Comissão identifica restos mortais de bancário assassinado pela ditadura
Aluísio Palhano foi preso em 1971, torturado e morto no Doi-Codi, em São Paulo, então chefiado por Brilhante Usta, ídolo de Bolsonaro
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A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) confirmou, nesta segunda-feira (3), a identificação dos restos mortais de Aluísio Palhano Pedreira Ferreira, assassinado em 1971, sob tortura comandada pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Palhano, bancário e sindicalista, era um dos 400 militantes desaparecidos durante a ditadura militar. Seus restos mortais foram identificados entre as ossadas descobertas em 1990 em uma vala clandestina no Cemitério de Perus, em São Paulo—a maioria delas ainda não identificadas.
A confirmação da descoberta da ossada de Aluísio Palhano foi anunciada nesta segunda-feira, em Brasília, durante 1º Encontro Nacional de Familiares de Pessoas Mortas e Desaparecidas Políticas, promovido pela CEMDP, presidida pela procuradora federal Eugênia Gonzaga.
Morto no Doi-Codi
Aluísio Palhano militou na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização que combateu a ditadura militar e teve entre seus expoentes o capitão Carlos Lamarca, assassinado em Oliveira dos Brejinhos, sertão da Bahia, também em 1971.
A Comissão da Verdade, criada pela presidenta Dilma Rousseff, apurou que Palhano, então com 49 anos, foi entregue à repressão pelo infiltrado cabo Anselmo, levado à sede do Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) do Exército, onde foi torturado e morto.
Ustra torturador
O comandante do Doi-Codi era Carlos Alberto Brilhante Ustra, já identificado como torturador por diversos sobreviventes da repressão. A primeira denúncia contra Ustra foi feita em 1985, pela atriz e então deputada Bete Mendes, uma de suas vítimas.
Bete reconheceu Ustra como seu torturador quando integrou a comitiva do então presidente José Sarney em visita ao Uruguai. O militar ocupava na época o cargo de adido militar da Embaixada Brasileira, em Montevidéu. A Lei da Anistia, de 1979, permitiu que escapasse de qualquer punição.
Ustra condenado
Em outro caso envolvendo assassinato de militante, a família do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino recorreu à Justiça, em 2008, para que fosse reconhecido a responsabilidade de Ustra em sua morte e desaparecimento, em 1971. Merlino tinha 22 quando desapareceu.
Em 2012, Ustra foi condenado a indenizar a família Merlino por danos morais, recorreu da decisão e morreu em 2015, antes do novo julgamento.
Direito ao luto
A aposentada Márcia Ferreira Guimarães, 70, irmã de Palhano, não crê que a revelação de mais uma atrocidade da ditadura possa mudar a opinião dos que hoje defendem o regime militar e os algozes a seu serviço: “As pessoas são insensíveis e vão continuar insensíveis. Infelizmente, a história é essa”, declarou Márcia ao UOL.
A irmã de Palhano, porém, avalia que agora “a família terá direito ao luto. Isso é importante, você fecha um ciclo”.
Os restos mortais de Aluísio Palhano Pedreira Ferreira serão cremados e suas cinzas serão lançadas na Baía de Guanabara pela família.
Por PT no Senado