Depois de fechar as fábricas, Ford retira seu banco do Brasil

Empresa de serviços financeiros da montadora norte-americana encerrará operações e demitirá trabalhadores

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Após anunciar em janeiro o fechamento das fábricas no Brasil, a Ford agora avisa que também vai encerrar as operações de sua empresa de serviços financeiros, a Ford Credit, no Brasil e na Argentina. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (28) em posicionamento oficial, no qual a empresa norte-americana também afirmou que “haverá desligamentos”, mas sem divulgar o número de trabalhadores que serão demitidos.

“Iniciaremos a transição das operações de financiamento no atacado para bancos preferenciais no Brasil e Argentina. As operações de varejo nesses mercados já atendem consumidores por meio de acordos com fornecedores preferenciais”, afirmou a multinacional em nota.

Há cinco meses, a Ford havia anunciado o fim da produção de veículos em suas fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), para carros da Ford, e em Horizonte (CE), para jipes da marca Troller. Mas a empresa, que fechou 2020 como a quinta que mais vendeu carros no país, com 7,14% do mercado, continuará comercializando produtos no Brasil. Eles serão importados principalmente da Argentina e do Uruguai.

Embora a empresa já tivesse fechado, em 2019, a fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo (SP), a decisão da matriz norte-americana pegou de surpresa governos e trabalhadores. A Ford já fechou acordos de indenização com os cerca de cinco mil metalúrgicos de Camaçari e Taubaté, após entendimento com os sindicatos.

Segundo Julio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, além das verbas rescisórias garantidas por lei, os funcionários do chão de fábrica e os administrativos receberão, respectivamente, dois salários e um salário a mais por ano trabalhado. Todos terão direito a um valor mínimo de R$ 130 mil.

A montadora continua produzindo apenas os jipes da Troller no Ceará, cuja fábrica vai parar de funcionar no terceiro trimestre do ano. O governador cearense, Camilo Santana (PT), acompanha as negociações com dois interessados na Troller, articulando para que o eventual comprador mantenha a produção do jipe, assim como os 500 empregos.

A empresa também negocia um acordo com o governo da Bahia. O governador Rui Costa (PT) exige indenização pelo fechamento da fábrica de Camaçari, após a companhia ter recebido incentivos fiscais desde o início de suas operações no estado, em 2001. A conta passaria de R$ 4 bilhões. Fiscais do estado já estavam intimando a empresa.

A Ford optou pelo acordo para não repetir o episódio de sua saída do Rio Grande do Sul, em 1999, na época governado por Olívio Dutra (PT). A disputa se arrastou por uma década e meia e terminou em derrota para a montadora, que teve que pagar R$ 216 milhões aos cofres estaduais.

Êxodo de empresas do país

Ao anunciar a saída do Brasil, a Ford calculou em R$ 4,5 bilhões os valores a serem pagos em indenizações com governos, trabalhadores, distribuidores e fornecedores. Mas a conta poderá chegar a R$ 6 bilhões. A empresa tem que devolver um empréstimo de R$ 335 milhões ao BNDES, fazer acordos com a rede de distribuidores e resolver várias pendências. De 283 lojas, a Ford vai ficar com 120 para vender modelos importados.

A saída da montadora norte-americana do Brasil ocorre simultaneamente a movimentos semelhantes de outras grandes corporações. A japonesa Sony, que mantinha uma fábrica havia 48 anos na Zona Franca de Manaus, onde produzia TVs, câmeras e produtos de áudio, encerrou as operações em março.

Outro gigante de saída é a indústria de cimento franco-suíça LafargeHolcim, que decidiu, em abril, vender o negócio. O objetivo é o de reduzir a presença no mercado de cimento e ampliar nos segmentos de materiais de construção. Também teria pesado a decisão de se concentrar em países de moeda forte e onde possa ter maior rentabilidade.

Mesmo empresas da nova economia estão optando por sair do Brasil. A Cabify, que operava serviços de mobilidade em oito cidades brasileiras, alegou a busca por maior rentabilidade e a preocupação com questões sanitárias e socioeconômicas para deixar de operar no Brasil a partir de 15 de junho.

Desde 2017, pelo menos 21 multinacionais anunciaram a saída do país ou promoveram fortes reestruturações dos negócios. O investimento estrangeiro no setor produtivo encolheu 51% no Brasil em 2020, para US$ 34,2 bilhões, o equivalente a 2,37% do PIB. Foi o menor valor desde 2009, ano dos principais impactos da crise do subprime.

Outro termômetro que revela a queda do interesse pelo Brasil está nas fusões e aquisições de empresas. Houve 225 operações com a participação de estrangeiros em 2020, queda de 23% em relação a 2019 e menor número de transações desde 2010, segundo a consultoria PwC (PricewaterhouseCoopers). Desde o início da série histórica, em 2002, a participação externa no número de negócios nunca foi tão pequena (22,3%).

Da Redação

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