Caixa sofre assédio institucional, diz ex-presidenta do banco

Para Maria Fernanda Ramos Coelho, a Caixa é vítima de um desmonte que vem acompanhado de uma “cultura extremamente perversa, misógina, patrocinada pelo presidente da República”

Antonio Cruz/Agência Brasil

Maria Fernanda: “Há um modelo de gestão que não reconhece a importância do setor público, pelo contrário”

Os casos de assédio sexual e moral corajosamente denunciados por funcionárias da Caixa Econômica Federal e que levaram ao afastamento de Pedro Guimarães estão dentro de uma lógica de gestão implementada ao longo de todo o governo Bolsonaro, analisou, nesta segunda-feira (4), em entrevista ao Jornal PT Brasil, a ex-presidenta do banco Maria Fernanda Ramos Coelho.

“Nós vimos esse caso de assédio sexual e, antes dele, de assédio moral. E o que a gente percebe no governo Bolsonaro é um assédio institucional, não só na Caixa, mas em diversos órgãos da administração pública”, disse. “É, na realidade, um modelo de gestão que não reconhece a importância do setor público. Pelo contrário, trabalhou, nos últimos anos, pela dilapidação desse patrimônio”, completou (assista à íntegra da entrevista no fim desta matéria).

Segundo Maria Fernanda, que presidiu a instituição entre 2006 e 2011, o banco vem sendo vítima “de um desmonte que veio acompanhado de uma cultura extremamente perversa, misógina, patrocinada pelo presidente da República e, infelizmente, no caso da Caixa, também pelo presidente da instituição, que foi recentemente afastado.

“O que a gente tem visto, desde que o governo Bolsonaro assumiu, é o desmonte da instituição. Eu diria quase uma pilhagem de todo o patrimônio. Houve anos em que você teve mais de R$ 15 bilhões em ativos da instituição que foram colocados no mercado, e isso compõe toda uma ideologia, todo um propósito do governo”, denunciou.

De acordo com ela, o papel social da Caixa foi tirado das prioridade e passou a prevalecer uma preocupação com o lucro imediato. “A custa de quê? A custa de altas taxas de juros, cobrança de tarifas abusivas. E sem nenhuma estratégia em relação à geração de emprego, geração de renda, política de habitação. Não temos mais nada para a população de baixa renda, para a mulher e o homem do campo. Foi levado ao fim o programa de cisternas”, denunciou.

Caixa foi e voltará a ser crucial para o Brasil

Maria Fernanda lembrou que, durante os governo do PT, a Caixa passou por um processo de reestruturação e valorização, tanto da instituição quanto dos funcionários. “Isso nos possibilitou atuar na redução das desigualdades regionais e intrarregionais, na inclusão bancária da população, na democratização do acesso ao crédito tanto para as famílias quanto para as empresas e, em momentos de crise, como a gente viu em 2008, numa política anticíclica”, destacou.

Sem esse processo não teria existido, a partir de 2009, o programa Minha Casa Minha Vida, maior iniciativa habitacional do país, que não só contratou, até 2016, a construção de 5 milhões de residências, como ajudou a criar milhões de postos de trabalho. “Levou a um círculo virtuoso. Quando você tem essas ações, você tem um processo de geração de trabalho, de geração de renda”, explicou.

A ex-presidenta da instituição acrescentou que, no caso do retorno de Lula à Presidência, a Caixa certamente vai voltar a ter um papel de impulsionadora da economia e da sociedade brasileira. 

“Ter uma instituição pública como a Caixa será fundamental para a reconstrução do país, não só em relação às políticas de infraestrutura, de saneamento, de habitação, mas também ao aporte do crédito adequado às famílias e às empresas. E não só a Caixa, mas também os bancos públicos nacionais vão possibilitar que nós tenhamos uma retomada num período mais curto”, previu.

Da Redação

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