Depois da saída de Dilma, voo da economia vira fiasco neoliberal
Quatro anos depois do Golpe, promessas de retomada e desenvolvimento ficam distantes. Cartilha conservadora levou à derrocada do país, que vive a maior contração econômica desde o século 20
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A saída de Dilma Rousseff do poder, exatamente há quatro anos, levou o país ao mais grave retrocesso social e econômico dos últimos 120 anos, com aumento brutal da desigualdade e o empobrecimento progressivo da população. Os dados estão nas páginas dos jornais nesta terça-feira (12) e mostram que a década de 20 já pode ser considerada perdida, com um aumento pífio de 1,9% da economia, a pior desde o início do século 20.
Nos últimos 120 anos, nunca o Brasil cresceu tão pouco. Entre 2000 e 2010, no governo Lula, o país cresceu 43,6%. Entre 1991 e 2000, com Fernando Henrique, 29,4%. Nos anos 80 – chamados de “década perdida” – o crescimento foi de 16,9%. Mesmo entre 1901 e 1910, o país – agrário, pobre e rural – crescia, em média, 5,15% ao ano. No período de Getúlio Vargas, na década de 50, o Brasil cresceu 103%. Agora, o país virou um vira-lata, sem expressão econômica porque o governo Bolsonaro não acredita em investimento público.
Por enquanto, a cartilha neoliberal mostra que só os ricos têm o que comemorar com o governo liderado na economia pelo Posto Ipiranga, o ministro Paulo Guedes. A concentração continua a privilegiar aqueles que estão no topo da pirâmide social brasileira: 1% mais ricos detêm 29% da renda nacional. E os pobres continuam mais pobres. A pobreza extrema cresceu pelo quarto ano consecutivo no país, somando 13,8 milhões de pessoas em 2019. É o maior nível em oito anos.
Não há nenhum dado positivo – econômico ou social no país –, quatro anos depois do Golpe de 2016. A queda do PIB brasileiro em 2020 será superior a 10%, de acordo com estimativas do mercado, em função da política equivocada do ministro Paulo Guedes – que proíbe investimentos públicos e promove o mais brutal arrocho fiscal, sacrificando o povo e retirando direitos da Constituição – e a combinação fatal da perda de atividade diante da pandemia. Como se não bastasse isso, o desemprego cresceu 31% em março e abril e o país pode ter mais de 25 milhões de desempregados, além dos 50 milhões jogados na informalidade.
Fracasso colossal
É um fracasso colossal para quem jurava que basta tirar Dilma para o país voltar a crescer. Que cobrava da presidenta da República o dólar a R$ 2,50, sendo que hoje o Real é a moeda mais desvalorizada do planeta. A moeda americana está cotada a R$ 5,81. Nas classes D e E, a pandemia levou 51% dos brasileiros a perderem metade da renda ou mais. E, de acordo com o IBGE, os 10% mais ricos ficaram no ano passado com 43% da renda nacional.
O país é um campeão da desigualdade, sob Bolsonaro e Paulo Guedes. Este é o triste retrato do Brasil, quatro anos após o afastamento de Dilma Rousseff, que deixou a Presidência da República em 12 de maio de 2016 para não mais voltar. O país caminha ainda celeremente para voltar ao Mapa da Fome, de acordo com a própria Organização das Nações Unidas.
O governo Bolsonaro é responsável direto por 1,5 milhão de brasileiros que perderam o trabalho em março e abril. Outros 7 milhões de trabalhadores tiveram salário e jornada cortados após pandemia, graças à famigerada MP 376, baixada pelo governo para evitar demissões, e que provocou perda de salário e renda. O choque atinge diretamente a 21% dos empregados com carteira assinada do país.
Pesquisadores da USP estimam que a crise do coronavírus expôs 81% da força de trabalho à perda de renda. “Pessoas que teriam melhores condições de enfrentar crises econômicas no passado estão desprotegidas”, diz o sociólogo Rogério Barbosa, segundo relato da ‘Folha de S.Paulo’.