CPI reforça suspeita de pagamento de propina no Ministério da Saúde
Senadores ouviram Raimundo Brasil, da VTCLog, investigada por contratos superfaturados que teriam beneficiado ex-diretor de Logística da pasta, Roberto Dias
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A suspeita de um esquema no Ministério da Saúde envolvendo a empresa de logística VTCLog em contratos superfaturados para a compra de medicamentos, insumos e a distribuição de vacinas foi objeto das investigações CPI da Covid nesta terça-feira (05). Os senadores ouviram o sócio Raimundo Nonato Brasil e Andreia Lima, advogada e diretora-executiva da empresa. Os dois foram interpelados sobre contratos firmados com a Saúde sem licitação, totalizando R$ 330 milhões. Os senadores investigam ainda a participação no suposto esquema do líder do governo Bolsonaro na Câmara Ricardo Barros, que foi ministro da Saúde no governo Temer.
Foi na gestão de Barros que a VTCLog passou a atuar com mais força, tornando-se responsável pelas operações de logística de armazenamento e transporte de medicamentos e insumos no Brasil, substituindo atribuições do próprio Ministério da Saúde. Em 2018, a empresa assinou um contrato com a pasta no valor de R$ 97 milhões por esses serviços, ainda vigente.
Esta empresa é contratada do Min. da Saúde e que substituiu um setor inteiro do Ministério na era do Sr. Ricardo Barros. O Sr. Roberto Dias que gerencia o contrato com a VTCLog tem um boleto seu pago pela empresa. Não há explicação! São fatos que envergonham o Brasil!#CPIdaCovid pic.twitter.com/XE9ejcC84B
— Rogério Carvalho ??? (@SenadorRogerio) October 5, 2021
Em um dos contratos, de número 59, do ano de 2018, e que previa transporte e armazenagem de insumos, houve um aditivo de R$ 57 milhões. O serviço, que deveria custar R$ 1 milhão, segundo departamento técnico do Ministério da Saúde, acabou com um aditivo de R$ 18 milhões, acatado pelo então diretor de Logística da Saúde, Roberto Dias. Dias foi demitido da pasta em junho, após denuncias de que ele teria pedido propina de U$ 1 por dose de 400 milhões de vacinas da Astrazeneca que seriam vendidas pela empresa Davati Medical Supply.
O senador Humberto Costa (PT-PE) questionou os dois sobre o aditivo de R$ 57 milhões. O aditivo, que teria sido incluído no contrato em virtude de um aumento de demanda, acabou suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em setembro. “Com toda a humildade, esse nosso contrato com a instituição Ministério da Saúde é sob demanda. Se tiver demanda, a gente, a empresa, fatura” disse Raimundo Brasil.
Boletos de Roberto Dias
Costa também quis saber sobre as mais de 100 ligações telefônicas entre Roberto Dias e Andrea Lima e sobre as movimentações bancárias do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, que teria pago boletos em nome de Roberto Dias e realizou saques de mais de R$ 400 mil em espécie para pagamentos da empresa. A CPI, que suspeita que houve pagamento de propina a Dias, apurou movimentações atípicas de até R$ 9 milhões.
Sobre a prática dos saques, Brasil justificou que trata-se de uma empresa familiar, “A gente faz um cheque, vai pro aeroporto, ou no banco, pra pagar despesa da empresa, despesa dos sócios e despesa do nosso agronegócio”, disse o empresário. “O cheque não é para ser sacado e levado pra empresa, jamais.”
Andreia Lima esclareceu que Roberto Dias é cliente da Voetur Turismo e que teria feito depósitos para pagar bilhetes de passagens aéreas. E pagou alguns deles em dinheiro. Os boletos eram, portanto, da Voetur, para quem o servidor devia dinheiro.
“É muito difícil acreditar nessa história”, comentou o senador. “Não dá para aceitar que essa empresa não tenha uma governança que tornasse absolutamente desnecessário ficar mandando o senhor Ivanildo no banco para tirar dinheiro”, argumentou. “ O que vem na nossa cabeça é: dinheiro retirado para, de alguma forma, beneficiar políticos ou funcionários que possam ter ajudado a VTCLog”.
“É muito estranho, porque uma empresa com uma dimensão dessa, que tem só no Ministério da Saúde, um faturamento de R$ 100 milhões por ano, ter um quantitativo de recursos pagos em dinheiro vivo” , afirmou Costa.
“O boleto pago por vocês para Roberto Dias foi no valor de R$47 mil. Se ele, teoricamente, devia alguma coisa, não eram vocês que tinham de ter pago, era ele que tinha pagar o que faltava. Diante disso, fica difícil acreditar que não houve algum tipo de combinação de troca de favores e vantagens entre a empresa e quem controlava o contrato”, observou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
Carvalho (PT-SE) estranhou a composição do quadro societário das empresas Voetur E VTCLog e sustentou que uma suspeita de que a VTCLog pagou propina para ocupantes do alto escalão do governo Bolsonaro pesa sobre a empresa. “Queremos esclarecer se foi solicitado dessa empresa contribuições não devidas por algum membro de algum governo”, afirmou Carvalho. “Se isso aconteceu, uma hora virá a tona”.
Da Redação