Com Bolsonaro, queda de investimentos compromete crescimento
Investimentos caíram 3,5% no primeiro trimestre. Em um ano, queda é de 7,2%. “A solução é colocar o pobre no orçamento e o rico, no imposto de renda”, defende Lula
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Enquanto o desgoverno Bolsonaro bate tambores com a alta de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, a queda do investimento no período, em comparação com o último trimestre de 2021, foi de 3,5%. Em um ano, os investimentos na economia brasileira recuaram 7,2%. O resultado é um dos piores na média da América Latina e países emergentes. E baixo investimento conduz à baixa atividade econômica.
Os dados do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os investimentos caíram para 18,7% do PIB no primeiro trimestre de 2022, abaixo dos 19,2% registrados em dezembro de 2021. Para efeito de comparação, o país apresentou taxa de investimento média de 20,5% do PIB no período 2010-2014, sob Dilma Rousseff.
“O nível de investimentos no Brasil está muito aquém do necessário para viabilizar a sustentação do crescimento. Nosso nível é bem baixo para padrões internacionais”, ressalta no portal Uol Antonio Corrêa de Lacerda, coordenador da pós-graduação em Economia Política da PUC-SP.
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“Não há como nos blindarmos totalmente dos fatores adversos advindos da economia internacional, mas podemos elaborar estratégias que nos tornem menos vulneráveis a elas”, pondera o também presidente do Conselho Federal de Economia. No entanto, não há qualquer sinal de que o desgoverno Bolsonaro apresentará essas estratégias.
O cálculo da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que reúne o total investido para ampliar a capacidade de produção da economia, é a base para a medição do investimento na economia. Projetos de ampliação ou construção de fábricas, estradas, portos, aeroportos, minas ou plataformas de petróleo, por exemplo, geram empregos e renda e movem o consumo, girando a roda da economia.
Sob o desgoverno de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, a queda da produção interna, da poupança interna e da importação de bens de capital no primeiro trimestre derrubou o nível dos investimentos a uma média abaixo da média registrada no mundo, entre países emergentes e mesmo na América Latina. É o que apontam dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
A alta da taxa básica dos juros (Selic), promovida desde março de 2021 pelo Banco Central (BC), deprime ainda mais os investimentos. “Esse aumento de juros no Brasil vai começar a ter efeito mais forte sobre a atividade econômica no segundo semestre, afetando o consumo das famílias e a capacidade das empresas em investirem em novos projetos”, prevê no Uol Felipe Sichel, economista-chefe do banco Modal.
Sem projeto de desenvolvimento, não há investimento
Estudos da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) estimam que a economia nacional teria que investir em infraestrutura o equivalente a 4,3% do PIB. Mas hoje o patamar não passa de 1,7%. “Se o crescimento da demanda doméstica, aqui representado pelo consumo das famílias, não é acompanhado de investimentos produtivos, a capacidade da produção nacional atender à demanda nacional fica comprometida”, argumenta Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
“O que motiva os investimentos são dois fatores: expectativa de crescimento da demanda e expectativa de retorno ou lucro – o que nós economistas chamamos de rentabilidade marginal do capital”, explica Antônio Corrêa de Lacerda. “Assim, os maiores empecilhos são justamente a falta de perspectiva quanto a ambos os fatores citados, além da ausência de clareza de projeto de desenvolvimento.”
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Em 2021, o volume de investimentos do governo federal encerrou o ano equivalendo a 0,26% do PIB, segundo acompanhamento do Observatório de Política Fiscal do FGV/Ibre. O resultado é o mais baixo desde 2003 e 2004, quando os investimentos federais foram de 0,20% e 0,21%, respectivamente.
No entanto, o pesquisador Manoel Pires, coordenador do Observatório, chama a atenção para a enorme diferença entre os dois momentos. “Lá atrás, foi preciso fazer um ajuste fiscal no início do primeiro Governo Lula, que levou à redução do investimento público num curto período, mas foi seguido de retomada”, ressalta.
Agora, aponta Pires, o que se vê são anos seguidos de retração generalizada. “Ao que tudo indica, a redução do investimento público não chegou ao piso e vai cair mais ainda”, afirma o economista. “A ideia de reduzir a participação do Estado na economia foi posta em prática após 2016. Então, o setor público investe menos, o BNDES assume outras funções e buscam-se reformas para atrair capital privado”, exemplifica.
Em janeiro, em entrevista à rádio CBN Vale do Ribeira (SP), Luiz Inácio Lula da Silva já apontava para o baixo nível de investimento do governo federal. “O Orçamento que o Bolsonaro aprovou é o menor investimento em toda a história da República”, ressaltou. “Se o governo não investe, não é indutor do investimento, quem vai investir? Se você fosse empresário e percebesse que o governo não acredita nele mesmo, por que você tiraria seu dinheiro da conta do banco para fazer investimento?”, questionou Lula.
“O problema não é só ganhar as eleições, mas ganhar e conseguir consertar o país”, prosseguiu. “Por isso eu tenho dito: a solução é a gente colocar o pobre no orçamento e o rico, no importo de renda”, resumiu o presidente mais popular da história do país.
Da Redação