Assédio sexual na CEF é reflexo do presidente machista e misógino

Posturas como a de Pedro Guimarães são reverberadas por Bolsonaro, que acumula comportamentos agressivos contra as mulheres antes mesmo de assumir a presidência

Agência Brasil

Denúncias de assédio contra presidente da Caixa é reflexo do machismo e misoginia de Bolsonaro

Reflexo de um presidente machista e misógino, o presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Guimarães, entregou nesta quarta-feira, 29, a sua carta de demissão a Bolsonaro após ser alvo de denúncias de assédio sexual e moral.

Posturas como a de Pedro são reverberadas por Bolsonaro, que acumula comportamentos agressivos contra as mulheres antes mesmo de assumir a presidência.

Sempre na contramão dos direitos humanos, Bolsonaro carrega diversas manifestações públicas de violência, além de ações contra a promoção dos direitos da mulher.

Entre as medidas, destacam-se a extinção da Secretaria Especial de Mulheres (SPM), criada no governo Lula, e o veto 59 contra a distribuição gratuita de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Uma trajetória de machismo e misoginia

Confira abaixo as agressões cometidas por Bolsonaro contra mulheres

27 de agosto de 1998 – Dá murro na cabeça de uma mulher – Durante campanha eleitoral para se reeleger deputado federal, Bolsonaro esmurrou por trás a cabeça de Conceição Aparecida, então funcionária da Planajur, empresa de consultoria jurídica que prestava serviços para o Exército. Conceição discutiu com uma apoiadora de Bolsonaro e acabou esmurrada pelo então deputado. Além disso, o dono da empresa, Jorge dos Santos, contou ter sido agredido por seguranças. Na época, o Jornal do Brasil noticiou a agressão, e o próprio Bolsonaro admitiu ao jornal ter cometido a violência.

Março de 2011 – Ofende a cantora Preta Gil – Bolsonaro participava de um programa de tevê no qual respondia perguntas enviadas por diferentes personalidades. A cantora Preta Gil havia gravado a seguinte questão ao então deputado federal: “Deputado Jair, se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”.

* Bolsonaro respondeu, como pode ser visto aqui: “Ô, Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. E meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.

Julho de 2011 – Ex-mulher afirma ter sido ameaçada de morte por Bolsonaro – Em 2011, a Embaixada do Brasil na Noruega entrou em contato com Ana Cristina Valle, mãe do quarto filho de Bolsonaro, Jair Renan. O vice-cônsul (VC) da representação questionou por que Ana Cristina havia se mudado para o país europeu com o filho, então adolescente, sem uma autorização expressa do pai. Ela, então, disse que havia sido ameaçada de morte por Bolsonaro e questionou se poderia pedir asilo na Noruega. A afirmação de Ana Cristina foi registrada em uma comunicação diplomática e noticiada por diferentes jornais, como a Folha de S. Paulo e o Correio Braziliense.

2012 – Admite outra agressão a mulher – Durante outra entrevista ao extinto programa CQC, Bolsonaro admite ter batido em mulher, mas conta outro episódio, diferente do de 1998.“Era garoto na Eldorado, uma menina forçou a barra para cima de mim”, disse, como se fosse uma justificativa aceitável.

Dezembro de 2014 – “Ela não merece ser estuprada porque é muito feia” – Em 9 de dezembro de 2014, no Plenário da Câmara, Jair Bolsonaro cometeu um ataque contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) e todas as mulheres, pelo qual acabou condenado, pagou multa e teve de pedir desculpas publicamente.

* Maria do Rosário acabara de fazer um discurso defendendo que os torturadores da ditadura militar fossem responsabilizados. Bolsonaro, que sempre defendeu torturadores, tomou a palavra em seguida e se dirigiu à deputada de maneira agressiva: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí. Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.

Na verdade, quando usou a expressão “há poucos dias”, Bolsonaro se referia a outro ataque seu contra Maria do Rosário 11 anos antes, em 2003. Na ocasião, a deputada do PT disse que, com seus discursos e posições políticas, Bolsonaro promovia a violência contra a mulher. Bolsonaro, então, disse: “Eu sou o estuprador agora? Não vou estuprar você porque você não merece”. Ele ainda chamou a parlamentar de “vagabunda” e a empurrou.

Não satisfeito de lembrar desse ataque, Bolsonaro voltou a ele no dia seguinte, em entrevista ao jornal Zero Hora. Perguntado por que havia dito que a deputada “não merece ser estuprada”, ele afirmou: “Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque não merece”.

Maria do Rosário não se intimidou e processou Bolsonaro, que acabou condenado por danos morais, teve de pagar multa e ainda precisou pedir desculpas publicamente. A multa paga por Bolsonaro foi doada por Maria do Rosário a sete entidades de defesa dos direitos das mulheres. Ao fazer a doação, de mais de R$ 20 mil, a deputada celebrou: “O dinheiro do machista vai para as feministas”.

Dezembro de 2014 – Diz achar justo que mulheres ganhem menos que os homens porque engravidam – Na mesma entrevista ao jornal Zero Hora, em 2014, Bolsonaro disse achar justo uma mulher ganhar menos que um homem para fazer o mesmo trabalho. O motivo seria o de que uma mulher pode engravidar e tirar licença maternidade. “Eu sou um liberal, se eu quero empregar na minha empresa você ganhando R$ 2 mil por mês e a Dona Maria ganhando R$ 1,5 mil, se a Dona Maria não quiser ganhar isso, que procure outro emprego! (…) Eu que estou pagando, o patrão sou eu”, disse. No mesmo ano, ao ser entrevistado na Rede Tv!, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o tema e disse que, se fosse empresário, “não empregaria (uma mulher) com o mesmo salário“.

Abril de 2017 – Diz que teve uma filha após ter tido quatro filhos porque deu “uma fraquejada” – A fala, que ocorreu durante palestra no Clube Hebraica, foi a seguinte: “Fui com os meus três filhos, o outro foi também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, o quinto eu dei uma fraquejada. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher”.

2018 – Na campanha para presidente, tenta espertamente amenizar o discurso – Ao disputar a eleição para presidente, Bolsonaro tentou negar o que pensa e faz. Em entrevista à Rede Record, disse não ter nada contra minorias e desafiou: “Onde tem um vídeo onde eu ataco negros? Onde tem um áudio meu atacando mulheres?”. Em resposta, o jornal El País produziu o vídeo abaixo:

8 de março de 2019 – Ri do fato de ter 20 ministros e só duas ministras – Foi só se tornar presidente que Bolsonaro voltou a se mostrar como realmente é. Desde os primeiros meses de governo, ele proferiu incontáveis frases machistas e preconceituosas, sendo acompanhado nesse comportamento por alguns de seus ministros. Tanto que, em junho de 2021, a Justiça Federal ordenou que a União pagasse R$ 5 milhões de indenizações por falas machistas de Bolsonaro, do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

* Uma das primeiras vezes que Bolsonaro ofendeu as mulheres após se tornar presidente foi justamente no Dia Internacional da Mulher, quando afirmou: “Pela primeira vez na vida o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres”.

Abril de 2019 – Faz apologia ao turismo sexual no Brasil – Nessa ocasião, Bolsonaro se disse contra a vinda de turistas gays para o Brasil e emendou: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. Além de homofóbica, a frase foi condenada como extremamente machista. Bolsonaro mostrou completa insensibilidade à situação das brasileiras vítimas da exploração sexual causada por esse tipo de turismo. Em resposta, estados brasileiros lançaram campanhas contra a exploração sexual.

2020 e 2021 – Volta seu ódio a mulheres que trabalham na imprensa – Nos segundo e terceiro anos de governo, Bolsonaro continuou a se mostrar desrespeitoso com as mulheres de maneira geral, mas chama a atenção o fato de ele ter voltado seu ódio para as jornalistas, numa clara tentativa de inibir o exercício da imprensa no país.

Agressão à jornalistas

Veja algumas dessas agressões às profissionais de mídia

Em fevereiro de 2020, rebateu denúncia da jornalista Patrícia Campos Mello, sobre possíveis irregularidades na sua campanha eleitoral, dizendo que a profissional “queria dar o furo”. “Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo”, disse a apoiadores no cercadinho em frente ao Palácio da Alvorada.

Em 21 de junho de 2021, em Guaratinguetá, Bolsonaro mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, “calar a boca”. Isso só porque a jornalista questionou o fato de ele ter chegado ao local sem usar máscaras, conforme exigia uma lei do estado de São Paulo, por causa da pandemia de Covid-19.

Quatro dias depois, Bolsonaro perdeu o controle ao ser indagado sobre o atraso de vacinas contra a Covid-19 e o escândalo dos contratos do imunizante indiano Covaxin. O presidente mandou Victoria Abel, da Rádio CBN, voltar para a faculdade, e que ela “deveria na verdade voltar para o ensino médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”. Em outro momento, disse: “Você está empregada aonde? (sic)”. Na mesma ocasião, aos gritos, e em tom ameaçador, dirigiu insultos à Adriana de Luca, da CNN Brasil: “Pare de fazer perguntas idiotas”.

Durante conversa com apoiadores na entrada do Palácio Planalto, Jair Bolsonaro xingou a jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, de “quadrúpede”.

2022 – Diz não acreditar nas pesquisas que mostram rejeição das mulheres a ele – Em mais um de suas interações com apoiadores, Bolsonaro diz não acreditar nas pesquisas que mostram como as mulheres o rejeitam. “Segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim, a maioria vota na esquerda. Agora, não sei, pesquisa a gente não acredita”.

* A realidade, porém, é que as mulheres já perceberam que esse governo pretende levá-las de volta ao passado e a uma condição submissa, tirando suas possibilidades de emprego, minimizando sua capacidade de atuar politicamente e empoderando homens violentos e intolerantes que rebaixam suas parceiras. Tanto que dias antes de Bolsonaro dar essa declaração, pesquisa do PoderData afirmava que, entre as eleitoras brasileiras, Lula tem o dobro das intenções de voto que ele: 44% x 22%.

 Da Redação, com informações da Fundação Perseu Abramo (FPA)

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