“Dedo na ferida” da Lava Jato expõe corrupção jurídica e práticas ilegais
“A denúncia de Augusto Aras apenas vem fortalecer uma coisa que o PT já vem denunciando há muito tempo”, afirmou o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Enio Verri (PR). “Precisamos abrir de forma urgente a CPI para tratarmos da Operação Lava Jato. É preciso que todos os setores da sociedade fiquem sabendo exatamente que papel essa Operação vem cumprindo na democracia brasileira”, afirmou
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A declaração do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro em resposta ao procurador-geral da República, Augusto Aras, é mais um capítulo de sua verborragia para tentar encobrir a prática criminosa da operação Lava Jato contra os interesses nacionais. “Desconheço segredos ilícitos no âmbito da Lava Jato. Ao contrário, a Operação sempre foi transparente e teve suas decisões confirmadas pelos tribunais de segunda instância e também pelas Cortes superiores, como STJ e STF”, afirmou Moro em seu perfil de Twitter. Agora questionada pelo procurador-geral da República, a “caixa-preta” da Lava Jato já teve suas ações fraudulentas fartamente denunciadas pelo site The Intercept e outras publicações.
“A denúncia de Augusto Aras apenas vem fortalecer uma coisa que o PT já vem denunciando há muito tempo”, afirmou o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Enio Verri (PR). “Precisamos abrir de forma urgente a CPI para tratarmos da Operação Lava Jato. É preciso que todos os setores da sociedade fiquem sabendo exatamente que papel essa Operação vem cumprindo na democracia brasileira”, afirmou. De acordo com Enio Verri, a CPI poderá revelar, por exemplo, “porque a Operação Lava Jato perseguiu tanto o PT, estimulando o golpe de 2016 contra a então presidenta Dilma Rousseff, prendendo Luiz Inácio Lula da Silva e ainda impedindo a sua candidatura em 2018”.
Para o jurista Lenio Streck, Augusto Aras “colocou o dedo na ferida”. “Dói. Mas espero que disso se tire lições. Não há espaço para a formação de ilhas dentro do MP. Não há espaço para coisas secretas. Não há espaço, na República, para arapongagem, como denunciou o PGR Aras”, afirmou Streck em artigo publicado no portal Brasil 247. “O PGR denunciou que existem — pasmem — 50 mil documentos ‘escondidos’ da Corregedoria, o que levou o MPF a mudar regras de acesso a processos disponíveis no sistema eletrônico interno da instituição”, advertiu Streck. Nas palavras do próprio Aras, “não se pode imaginar que uma unidade institucional se faça com segredos”.
Quais eram os verdadeiros interesses da Lava Jato e de Sergio Moro ao perseguirem @LulaOficial? @czmartins, advogado do ex-presidente, explica. #AnulaSTF pic.twitter.com/xN9ox2HoeT
— Instituto Lula (@inst_lula) July 29, 2020
“A transparência afirmada pela Lava Jato de Curitiba não é verdadeira”, rechaçou o advogado de Lula, Cristiano Zanin, lembrando de Reclamação que tramita no STF (33.543) desde 02/2019, “mostrando a existência de procedimentos sem acesso à defesa, como é o caso dos autos do Acordo de Leniência da Odebrecht”. A prática da operação Lava Jato, desde sua origem, é marcada por atropelos à legislação nacional, relações internacionais obscuras e desvios de conduta profissional. Na base das irregularidades que Moro tenta negar está seu papel de “comandante” das operações, quando deveria cumprir a função de juiz. O exercício ilegal de sua função chegou ao ponto de pedir o afastamento de uma procuradora por seu “fraco desempenho” em arguição do ex-presidente Lula.
A pretensa defesa do ex-juiz Sérgio Moro não sobrevive a uma breve leitura da série #VazaJato, publicada pelo portal The Intercept e, mais recentemente, por matéria da Agência Pública. A série do The Intercept denunciou, por exemplo, a manipulação das investigações da operação para impedir a candidatura do ex-presidente Lula. A relação ilegal e promíscua com o FBI, denunciada pela Agência Pública, facilitou informações para a Petrobras ser processada pelos norte-americanos. A contrapartida da ilegalidade resultou em depósito de R$ 2,5 bi por parte da Petrobras que, não fosse a ação do STF, seriam investidos em um obscuro instituto, sob administração dos procuradores.