Contribuição para o 6º Congresso do PT

Texto assinado por Gilson Duarte Ferreira dos Santos e Carlos Saraiva e Saraiva pontua questões que eles consideram importantes para o avanço do partido

Tribuna de Debates do PT

Foto: Lula Marques/Agência PT

A crise atual é da sociedade brasileira, não do Partido dos Trabalhadores. O Partido perdeu a batalha do impeachment mas continua uma força viva da política nacional, demonstrada pela avaliação positiva das suas realizações, pela preferência na próxima disputa eleitoral para a Presidência da República e até mesmo pelo tom dos ataques dos seus inimigos históricos que persistem após o golpe.

As crises fazem parte do movimento da sociedade, como tais, oferecem desafios e oportunidades inusitadas e é nesse contexto que o Partido dos Trabalhadores deverá definir suas estratégias e táticas de lutas para o novo tempo que se prenuncia. Algumas tarefas se impõem à direção partidária e a toda a militância.

Neste sentido oferecemos para o debate no 6º Congresso alguns pontos que consideramos de grande importância para o nosso avanço:

– Sistema eleitoral

Deve ser submetido a crítica permanente, denúncia e busca de reformulação do sistema eleitoral, brasileiro que está definitivamente dominado pelo poder econômico e transformado em verdadeiro mercado eleitoral, em que o produto a ser vendido é o candidato e a moeda de troca é o voto. Para se livrar do financiamento privado e da corrupção política dos lobbies empresariais, o Partido dos Trabalhadores deverá orientar-se para o financiamento próprio por meio de contribuições eleitorais dos seus 1.763.890 filiados (nov. 2016) e de simpatizantes (pessoas físicas), além do fundo partidário.

– Modelo econômico

O funcionamento e a gestão da economia na sua forma atual são incompatíveis com o estágio de desenvolvimento brasileiro; falta um programa estratégico de desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico que privilegie o bem-estar da população e a utilização adequada, de forma racional e em benefício de todos, dos grandiosos recursos naturais (agrícolas, minerais, energéticos) e ambientais de que dispomos. A visão privatista e imediatista da política atual, de viés neoliberal e neocolonial, além de comprometer o futuro da Nação, privilegia o setor financeiro, os rentistas e os especuladores, deixando à margem a grande maioria da população. A redistribuição da renda e da riqueza é condição necessária para o projeto de Nação que almejamos.

O Partido dos Trabalhadores, além de valiosa experiência de governo, conta com quadros qualificados próprios e de simpatizantes para se avançar nesse campo, figurando como ações imediatas a agregação de competências e conhecimentos em instâncias orgânicas do Partido, tais como Setoriais, Grupos de Discussão, Grupos de Trabalho, bem como através de seminários, debates, encontros abertos com a participação da sociedade civil.

– Democracia interna e comunicação com a base

A relações do Partido com as suas administrações nos governos municipais, estaduais e federal e respectivas representações parlamentares nessas esferas (vereadores, deputados, senadores) nem sempre foram harmoniosas, nem poderiam ser. As incoerências e divergências entre as duas esferas são frequentes. Os inimigos e adversários políticos buscam tirar proveito dessa situação, agravando as contradições e indispondo a população e a militância contra os seus governos e representantes, sob a acusação de traição e de demagogia eleitoral.

Mais ainda, alianças mal justificadas, mal explicadas e mal discutidas têm sido uma das principais razões do desânimo da militância e do enfraquecimento do Partido dos Trabalhadores. Resulta daí a necessidade de maior proximidade entre os agentes públicos do Partido (governantes e parlamentares) e dos dirigentes partidários com a militância que dá sustentação ao partido, por meio de procedimentos sistemáticos de prestação de contas, esclarecimentos e consultas, práticas essas que tem sido descuidadas sob os mais diversos pretextos. Esta militância precisa estar bem informada e consciente das decisões e opções de partido.

 

– Cultura e comunicação

O partido deve dar atenção aos aspectos simbólicos e ideológicos da sociedade por meio da valorização das manifestações culturais, incorporação do conhecimento teórico e prático e apropriação das novas tecnologia em benefício do povo devem ser preocupações permanentes do Partido.

Ao lado do fortalecimento do sistema de comunicação próprio do Partido dos Trabalhadores, em articulação com outras instituições e movimentos no campo da esquerda, deve-se fazer uma crítica e um combate implacáveis ao modelo de comunicação vigente no país, seja no campo político, seja no âmbito jurídico, exigindo-se direito de resposta e responsabilização criminal pelos atos de calúnia, difamação e disseminação de versões e fatos mentirosos.

 

– Militância e organização partidária

Devemos lutar contra o engessamento institucional do Partido. Neste sentido, qualquer forma de composição interna é possível (Setorial, núcleos, coletivos, tendências, grupos informais, posições independentes), mas é importante que o partido seja capaz de captar essas vozes, submetê-las à critica coletiva e transformá-las em ações programáticas (estratégicas, táticas ou pontuais). Cada filiado, independentemente de pertencer a algum grupamento majoritário ou não, deve sentir-se contemplado na luta do Partido dos Trabalhadores.

O Partido deve apoiar e incentivar a atuação dos seus filiados na esfera privada. A vida política exige uma militância permanente e o exercício da cidadania ativa. Neste sentido, cada militante deve ter presente que a mudança da sociedade pressupõe o exercício da autoridade pessoal e da prática da micropolítica no ambiente de que faz parte. PT saudações.

 

Por Carlos Saraiva e Saraiva, 80 anos, médico e Gilson Duarte Ferreira dos Santos, 67 anos, economista, para a Tribuna de Debates do VI Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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