Criada por Lula, UFFS atende filhos de agricultores no Paraná
Universidade possui 89% de nossos alunos vindos de escola pública e ao redor de 87% das famílias tem até três salários mínimos de renda
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A criação de um campus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) na cidade de Laranjeiras do Sul em certa medida se confunde com a história dos movimentos sociais na região. Foi com a doação de três lotes do Assentamento 8 de Junho que a universidade teve um espaço para ser construída, sendo inaugurada em 2010.
Já a história do assentamento é mais antiga, começando no dia 08 de junho de 1997, quando aproximadamente 200 famílias organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) acamparam nas margens da BR- 158, próximo a Laranjeiras.
No ano de 1998, a fazenda Rio do Leão foi ocupada pelos acampados e em 18 de novembro de 1999 a mesma foi desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), beneficiando 74 famílias. Com a cessão de uso de três lotes para construção da UFFS, hoje o assentamento contempla 71 famílias, cujas unidades de produção possuem área aproximada de 14 hectares.
A partir do assentamento, o MST se articulou com outros movimentos sociais do oeste de Santa Catarina e Rio Grande do Sul para pleitearem juntos a criação de universidades federais na região.
“O que interessa nesses assentamentos é discutir a educação no campo. Aqui dentro, a medida que assentamos as famílias, passamos a ter várias escolas do campo, de pré a ensino médio”, relata Elemar do Nascimento, militante do MST e professor da UFFS. “Temos ao redor de 3.000 estudantes só em rio bonito do Iguaçu”, exemplifica sobre a demanda por ensino.
Elemar participou de todo o processo que levou a construção da universidade em Laranjeiras do Sul e conta que inicialmente o movimento queria um instituto federal, que sozinho abarcasse desde a pré-escola até a universidade.
“O município cuidou do básico, o estado do técnico e médio, e começamos uma luta, nos envolvemos com os movimento nos três estados do sul por universidade, no noroeste do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e oeste de Paraná, que é o berço do grandes movimentos sociais do campo no Brasil. O MST, o Movimento dos Pequenos Agricultores, o Movimento dos Atingidos por Barragens, e também aqui é importante a luta indígena”, relembra.
“Os movimentos começaram a debater o ensino superior como direito e não como uma questão de mérito”, explica Elemar. “Em 2005 nós unificamos esse movimento e em 2007 há concordância do governo federal em criar uma universidade. Foi no governo Lula. Fomos a última universidade. O MEC na época estava o Fernando Haddad”.
Pensada para servir aos filhos dos agricultores e dos trabalhadores de pequenas e médias cidades, a UFFS de Laranjeiras do Sul foi muito bem sucedida nesse objetivo, acolhendo também indígenas da região.
Conforme explicou Elemar, “de fato adotamos como critério a escola pública pontuando três [a pontuação é de 30% sobre a nota]. Nós conseguimos de fato em nosso campus, ao redor de 89% de nossos alunos vem de escola pública e ao redor de 87% das famílias tem até três salários mínimos de renda. Ao redor de 83% dos alunos é o primeiro da família a estudar em uma universidade federal”.
“Ela tem um sucesso grande na sua perspectiva de ser uma universidade popular, e de ser includente, ser pública, todos esses elementos que a gente pleiteava e lutava a universidade hoje está atendendo”.
Elemar destaca o curso de alternância, que pode ser frequentado por 15 dias, intercalando 15 dias na cidade natal, como um fator decisivo para atrair comunidades mais reclusas. No município esses cursos são realizados em um espaço do MST chamado Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro).
“Como essa região tem uma das maiores áreas indígenas do Brasil e muito próximas, razoavelmente grandes, nesse centro do MST, que tem parceria com a universidade para sediar cursos de alternância, no Ceagro temos quase 60 indígenas estudando”, conta Elemar.
“Nesses cursos vêm filhos de assentados, pessoas do meio urbano. É um grupo com pouco preconceito ou quase nada com os indígenas, então ele vêm e ficam na universidade. Isso dá elemento para dizer que se queremos incluir os indígenas massivamente na universidade, temos que pensar em cursos de alternância. Assim como esse formato atendeu grande parte dos filhos dos sem terra, dos agricultores. Esse é um formato que garantindo alojamento e alimentação, incluiu um pessoal enorme”.
A região onde está Laranjeiras do Sul apresenta o segundo menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, justificando a necessidade de educação pública, gratuita e de qualidade.
O Campus oferece seis cursos de graduação: Agronomia, com linha de formação em Agroecologia; Ciências Econômicas; Engenharia de Alimentos; Engenharia de Aquicultura; Licenciatura Interdisciplinar em Educação no Campo; e Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo com foco em Ciências Humanas e Sociais.
O campus ainda oferece uma especialização Lato-Sensu em Educação do Campo e duas pós-graduações Stricto-Sensu (nível mestrado) em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável e em Ciência e Tecnologia de Alimentos.
Lula pelo Brasil
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Sul do país, em março, é a quarta etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes. No segundo semestre de 2017, Lula percorreu todos os estados do nordeste, o norte de Minas Gerais, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.
O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista.
Da Redação da Agência PT de Notícias