Elvino Bohn Gass: O ajuste do ajuste

A reeleição de Dilma foi demais para uma oposição que nunca soube fazer política longe do centro de decisão e que, historicamente, se manteve no poder à custa de baixos…

A reeleição de Dilma foi demais para uma oposição que nunca soube fazer política longe do centro de decisão e que, historicamente, se manteve no poder à custa de baixos investimentos sociais e dinheiro distribuído a apaniguados. Em 2002, Lula rompeu esse ciclo: venceu a eleição e passou a adotar políticas públicas revolucionárias na agricultura familiar, na educação, no campo social e na área de política externa. Desde então, o Brasil projetou-se no mundo como nação que respeita seu povo. Lula superou as expectativas; com ele, o país cresceu e distribuiu renda.

Em 2008 veio a mais grave crise econômica mundial desde 1929. O Brasil resistiu bravamente, mantendo a inflação, empregos, investimentos e reservas em níveis extraordinariamente satisfatórios. Em plena crise, saiu do mapa da fome. Mas não somos uma ilha e a crise, afinal, nos atingiu. Às dificuldades econômicas juntaram-se os escândalos de corrupção que hoje vêm à tona porque há um governo que não mais engaveta malfeitos. A oposição PSDB/ DEM, derrotada nas umas, resolveu apostar na combinação crise/corrupção.

Algo como: “E se culpássemos o PT por tudo o que está acontecendo?” Havia chances de a mentira prosperar; afinal, contavam não apenas com a eterna conivência midiática, mas, também, com uma população vulnerabilizada pelas dificuldades econômicas e indignada com a roubalheira. Foi assim que a oposição passou a adotar um comportamento tão cínico que nega evidências: de que há muita gente sua metida na ladroagem e de que a crise é mundial. Chegaram a tentar justificar um impeachment com base em “pedaladas fiscais” meros encontros de contas entre governo e bancos públicos, corriqueiros em outras gestões (de FHC, inclusive).

Dilma seguiu firme no combate à crise, com medidas que, agora, geram observações legítimas do ex-presidente Lula. Ele pondera, por exemplo, que os cortes de gastos públicos não podem colocar em risco programas sociais. Pois entendeu que isso daria razão à oposição derrotada na eleição, que dizia ser o Estado brasileiro grande demais nas mãos do PT. Para Lula, a cada sinal de austeridade ao mercado, deve corresponder um recado mais alto e claro aos trabalhadores de que seus direitos serão respeitados e os programas sociais mantidos.

Não é uma equação simples quando se tem, de um lado, compromisso com o combate à inflação e ao desemprego e, de outro, os representantes do deus mercado, a oposição e a mídia a fazer pressão contrária. O alerta de Lula é de que não se deve ceder à narrativa da crise. Por isso, em lugar de elevar juros, por exemplo, deve-se pensar em taxar grandes fortunas e ganhos de capital, não de salário. Mas, note-se: Lula opina, não boicota. Sugere simplesmente um ajuste do ajuste. Quem disser o contrário desconhece a história de debates no PT. Ou pretende simplesmente enfraquecer o governo. Isso Lula não quer e não faz. Porque isso é parte do golpismo.

(Artigo inicialmente publicado no jornal “O Globo”, no dia 7 de dezembro de 2015)

Elvino Bohn Gass é deputado federal (PT-RS)

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