Combate à discriminação racial: um desafio de todos, por Almir Aguiar

Nossa luta contra o racismo no Brasil precisa ser todos os dias, pois diariamente o país apresenta inúmeros casos de segregação e preconceito

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Almir Aguiar

Nesta segunda-feira, 21 de março, é o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Nossa luta contra o racismo no Brasil precisa ser todos os dias, pois diariamente o país apresenta inúmeros casos de segregação e preconceito. A data, que foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1966, em memória ao “Massacre de Shaperville”, em 21 de março de 1960, reforça no mundo a luta contra o preconceito racial. O “Massacre de Shaperville” ocorreu em 21 de março de 1960. Esta chacina de negros ocorreu na província de Gautung, África do Sul, no período do Apartheid, em que 69 pessoas foram assassinadas e 186 feridas.

A polícia que mata negros

No Brasil, embora o racismo seja mascarado por uma mitificação histórica de “democracia racial” – mas que agora saiu do armário e se constituiu como política do governo Jair Bolsonaro – convivemos com o extermínio de jovens negros das favelas e periferias por ações policiais. A cidade do Rio de Janeiro tem sido o principal centro desta política em que o aparato de guerra do estado mata negro e pobres, situação fortemente agravada desde os governos Witzel/Cláudio Castro, que no fundo, representam a mesma prática de atirar para depois abordar: 86% das pessoas mortas por ações policiais no Rio são negras. A PM do Rio é a que mais mata no país e as balas tem direção baseada na questão racial. São os negros que morrem. A sociedade fluminense não pode continuar aceitando estes números de nações em guerra contra nossos irmãos negros com naturalidade e indiferença. Temos que nos indignar contra a banalização da morte e o extermínio de negros e pobres.

Segregação no mercado de trabalho

O mercado de trabalho também segrega. Negros e negras recebem salários inferiores mesmo tendo mais qualificação profissional e nível de escolaridade, são os mais afetados pelo desemprego e são discriminados nos locais de trabalho. Uma pesquisa feita no ano passado pelo Instituto Guetto revelou que quase metade das pessoas negras “não se sentem pertencentes ao seu ambiente de trabalho” por sofrerem algum tipo de discriminação em sua atividade profissional. Outra pesquisa feita pela Catho, marketplace de tecnologia, em fevereiro deste ano, mostrou que 58% dos profissionais negros disseram não ter as mesmas oportunidades do que os brancos, o que é fato.
Não haverá um Brasil justo e desenvolvimento sem igualdade de oportunidades e livre de toda a forma de discriminação.

A banalização da violência

O assassinato absurdo do congolês Moïse Kabagambe a pauladas na Barra da Tijuca, a morte a tiros de Durval Teófilo Filho, em São Gonçalo, que implorou para que o militar, seu vizinho, não atirasse contra ele, a abordagem racista num shopping denunciada pelo dentista Igor Palhano, de 30 anos, filho do saudoso humorista Mussum, não podem ser tratados como casos isolados e nem devem ser lembrados apenas em datas como a do dia 21 de março, mas precisa estar pautado por toda a sociedade todos os dias.

Sabemos que racismo é uma anomalia social no mundo inteiro. Na guerra da Ucrânia que comove a todos nós, porque toda guerra é uma barbárie, os governos ucraniano e polonês estão discriminando negros e negras que estão encontrando dificuldades de cruzar a fronteira e tentar fugir do conflito. Não podemos esquecer que este mesmo governo ucraniano, assim como a Polônia, foram alguns dos mais ferozes opositores na Europa da entrada de refugiados da guerra da Síria. A nossa luta atravessa fronteiras.

A voz de protesto

Não é uma coincidência que as principais vítimas da violência e do preconceito racial no Brasil são negras. E não podemos nos esquecer de nossos irmãos indígenas. Temos todos que levantar a voz de protesto contra a discriminação racial, de gênero e de orientação sexual neste país e no mundo.

Este 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação Racial, é uma data para reflexão de todos a fim de que possamos, negros e brancos, lutar para banir definitivamente, o preconceito e o racismo. E esta mudança depende de todos nós. Inclusive nos votos que iremos depositar nas urnas das eleições de 2022, buscando representações dos trabalhadores, mulheres, negros e negras e LGBTQIA+. É a oportunidade de um recomeço para a luta pela emancipação popular, igualdade de oportunidades e justiça social, cujas políticas afirmativas são uma ação indispensável neste contexto. Que nossa voz, ação, voto e participação sejam a voz contra toda a forma de opressão, intolerância e discriminação.

Almir Aguiar é secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, militante do MNU e secretário de Combate ao Racismo do PT carioca

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