Desafios do Foro de São Paulo na guerra digital e no combate a fake news
Movimentos sociais e sindicais afirmam que debates passam pela disputa de novas gerações e ideias, volta às ruas, brigadas digitais e democratização das comunicações
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Marca mundial dos movimentos de esquerda, as mobilizações de rua perderam “espaço” desde 2019, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia de Covid-19 no planeta, para a ocupação das redes sociais por movimentos de extrema-direita e sua pauta de costumes e de proliferação do grande negócio que são as fake news.
Esse cenário de terra fértil ao debate de costumes e proliferação de mentiras como formas desconstrução fez encolher as mobilizações de massas devido ao risco de contágio por coronavírus e possibilitou o domínio de redes sociais a partir do poder econômico pelo conservadorismo.
Nesta 26ª edição, o Foro de São Paulo, realizado de 29 de junho a 2 de julho, em Brasília, tem como objetivo continuar construindo ações unitárias entre os partidos políticos e movimentos sociais do campo progressista e de esquerda.
A organização do evento e representantes de setoriais – como mulheres, juventude, movimentos sociais, sindicais e de defesa da terra, debaterão a integração regional, quais propostas na integração são essenciais para os povos como, por exemplo, a mobilidade acadêmica de estudantes universitários em uma rede de universidades latino-americanas.
O coordenador político da Confederação Sindical de Trabalhadores(as) das Américas, Ivan Gonzales, disse que a CSA Sindical reivindica a democratização das comunicações como um conteúdo essencial da pauta política e democrática.
“A disputa pelo relato frente à hegemonia neoliberal faz com que o campo das comunicações seja um cenário fundamental para impulsionar os valores da solidariedade, a luta pelos direitos, a organização e a luta da classe trabalhadora”, disse Gonzales.
Para o coordenador, esses desafios não serão superados sem antes ampliar a presença dos movimentos sociais e sindicais nas diferentes plataformas de comunicação como forma de avanço da perspectiva progressista, democrática e do desenvolvimento sustentável, “como programa superador da lógica violenta do capitalismo”.
Gonzales afirma que, em 2021, a Conferência Continental de Comunicação Sindical traçou uma “Hoja de Ruta” para o sindicalismo das Américas, no qual a luta contra o discurso de ódio, as fake News, a manipulação das mídias sociais constitui uma parte das tarefas da comunicação sindical.
“Estabelecer alianças com o movimento das mídias alternativas, criar linguagens próprias para nos comunicarmos com as bases, apoiar a comunicação de nossos sindicatos e demandar uma presença mais ativa dos estados na democratização das comunicações fazem parte da agenda sindical no enfrentamento do poder corporativo midiático e do conservadorismo econômico e político na região”, comenta.
Brigadas Digitais
Na avaliação de Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT (Central Única dos Trabalhadores), a utilização correta e efetiva das redes sociais ainda é um grande desafio para os movimentos sociais e, especialmente, os sindicais. Para ele, importantes passos já foram dados e todas as entidades têm procurado se fortalecer nesses campos.
“No caso do movimento sindical e da CUT, nós tivemos durante o ano passado, especificamente, um papel importante na disputa e nas redes sociais com relação às eleições brasileiras, principalmente, a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir da criação da estratégia que chamamos de Brigadas Digitais, com as quais conseguimos organizar milhares de grupos no país inteiro para fazer a disputa política”, afirmou Lisboa.
O dirigente disse que essa foi uma experiência importante que deve ser fortalecida, mas já deu um resultado extremamente importante nas eleições de 2022. “Acho que no dia a dia da luta contra a extrema-direita essa experiência das Brigadas Digitais, certamente, pode ser multiplicada ainda mais para servir de experiência para a região.”
Barreiras virtuais
A secretária Nacional de Mulheres do PT, Anne Caroline Moura, afirma que a organicidade dos movimentos deve ultrapassar as barreiras virtuais e que as mobilizações populares não se podem ficar apenas a cargo das redes sociais, ponderando que os tempos mudaram e os dirigentes precisam se adaptar.
“Por isso, grupos, listas de transmissões, lives, um grupo composto por comunicadoras populares de todo o país, videoaulas de formação, a exemplo da TV Elas por Elas, implementada pelo Partido dos Trabalhadores, são ótimas ferramentas para manter a militância ativa e informada”, afirmou.
A dirigente ressalta que outro fator importante no campo digital é a checagem de fatos e de dados. “É um dever de toda pessoa que está na política e que se considera progressista. A valorização da verdade deve ser sempre o nosso norte.”
Disputa de ideias
Representante do setor de Relações Internacionais da coordenação Nacional do MST, Messilene Gorete comenta que, atualmente, a luta de classes está cada vez mais complexa e passa, principalmente, pela disputa das ideais, área em que o capital permanece com grande hegemonia cultural e economicamente.
“As redes sociais passaram a ser um dos grandes campos de batalha. E nós, os movimentos populares, estamos sendo obrigados a nos preparar e nos reorganizar para enfrentar essa nova fase da luta ideológica”, comenta.
Messilene pondera que há avanços nos mecanismos de como os movimentos populares têm atuado nas redes sociais, fazendo o enfrentamento de ideias difundidas pela extrema-direita.
Apesar dos desafios, esse é um terreno ainda muito complexo para a atuação do campo progressista. “É um inimigo, praticamente, invisível, atuando em todas as dimensões humanas, da sociedade e conta com muitos interesses econômicos envolvidos. “Por isso, temos que nos preparar mais e mais para essa nova fase da disputa de classes, mas a luta de massas, de rua, o dialogo direto com as pessoas e com a sociedade ainda seguem como os instrumentos mais poderoso para combater os fascistas e as ideias conservadoras da sociedade.”
Novas gerações
De acordo com Alexandre Pupo, representante do Coletivo Internacional da JPT, as últimas eleições na região mostraram o poder das redes sociais como território de disputa política, mas cada vez mais e, principalmente, as novas gerações têm ocupado essas redes de forma orgânica, disputando e apresentando a política em uma nova linguagem, própria para esse espaço.
“Eu acredito que esse seja o caminho. As redes sociais e seus algoritmos são moldados de forma colaborativa, com a formação de comunidades, de trends e de tendências. Temos que ocupá-las, aprender como funcionam e atuar por dentro delas”, defende.
Da Redação