Comissão aprova MP que permite privatização da Eletrobras

Medida Provisória reabre a possibilidade de privatização da estatal e subsidiárias, além de aumentar custo da tarifa elétrica para consumidor

Domínio Público

A Comissão Mista da Medida Provisória nº 814, de 2017, que facilita a privatização da Eletrobras e suas distribuidoras de energia elétrica, aprovou, por 17 votos a 7, o texto principal do relatório do deputado Júlio Lopes (PP-RJ) na manhã desta quarta-feira (9).

O texto altera leis relacionadas ao setor elétrico e permite que a Eletrobras e suas controladas – Furnas, Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), Eletronorte, Eletrosul e a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE) – sejam reincluídas no Programa Nacional de Desestatização (PND).

A estatal é responsável por um terço da geração de energia no país e tem valor patrimonial avaliado em R$ 46,2 bilhões, de acordo com o Ministério de Minas e Energia.

Aumento da tarifa

No domingo (6) a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) voltou a alertar o Congresso Nacional sobre o risco de aumento das tarifas contido nas emendas parlamentares apresentadas ao texto original da MP 814/17. A agência reforça a posição de que a atualização do custo de operação de usinas do Programa Prioritário de Termelétricas resultará na transferência ao consumidor do custo de R$ 2,1 bilhões por ano.

Além de apontar “elevado impacto tarifário”, o ofício registra que a atualização do preço do gás leva os consumidores a assumirem um risco contratual que é do gerador e do fornecedor de combustível. Destaca ainda que o aumento da despesa na conta de luz daria para acrescentar 400 Megawatts (MW) de oferta de energia com usinas eólicas ou solares por ano.

A Aneel ainda chama a atenção para a proposta de novo prazo de concessão para as hidrelétricas da Eletrobras com término até 2025. O novo contrato seria assinado mediante o pagamento de bonificação de outorga, que seria repartido entre o Tesouro Nacional e a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo que reúne despesas repassadas à conta de luz.

Na visão da agência, a prorrogação de contrato faria com que a renda hidráulica — ganho advindo da geração de energia a partir da amortização do custo de construção da usina — deixasse de beneficiar o consumidor com a redução da tarifa. Cálculos da autarquia indicam que somente a hidrelétrica de Tucuruí, com potência instalada de 8.370 MW, pode beneficiar os consumidores com o abatimento de R$ 3,5 bilhões por ano nos custos repassados às tarifas.

Privatização é transferência de patrimônio

Em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo”, o senador Lindbergh Farias afirmou que “a jogatina da hora é a privatização da Eletrobras” e que “es­ta seria a mais escandalosa privati­zação de todos os tempos”.

“O então presidente Lula retirou a Eletrobras do PND (Programa Naci­onal de Desestatização) em 2004. Temer pretende reincluir a privatiza­ção na agenda, tendo editado decre­to inconstitucional, pois inclui a Ele­trobras no PND, mesmo sem aprova­ção do PL de privatização pelo Con­gresso Nacional. Há uma expectati­va de arrecadação de R$ 12 bilhões, em função da previsão de que a em­presa poderá retirar 14GW do regi­me de cotas, vendendo energia a um custo até cinco vezes maior”, relembra o senador.

Para Farias, “o valor arrecadado será irrisório, ante estimativa de R$ 370 bilhões para o parque gerador da Eletrobras e os custos para o consumidor. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elé­trica) prevê que as tarifas poderão subir até 16,7% com a descotização”.

Ele ainda cita pesquisa na Inglaterra, publica­da no jornal The Guardian, segundo a qual “83% da população são favo­ráveis à nacionalização da água e 77% da eletricidade. Nos principais países do mundo, as usinas hidrelé­tricas são controladas pelo Estado (por exemplo, China, França, Noru­ega, EUA, Canadá)”.

“O PND completou 21 anos. Um balanço sério demonstra que as priva­tizações foram um grande desastre de destruição não criativa. Deu-se uma mera transferência de patri­mônio público para o setor priva­do. Entre a década de 1990 e 2002, o Estado vendeu grande parte de seu patrimônio, mas a dívida líqui­da do setor público dobrou, subin­do de 3 0% do PIB em 1994 para 60% do PIB em 2002”, avalia o senador.

Lindbergh defende que as estatais privatizadas se mos­traram ambientalmente predató­rias. “O mais trágico emblema foi o desastre ambiental do rio Doce pe­los rejeitos de minério da Samarco (joint venture controlada pela Vale e BHP Billiton)”.

“Não há dados que atestem a relação entre privatização e redução de preços. A Celg-D, distribuidora de energia elétrica em Goiás, foi pri­vatizada em 2017 e, na sequência, houve reajuste de quase 16% na ta­rifa residencial, para uma inflação menor do que 3%.”

Para Farias, “diante do modelo apresentado pe­lo governo, uma Eletrobras privati­zada, seguramente, acarretará au­mento de tarifa. Por tudo isso, par­lamentares devem cerrar fileiras com os interesses populares, dizen­do não à privatização da Eletrobras”.

Da redação da Agência PT

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