Economia verde pode resgatar protagonismo do Brasil, aponta Seminário
Combate à desigualdade, sistemas agroflorestais, crescimento inclusivo, transição tecnológica e ambiental e transformação da base produtiva estão entre as recomendações de especialistas
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O quadro é alarmante. E vem piorando a cada informe atualizado do IPCC, sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, instrumento do Programa das Nações Unidas para medir o tamanho do problema humano nessa área. E não há muitas opções pela frente. Mas a boa notícia é que há opções. E elas foram discutidas nesta quinta-feira (17) no Seminário Resistência, Travessia e Esperança – tema: Transição Ecológica, uma iniciativa do PT, Fundação Perseu Abramo, Instituto Lula e bancadas do partido no Congresso.
E por que é alarmante? Segundo a bióloga, pesquisadora e professora da UnB, Mercedes Bustamante, o consenso científico sobre o assunto evoluiu nos últimos 30 anos, e “as mudanças climáticas têm sido rápidas e severas. Entramos num novo regime climático”. Em números, a mundo está 1,1°C mais quente, em média, desde a revolução industrial, e pode chegar a 1,5 °C até 2050, talvez antes. Os oceanos, responsáveis pelo ciclo de chuvas e pela metade do oxigênio do planeta, também estão doentes, demonstrou Alexandre Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP).
Nas cidades, explicou o urbanista e também professor João Witacker, da Universidade de São Paulo, a cada ciclo de crescimento econômico temos o agravamento de impactos ambientais, em razão de mais construções, mais carros nas ruas, mais emissão de gases de efeito estufa. Já na opinião de Camila Gramkow, doutora em Economia da Mudança Climática, “a humanidade nem mesmo tem a opção de seguir no atual cenário de desenvolvimento”. E a cada manifestação das mudanças do clima quem paga preço maior são as populações mais vulneráveis, que se equilibram nas encostas de morros ou sobem escoras nas beiras de rios. O economista e professor Marcio Pochmann sintetizou o drama, ao lembrar que nosso modelo de produção e de consumo chegou ao limite.
Então, como mudar as linhas desse roteiro apocalíptico? A partir da transformação da economia, nas palavras de Camila Gramkow, e com a adoção, pelo Brasil, de uma postura ativa. Ela sugere que o país parta para a inclusão produtiva em pequenas escalas nas terras amazônicas, mantendo a floresta em pé, em sinergia com povos tradicionais e combinando conhecimentos modernos com tecnologias ancestrais. É a economia verde. Aliado a isso, o Brasil pode mudar sua matriz produtiva e passar a investir na fabricação de turbinas eólicas, motores elétricos e outros equipamentos demandados mundo afora. “A chave que vira é a das capacidades nacionais pela inclusão produtiva, complementa a pesquisadora”.
Nessa nova economia, ganha espaço a mais primitiva das tecnologias para sequestrar carbono: a fotossíntese. “Países como o Brasil têm grande possibilidade de conservar e fazer boa transição, evitando desmatamento, manejando adequadamente o solo e recuperando a floresta nativa para aumentar o sequestro de carbono”, recomenda Mercedes Bustamante, lembrando que a agricultura e o desmatamento são responsáveis por cerca de dois terços das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) no Brasil. Ou seja, a conservação é a melhor aliada da agricultura, uma vez que evitando queimadas e mantendo a vegetação nativa, garante-se menos emissão de GEEs e, assim, impacto menor nas mudanças de temperatura e na disponibilidade de água, essencial para a lavoura.
“Acabar com a desigualdade é o maior serviço para resolver o problema ambiental”. A defesa foi feita pelo professor João Witacker, que elencou fatores que considera danosos para a transição ecológica nos centros urbanos. A começar pela falta de democratização dos espaços. “A construção de um edifício com sistema de energia inteligente é comemorada, enquanto uma população inteira é forçada a morar junto a um manancial de água ou numa encosta de morro”, provoca Witacker, questionando o resultado dessa equação na conta do impacto ambiental. É o caso também do saneamento básico. “Entre 30 e 40% de esgotos de algumas das grandes cidades não são tratados, embora sejam recolhidos”, destaca o professor, que reclama ainda uma mudança cultural sobre o transporte público, que, segundo ele, deve ser encarado pelo Estado como investimento, e não como gasto: “o transporte público garante a inclusão pelo deslocamento. O contrário é exclusão”.
As conclusões do seminário, que serão sistematizadas para subsidiar o programa de governo do PT nas eleições de outubro, apontaram janelas de oportunidade para o Brasil. O turismo ganha, se houver cuidado ambiental com o oceano; a qualidade de vida da população melhora a partir de programas que possibilitem um sistema alimentar saudável e a democratização dos espaços urbanos; a política de pagamentos por serviços ambientais pode ser revertida em geração de emprego e renda em comunidades mais afastadas, o extrativismo dinâmico rende divisas ao tempo em que preserva o bioma. Ao analisar o que considera “a pauta do futuro”, o líder do PT na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG), projetou que “o Brasil pode ser um grande player na economia mundial com essa nova economia. É impensável que essa transição ecológica não esteja presente. O Brasil tem todas as condições de gerar milhões de empregos com a economia verde”. Uma rima com o que concluiu Márcio Pochmann: “o PT tem a chance histórica de ser protagonista desse novo papel necessário no século 21”.
Do PT no Senado