essa finalidade.
A deputada disse ainda que a decisão do ministro foi muito importante em razão da inércia do Congresso diante da onda de incêndios.
“A Câmara e o Senado poderiam ter, inclusive, tomado iniciativas nesse sentido. Estão vendo o país pegar fogo. Por que não tomam iniciativa no sentido também de dispor de crédito, de dizer, ‘olha vamos aprovar um crédito extraordinário, não precisa entrar no superávit primário, a gente vai fazer um esforço’. Foi assim que nós fizemos na pandemia. Fizemos um esforço imenso na pandemia”, lembrou Gleisi.
As amarras do ajuste fiscal
Gleisi também ressaltou que a onda de incêndios é mais uma oportunidade para se comprovar o equívoco dos defensores do Estado mínimo e da redução dos investimentos públicos. “Para fazer prevenção ambiental se gasta, sim, para fazer combate a desastres naturais, se gasta sim. Olha o que foi feito no Rio Grande do Sul. Também foi feita uma excepcionalidade orçamentárai e se gastou, e nem por isso o país ficou desestabilizado”, afirmou.
“Então fica esse negócio de impor ao governo, impor ao Executivo, até por parte do Congresso, do sistema financeiro, da mídia, de que tem que fazer economia, e a gente tem situações como essas. Agora graças a Deus o ministro Flávio Dino deu uma deliberação de que pode gastar o que for necessário para enfrentar os incêndios”, acrescentou a presidenta do PT.
Reunião do Copom
Outro assunto da entrevista foi a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que vai definir, nesta quarta-feira (18), como ficará a taxa básica de juros (Selic), atualmente no elevado patamar de 10,50% ao ano, com prejuízos aos investimentos das empresas e também aos consumidores.
Gleisi voltou a criticar a atuação do BC, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, sobretudo pelo fato de a inflação estar sob controle. Sobre a pressão dos especuladores do mercado para que haja um aumento da Selic, a parlamentar afirmou que a decisão mais sensata seria cortar os juros.
“Não vejo nenhuma necessidade, não tem justificativa aumentar a taxa de juros no Brasil. Nós já estamos com uma taxa altíssima, um dos países que tem a taxa mais alta de juros”, declarou a presidenta do PT. “Nós temos baixar a taxa de juros”.
Gleisi prosseguiu, criticando o fato de o BC cobrar o equilíbrio das contas do governo e, ao mesmo tempo, levá-lo a gastar cifras exorbitantes com o pagamento dos elevados juros da dívida pública.
“Que jogo é esse? Que jogo é esse para o desenvolvimento do país? Não tem justificativa. Se nós tivéssemos uma inflação descontrolada, nós não temos inflação descontrolada. Aliás, a nossa inflação nem atingiu a banda superior da meta, que é 4,5 [%]. Então, não tem crise inflacionária. Não tem que apertar juros para chegar a 3 [%], e aí nós vamos fazer o que? Pôr um torniquete no país?”, questionou a parlamentar..
“Vamos deixar de investir em educação? Deixar de investir em saúde? Deixar de investir em meio ambiente? Aí os ambientalistas vão cobrar o presidente Lula que ele não tem orçamento para o meio ambiente? Tem que cobrar o Banco Central. Se todo mundo nos ajudar a fazer uma campanha contra essa política do Banco Central de aumento de taxas de juros, manutenção de taxas de juros estratosféricos, vai sobrar mais recursos para a gente ter no orçamento”, disse.
A deputada prosseguiu: “Em cada ponto percentual que aumenta de taxa de juros, são bilhões de reais. É um escândalo isso. O Brasil está com todos os pressupostos macroeconômicos muito bons: nós vamos crescer mais de 3% do PIB este ano, a gente tem uma inflação sob controle. Aumentamos o número de empregos, a renda média das pessoas cresceu. Por que a gente não pode ajudar um pouco o Brasil?”
Autonomia do BC
Na entrevista, Gleisi voltou a criticar a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso durante o governo Bolsonaro.
“Nós somos contra a autonomia do Banco Central. Se quiser ter mandato, pode até ter, mas tem que ser dentro do mesmo mandato do presidente da República. Não pode um presidente da República conviver com um presidente do Banco Central de outra linha econômica. O Banco Central é uma autarquia. Qual a justificativa de ter autonomia, uma autarquia, que é o banco do Tesouro, que cuida das relações com os demais bancos? Não tem nenhuma justificativa”, questionou a presidenta do PT.
Gleisi também apontou uma contradição ao falar sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que concede autonomia financeira ao Banco Central. Segundo ela, Campos Neto quer se ver livre das amarras das restrições fisicias que ele próprio defende.
“O Banco Central, muito engraçadinho, está com uma proposta de ter autonomia financeira. Sabe o que eles querem? Sair do orçamento da União para não entrar no superávit primário. Porque eles querem aumentar o salário e aumentar os recursos. Então, eles que acham que tem que ter superávit primário, que tem que ter arroxo nas contas da União, querem sair fora”, disse. “É muito engraçado isso. Então eu sou contra, eu acho que a gente teria que rever. Sei que não tem correlação política para isso no Congresso. E, infelizmente, eu acho que isso depõe contra a política econômica vencedora nas urnas”, enfatizou.
Da Redação