Datafolha: Maioria da população quer Bolsonaro preso por crimes contra democracia
Pesquisa revela que 52% defendem encarceramento do ex-presidente, enquanto 56% rejeitam anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro
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A maioria dos brasileiros é favorável à prisão de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta terça-feira (8), 52% acham que o ex-presidente deveria pagar por seus crimes na cadeia e 56% são contra a anistia aos golpistas pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
A pesquisa Datafolha entrevistou 3.054 pessoas com mais de 16 anos em 172 cidades de nos três primeiros dias de abril, quatro dias depois de Bolsonaro ter se tornado réu por tentativa de golpe de Estado, após decisão unânime da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Em contraponto aos 52% que defendem a prisão do ex-presidente, 42% consideram que ele não deveria ser preso e 7% não souberam responder. Questionados se Bolsonaro seria, de fato, preso, 41% acreditam que sim e 52%, não.
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Em seu perfil na rede X, o deputado federal Bohn Gass (PT-RS) postou uma enquete. “Datafolha: 52% dos brasileiros acham que Jair Bolsonaro deveria ser preso por tentativa de golpe de Estado. E você, o que você acha?”, questionou.
Datafolha:
52% DOS BRASILEIROS ACHAM QUE JAIR BOLSONARO DEVERIA SER PRESO POR TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO.
E você, o que acha?— Bohn Gass (@BohnGass) April 8, 2025
PL da Anistia é ameaça à democracia, diz CNDH
Sintonizado com o clamor popular constatado pelo Datafolha, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) aprovou nesta segunda-feira (7) uma nota contra a proposta de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. O texto aponta que a movimentação de parlamentares para apresentar um projeto de lei “constitui evidente violação aos interesses da sociedade”
Vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o CNDH classificou como “inaceitável” iniciativas que busquem perdoar os responsáveis pelos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília dia 8 de janeiro de 2023. Para o CDNF, o PL da Anistia significa ameaça à democracia.
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“Tal proposta não promove a paz, ao contrário, fragiliza o pacto democrático e agride o princípio da igualdade perante a lei”, disse a presidente do CNDH, Charlene Borges, em entrevista à Folha. Na nota, o Conselho destaca que a proposta de anistia visa beneficiar “um grupo que promoveu e promove no país o engendramento de uma política contrária à democracia”.
Contra a cultura da impunidade
Também nesta segunda-feira (7), o relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para Promoção da Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não Repetição, Bernard Duhaime, em entrevista à imprensa em seu último dia de visita ao Brasil, fez críticas à Lei da Anistia pós-ditadura e citou ‘cultura da impunidade’ evidenciada no 8 de janeiro”, conforme divulgado pelo jornal o Globo.
Duhaime afirmou que o país vivenciou ‘violências institucionais em larga escala’ contra diversos setores da sociedade e apresentou suas primeiras impressões sobre as ações que o país tem tomado em relação às violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar (1964-1985).
Bolsonaro “glorificou” a ditadura, disse relator da ONU
Para ele, a “cultura de impunidade” criada pela Lei da Anistia fica evidente na “tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro”. O Brasil vivenciou “violências institucionais em larga escala” contra diversos setores da sociedade, disse ele, ao observar que a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), criada em 1995, e a Comissão Nacional da Verdade (CMV), de 2014, foram fundamentais para o combate à impunidade imposta pela Lei da Anistia aos responsáveis pelos atos violentos e desaparecimentos forçados.
O relator reconheceu que a CEMDP teve o funcionamento prejudicado sob Bolsonaro, que a enfraqueceu até declará-la extinta e ainda “glorificou” a ditadura.
Reunião com deputado petista
Depois de Brasília, onde visitou o Hospital Universitário de Brasília (HUB), vinculado à Universidade de Brasília (UnB), para analisar as ossadas de pessoas assassinadas pela ditadura na guerrilha do Araguaia, Duhaime esteve em São Paulo. Ele se reuniu com autoridades, representantes de organizações da sociedade civil, vítimas, acadêmicos e políticos, entre eles o deputado federal Reimont (PT-RJ) e visitou locais de memórias e antigos centros de detenção.
Duhaime salientou que acompanhará atentamente os desdobramentos dos julgamentos dos acusados e processados pela tentativa de golpe de Estado no Brasil, em 2022 e no início de 2023 e informou que irá preparar um relatório sobre como o Estado brasileiro está lidando com os crimes cometidos durante a ditadura militar. O documento será apresentado em setembro, na Suíça, ao Conselho de Direitos Humanos da organização.
“Há vários problemas em relação à compatibilidade da Lei de Anistia com a legislação internacional de direitos humanos. Então, acho que, em 2025, seria importante revisitar esse assunto para garantir que a lei esteja de acordo com a lei internacional de direitos humanos”, afirmou.
Duhaime se mostrou preocupado também com a falta de iniciativas de preservação da memória de alguns locais relacionados a violações de direitos humanos durante a ditadura, como os prédios do DOI-Codi, em São Paulo, do Dops, no Rio de Janeiro, e da Casa da Morte, em Petrópolis.
Da Redação, com O Globo e Agência Brasil