#EleNão: Em SP, mulheres lideram marcha de 500 mil contra o fascismo

A mobilização liderada pelas mulheres foi um grito contrário ao discurso de ódio propagado pelo candidato do PSL

Isa Luchtenberg

Ato Mulheres Contra Bolsonaro em São Paulo

“As mulheres são a nossa voz e a nossa esperança de um Brasil justo e desenvolvido.” As palavras da candidata a vice-presidenta Manuela D’Ávila serão lembradas como parte de um dia sem precedentes na história do Brasil.

Sob a expressão de ordem #EleNão, aproximadamente 500 mil pessoas tomaram as ruas da cidade São Paulo em uma manifestação histórica liderada pelas mulheres contra o discurso de ódio e a intolerância representada pelo candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro.

A mobilização nas ruas é resultado da organização política das mulheres, que começou nas redes sociais, com o grupo no Facebook “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” e a expressão #EleNão, que rompeu fronteiras, sendo usada por famosas e anônimas em diversos países do mundo.

O sol das 15h e a temperatura que se aproximava dos 30 ºC não foram empecilho para as mulheres, que chegavam em grupos por todas as ruas do entorno do Largo da Batata. Em pouco tempo o local já estava completamente tomado por homens e mulheres, com cartazes, faixas, com seus corpos e suas vozes, que em um grito único entoavam ‘ele não’. O coro foi reforçado por artistas, entre cantoras e poetas, que se revezaram no carro de som.

“É um grito em defesa da nossa pauta mínima, e o mínimo pra nós é o respeito à nossa vida, à nossa dignidade e à nossa contribuição”, reforçou Manuela D’Ávila.

A candidata saiu em marcha, com sua filha Laura nos braços, rumo à Avenida Paulista. A caminhada percorreu quase cinco quilômetros, passando pelas avenidas Faria Lima, Rebouças e Paulista.

A candidata a vice-presidente Manuela D’Ávila participa de manifestação em São Paulo. Foto: Jorge Araújo

A manifestação ganhou adeptos durante o trajeto e, para quem estava no meio, era impossível enxergar onde ela começava ou terminava. As músicas temáticas e as palavras de ordem não cessaram um minuto sequer, passando por uma variedade de cantos que perdurou por mais de cinco horas.

“Nem fraquejada, e nem do lar. A mulherada tá na rua pra lutar!”

Foi com esse espírito que a funcionária pública Patrícia Augusta saiu de casa neste dia 29 de setembro. Com lembranças de participação nas mobilizações pelas Diretas Já, levada pelos pais, e nas históricas greves sindicais do ABC Paulista, ela não se furtou de estar presente, mais uma vez, em um momento decisivo para a história do Brasil

“Ele [Bolsonaro] é o oposto de tudo que a gente entende por caráter e respeito humano. Eu acredito no povo, na rua, na liberdade e sobretudo nas mulheres, por isso não poderia deixar de estar aqui”, afirmou.

A ameaça de retrocessos representada pelo candidato do PSL é consenso entre as mulheres, como aponta a jornalista Kate Medeiros. “Ele tem um discurso que é muito cruel com relação à vida das mulheres, à comunidade LGBT. Acredito que juntas nós podemos levar o Brasil para o status onde ele estava antes do golpe, porque corremos o risco de retroceder muito mais com ele”, declarou.

A intensa mobilização das mulheres, nas ruas e nas redes, tem refletido nas pesquisas de intenção de votos, que mostram o candidato do PSL como o mais rejeitado pelo eleitorado feminino. O último levantamento divulgado pelo Ibope na segunda-feira (24) mostra que entre as mulheres o índice de rejeição do presidenciável é de 52%.

Ato contra Jair Bolsonaro no Largo da Batata. Reprodução

O capitão reformado do Exército já declarou que defende a ditadura e fez elogios ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que torturou, entre outras pessoas, a presidenta eleita, Dilma Rousseff. Recentemente, o vice da chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), afirmou que famílias chefiadas só por mães e avós são “fábricas de desajustados”, o que gerou uma onda de críticas e ampliou a rejeição à chapa.

A aversão ao candidato também é corroborada pela ativista feminista Stephanie Ribeiro, que enxerga o presidenciável como um símbolo da violência.

“Nós que somos mulheres negras e estamos na base da pirâmide desse país corremos muitos riscos. Porque toda vez que nos colocamos em um lugar que as pessoas entendem que não é nosso, lidamos com a violência. Imagina viver em um país onde essa violência pode ser representada por um chefe de Estado?”, questiona.

Manifesto das Mulheres Unidas Contra Bolsonaro

A caminhada que seguiu até a Avenida Paulista chegou ao fim das proximidades do MASP, por volta das 20h30, onde foi lido pela segunda vez o ‘Manifesto das Mulheres Unidas Contra Bolsonaro’.

Em vozes alternadas, mulheres de movimentos populares que participaram da organização do ato fizeram a leitura do documento.

“Estamos, hoje, juntas e de cabeça erguida nas ruas de todo o Brasil porque um candidato à presidência do País, com um discurso fundado no ódio, na intolerância, no autoritarismo e no atraso, ameaça nossas conquistas e nossa já difícil existência”, diz um trecho do texto construído pelas mãos das mulheres.

Ao seu final, o manifesto destaca que “ele prega o ódio, nós pregamos o respeito. Ele defende a morte e a tortura, nós defendemos a vida. Por isso dizemos: ele não.”

Por Geisa Marques, da Comunicação Elas por Elas

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