Brasil tem 70% de chance de entrar em recessão técnica, alerta economista

José Luis Oreiro explicou em entrevista ao El País que a desastrosa política econômica de Bolsonaro retira dinheiro da economia e agrava situação fiscal

É quase certo que no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PSL) o Brasil vai entrar em recessão técnica. O termo é usado quando dois trimestres consecutivos registram queda do Produto Interno Bruto (PIB) e a chance de que isso aconteça ainda no início de 2019 é de até 70%. Essa foi a avaliação do economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB) em entrevista concedida ao El País nesta segunda-feira (27).

Ele defende ainda que não há expectativa de melhora do quadro, pois considera que a desastrosa política adotada por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, vão na contramão do desenvolvimento.  A solução, para o economista, seria retomar o investimento público, que está no patamar mais baixo dos últimos 30 anos, não retirar recursos.

“Quando a economia está em recessão, o governo não tem que cortar o investimento, isso só piora as coisas. Dessa forma, ele reduz ainda mais o nível de atividade, a arrecadação de impostos cai, o que acaba piorando o déficit das contas públicas”, explica. Um exemplo disso, é a reforma da Previdência que, ao acabar com um dos principais instrumentos de distribuição de renda do país, tira dinheiro da economia de forma desastrosa.

“Não faz nenhum sentido introduzir um regime de capitalização. Devido aos custos de transição, ele só pioraria as contas do Governo. Se implementado, aí sim veremos o que é uma crise fiscal. Dez vezes pior do que a de agora, não faz sentido. Todo mundo sabe disso, menos o Paulo Guedes”, critica.

Leia um trecho da entrevista

Acha que a aprovação da reforma pode contribuir de forma contundente para retomar a confiança de empresários e investidores (mantra repetido por muitos especialistas e pelo Governo) e ajudar o país a retomar a rota de crescimento?

Não. Isso não gera demanda, você está cortando gastos que vão acontecer no futuro. Ou que iriam, caso a reforma não fosse aprovada. Porém, isso não gera um centavo a mais para aumentar investimento público. E, sem o aumento do investimento público, não há como sair dessa armadilha que a gente se colocou.

Sobre a confiança, não existe nenhuma evidência empírica a respeito da chamada contração fiscal expansionista. Inclusive, os efeitos da reforma já estão precificados nos ativos, no dólar e na Bolsa. Então, você não vai ter ganhos significativos com a aprovação das mudanças no regime de aposentadoria. […]

Qual o projeto econômico adequado neste momento para o Brasil sair dessa estagnação?

O que precisa ser feito é uma coordenação entre a política fiscal e monetária e isso pode ser feito por intermédio do Conselho Monetário Nacional. Que agora nem sabemos mais como está. Ele era formado pelo ministro da Fazenda, do Planejamento e o presidente do BC. Agora o Paulo Guedes acumula a função da Fazenda e do Planejamento.

O Banco Central poderia reduzir a taxa de juros de 6,5% para 5%. Ao reduzir, diminui o custo de rolagem da dívida pública. Essa redução geraria uma economia de aproximadamente 30 bilhões de reais, justamente o que o Governo contingenciou em abril, do orçamento da União. Você abriria espaço para descontingenciar o orçamento federal e, com isso, evitar uma queda ainda maior do investimento público. Acho que essa seria uma medida muito simples, não é radical e todo mundo entenderia se o ministro da Fazenda tivesse serenidade de explicar isso para a população e o mercado.

Agora, infelizmente, o Governo não tem essa percepção. Na minha avaliação, na verdade, a situação que chegamos agora foi pensada pelo próprio Governo. A equipe econômica quis criar um cenário de caos para dizer à população e ao Congresso que não há outra alternativa a não ser fazer a reforma da Previdência do jeito que o Governo encaminhou, sem muita discussão. Isso foi uma estratégia deliberada do Governo. A equipe econômica quis criar um cenário de caos para dizer a população e para o Congresso que não há outra alternativa a não ser fazer a reforma da Previdência

Mas o senhor acredita que eles colocariam propositalmente o país em um cenário de catástrofe econômica para conseguir aprovar a Previdência?

Aí tem um pouco da personalidade do Paulo Guedes, que é jogador de poker. Ele trucou, fez essa estratégia arriscada, que não vingou, mas que se funcionasse ele conseguiria aprovar a reforma dos sonhos deles. Mas não funcionou porque a sociedade brasileira está querendo discutir os detalhes da reforma. Está cada vez mais claro que há aspectos problemáticos, o Congresso tem consciência disso e vai mudar.

Leia a entrevista completa no El País

Da Redação  da Agência PT de Notícias com informações do El País

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