CPMI das Fake News avança para investigar “milícias virtuais”
Na última segunda-feira, a ex-líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselman (PSL-SP), confirmou a existência desses grupos pró-governo
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A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que apura a indústria de divulgação de notícias falsas na internet, a CPMI das Fake News, deu mais um passo importante nesta quarta-feira (23), ao aprovar 75 requerimentos de convocação e convites a personagens que podem esclarecer o funcionamento das chamadas “milícias virtuais” que atuaram para favorecer a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018.
Entre os convocados estão empresários que teriam bancado disparos em massa de conteúdos falsos na rede WhatsApp, como o dono das lojas Havan, Luciano Hang, donos de agências produtoras e distribuidoras desse material e funcionários do governo que seriam responsáveis por manter essa ofensiva após a posse de Bolsonaro.
Na última segunda-feira (21), a ex-líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselman (PSL-SP), confirmou a existência dessas “milícias virtuais” pagas com dinheiro público e operadas por funcionários do Palácio do Planalto.
Provocação
Fiel a sua tática de apostar no tumulto para prejudicar o andamento dos trabalhos, a base bolsonarista apresentou uma série de requerimentos de convocação de jornalistas e ex-integrantes de governos petistas — período que está fora do escopo da investigação da CPMI.
Apenas um desses requerimentos, o 76º do dia, foi aprovado — o da deputada federal e presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que foi ministra chefe da Casa Civil da presidenta Dilma Rousseff. A provocação foi uma manobra inócua e sem base legal: a Constituição veda a convocação de parlamentares em exercício de mandato para depor em CPIs.
“Nós temos que ter aqui o cuidado de não desviar o foco da CPMI. Há inúmeros requerimentos que nada têm a ver com o tema desta comissão”, ponderou o líder do PT, senador Humberto Costa (PE). Ele lamentou que a base governista apresente convocatórias e convites para obter o testemunho de pessoas que nada têm a ver com o tema da investigação, que são as fake news.
Esclarecer os fatos
Apesar da tática governista de apostar no tumulto, a larga maioria dos depoimentos aprovados pela CPMI nesta quarta-feira (23) serão essenciais para esclarecer o que de fato faz parte do objeto da investigação, que são os “ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público”, a “utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições 2018”.
Entre os requerimentos de convites e convocações para depoimentos estão nomes e entidades que podem esclarecer os danos causados pela prática de cyberbullying e o aliciamento de crianças para a prática de crimes de ódio e de suicídio—práticas que também são objeto da investigação da CPMI.
Veja as principais convocações aprovadas nesta quarta-feira pela CPMI das Fake News:
– Representante legal da empresa TextNow, apontada como uma das pontas de lança na divulgação de notícias falsas durante o processo eleitoral.
– Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes, Matheus Matos Diniz e Allan dos Santos, coordenadores da chamada “milícia digital” do Palácio do Planalto.
– Leonardo Nunes Silva, sócio da empresa QuickMobile, uma das principais responsáveis pelos disparos de notícias falsas durante a disputa de 2018.
– Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da QuickMobile que, em processo trabalhista contra a empresa, detalhou o processo de disseminação de notícias falsas para favorecer a campanha de Jair Bolsonaro.
– Os empresários Mário Gazin, Luciano Hang (dono da rede de lojas Havan) e Paulo Marinho, apontados como financiadores de milhões de disparos de WhatsApp para favorecer a campanha de Bolsonaro em 2018, caracterizando caixa.
– Fábio Wajngarten, chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).
– Marcos Aurélio Carvalho, Magno Carvalho e Alexandre José Martins, sócios da empresa Am4 Brasil Inteligência Digital, apontada como principal responsável pelo disparo de notícias falsas por WhatsApp para favorecer a campanha de Jair Bolsonaro em 2108.
– Taíse de Almeida Feijó, funcionária da Am4 Brasil Inteligência Digital, que teria apagado os dados no sistema da empresa logo após a publicação da reportagem do jornal Folha de S. Paulo (em 18 de outubro de 2018) denunciando a compra de pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp.
– Filipe G.Martins, assessor internacional da Presidência da República, um dos coordenadores da “milícia virtual de Bolsonaro”, segundo reportagem de Felipe Moura Brasil para a revista Crusoé.
Por PT no Senado