Cai diferença entre ricos e pobres que concluem ensino médio no País

Para a ONG Todos Pela Educação, nos últimos dez anos o Brasil tem aumentado os índices de escolaridade da população e reduzido as desigualdades

Larissa Brenda Cordeiro, 18 anos, foi a primeira da sua família a concluir o ensino médio dentro da idade escolar. Até o ano passado, ela frequentou o Centro de Educação 05 de Taguatinga, uma escola pública da periferia do Distrito Federal.

Assim como Larissa, cada vez mais jovens de baixa renda estão concluindo o ensino médio. É o que mostram os dados divulgados pela organização não governamental “Todos Pela Educação“, em análise feita com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo a pesquisa, em dez anos, o Brasil diminuiu a diferença entre os jovens mais ricos e mais pobres que concluem o ensino médio.

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Larissa Cordeiro (de roupa preta, terceira na fileira de cima) com sua turma do 3º ano do Centro de Educação 05 de Taguatinga (DF) / foto Arquivo pessoal

Em 2005, 18,1% dos jovens de 19 anos, entre os 25% mais pobres da população, concluíam o ensino médio. Entre os 25% mais ricos, a porcentagem chegava a 80,4%. Ou seja, havia uma diferença de 62,3 pontos percentuais entre os dois grupos. Em 2014, último dado disponível, o cenário mudou. Entre os mais pobres, 36,8% concluíam o ensino médio e, entre os mais ricos, 84,9%. A diferença entre os dois grupos ficou em 47,8 pontos percentuais.

Para o gerente de Conteúdo do Todos Pela Educação, Ricardo Falzetta, os números são positivos e mostram que a educação está avançando por questões quantitativas, pois está incluindo mais alunos na faixa mais vulnerável da sociedade e, assim, aumentando a escolaridade.

“É um somatório de políticas públicas que têm participação em todas essas melhorias que a gente vem observando”, afirma Falzetta.

De modo geral, os dados mostram que, nos últimos dez anos, o Brasil avançou 15,4 pontos percentuais na taxa de conclusão do ensino médio dos jovens de até os 19 anos. O percentual de concluintes passou de 41,4% em 2005 para 56,7% em 2014. Em números absolutos, isso significa que, nesse intervalo de tempo, os estudantes concluintes passaram de 1.442.101 para 1.951.586.

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Samuel e seus colegas na aula de revisão do 3º ano do ensino médio do Centro de Ensino Médio 9 de Ceilândia (DF) / foto Arquivo pessoal

“Acho que praticamente 90% da minha turma concluiu o ensino médio. Hoje em dia as oportunidades são maiores nas escolas públicas. Ainda existem dificuldades. Eu, por exemplo, andava quase seis quilômetros para chegar à escola, mas porque eu escolhi essa escola, já que a que tinha perto da minha casa, não achava tão boa quanto a que eu estudava”, conta Larissa.

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Outro concluinte do ensino médio é Samuel Fernando Alves dos Santos, 17 anos, que estudou até o ano passado no Centro de Ensino Médio 9 de Ceilândia (DF).

“Com certeza aumentou a quantidade de alunos concluindo o ensino médio, pelo menos do que noto no meu colégio. Eu acredito que a realidade dos jovens coloca muitos obstáculos e dá vários motivos para desistir, para largar os estudos e arrumar um emprego. Mas a gente vê que tem outras opções, que tem uma vida pela frente, e aí a gente começa a poder fazer planos, como o de entrar na universidade e contribuir com uma profissão para a sociedade”, destaca Samuel, o casula de quatro irmãos e o primeiro a entrar na universidade. A partir deste ano, o brasiliense vai cursar Artes Cênicas na Universidade de Brasília (UnB).

Para Ricardo Falzetta, ainda é preciso avançar mais. “Estamos aumentando a escolaridade, tem melhorias no fluxo e no acesso garantido, dá para ver que está numa evolução, mas esse movimento precisa estar acompanhado do desenvolvimento da qualidade. É preciso trabalhar de forma coordenada todos os indicadores e investir mais na remuneração e formação dos professores, na infraestrutura das escolas englobando não só a questão do prédio físico, mas de acervo, de acesso à tecnologia, de livros, de laboratórios”, acrescenta.

Redução das desigualdades – Os dados mostram outro fator positivo: a redução da desigualdade no País. “A perspectiva é redução de desigualdades. Esse dado é positivo. O Brasil está aumentando os índices e reduzindo as desigualdades”, ressalta a superintendente do Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, ao Portal Brasil.

Falzetta concorda que os números são indicativos da redução da desigualdade no País dentro da série histórica.

“Quando se inclui a população mais vulnerável no sistema de ensino, a tendência é ter uma diminuição das desigualdades, não só na questão das avaliações de desempenho, mas também nas questões de fluxo. Caem essas diferenças nas três análises: entre mais ricos e mais pobres, na diferença entre pretos, pardos e brancos, e na diferença entre zona rural e zona urbana. É muito legal que isso aconteça, e acho que o trabalho tem que ser para fazer tender a zero essas diferenças. São caminhos a percorrer ainda muito desafiadores. A gente não pode correr o risco de perder o terreno conquistado”, completa Falzetta.

Ensino fundamental – A redução das diferenças entre os mais pobres e mais ricos ocorreu também no ensino fundamental. Em 2005, dos jovens de 16 anos entre os 25% mais pobres da população, 38,8% concluíram o ensino fundamental. Entre os 25% mais ricos, a porcentagem era 90%. A diferença entre os dois grupos era 51,2 pontos percentuais. Em 2014, entre os mais pobres a taxa de conclusão saltou para 62,7% e, entre os mais ricos, 92,2%, uma diferença de 29,5 pontos percentuais.

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Samuel dos Santos passou para o curso de Artes Cênicas na Universidade de Brasília (UnB)

No ensino fundamental, a taxa de conclusão cresceu na mesma proporção que o ensino médio: quase 15 pontos percentuais, aumentando de 58,9%, em 2005, para 73,7%, em 2014. Passou, portanto, de 2.106.316 concluintes em 2005 para 2.596.218, em 2014.

Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias

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