Em 10 dias, Bolsonaro ofende vítimas da ditadura, nordestinos e jornalistas

Desde o dia 19 de julho, declarações também atacam defensores do meio ambiente e órgãos do governo, além dos conteúdos preconceituosos, mentiroso e até criminosos

Alan Santos/PR

Bolsonaro está fora de controle. Nos últimos dias, Jair faz questão de demonstrar todo o seu lado preconceituoso, na verdade um perfil já conhecido dos quase 30 anos desperdiçados na Câmara dos Deputados e que veio à tona nas eleições de 2018.

As declarações feitas nas últimas duas semanas foram marcadas por ataques a jornalistas, como Glenn Greenwald e Miriam Leitão, aos nordestinos, e até ao presidente da OAB, quando ironizou o assassinato de seu pai Fernando Santos Cruz pela ditadura militar. Isso sem contar que Bolsonaro praticamente disse que sabia como Cruz foi morto e omitiu do povo brasileiro durante todas essas décadas.

Relembre todos os absurdos proferidos nos últimos dias:

Miriam Leitão

 

“Ela estava indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa em Vitória. E depois [Míriam Leitão] conta um drama todo, mentiroso, que teria sido torturada, sofreu abuso etc. Mentira. Mentira.” – Em café com jornalistas no dia 19 de julho.

A jornalista da GloboNews ficou três meses detida pelo regime militar em 1973. Com apenas 19 anos, foi presa, espancada, torturada e ameaçada de estupro. Na época, Miriam estava grávida, era jornalista da rádio Espírito Santo e militante do PC do B. A jornalista nunca participou de luta armada e não integrou a tal guerrilha do Araguaia. Miriam Leitão foi inocentada de todas as acusações feitas contra ela pela ditadura militar.

Nordestinos

 

“Daqueles governadores de paraíba, o pior é o do Maranhão [Flávio Dino, do PC do B]. Tem que ter nada com esse cara.” – Em conversa com Onyx Lorenzoni no dia 19 de julho

O termo “paraíba” é usado de forma pejorativa por Bolsonaro. A expressão, usada de forma ofensiva, é considerada racista e preconceituosa, passível de processo judicial.  Em carta conjunta, os governadores do Nordeste afirmam “espanto” e “profunda indignação” com a declaração do. “Aguardamos esclarecimentos por parte da Presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia.” Além disso, ele sugere boicote ao governo do Maranhão, o que também é incompatível com seu posto.

Fome

 

“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não. Você não vê gente mesmo pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo” – Em 19 de julho, durante café da manhã com jornalistas

A declaração evidencia a falta de conhecimento de Bolsonaro sobre a realidade do Brasil. Cerca de 5 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar entre 2016 e 2018, segundo dados da FAO, órgão da ONU para alimentação e agricultura. O DataSus informa que 15 pessoas morreram por dia devido à desnutrição no ano de 2017.

INPE

 

“Com toda a devastação que vocês nos acusam de estar fazendo e de ter feito no passado, a Amazônia já teria se extinguido. Isso acontece com muitas revelações, como a de agora (…), e inclusive já mandei ver quem está à frente do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] para que venha explicar em Brasília esses dados que foram enviados à imprensa. Nosso sentimento é que isso não coincide com a verdade, e parece até que [o presidente do Inpe] está a serviço de alguma ONG” – Em café com jornalistas no dia 19 de julho.

Levantamento divulgado pelo Inpe constatou aumento de 57% no desmatamento na Amazônia entre maio e junho. O órgão é o principal responsável por monitorar a situação das florestas brasileiras que correm perigo na atual gestão. Bolsonaro atacou o presidente do instituto e buscou menosprezar os dados preocupantes sobre o panorama ambiental do país. Servidores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e de outras áreas de ciência e tecnologia, além de movimentos sociais, realizaram ato em apoio ao órgão.

Meio ambiente

 

“Só os veganos que comem só vegetais consideram importante a questão ambiental (…) Outros países com baía não tão exuberante como a de Angra conservam o meio ambiente. Se quiséssemos fazer uma maldade, cometer um crime, nós iríamos à noite ou em um fim de semana qualquer na baía de Angra e cometeríamos um crime ambiental, que não tem como fiscalizar” – Em evento do Exército no sábado (27)

A declaração evidencia o crescente desprezo com os problemas ambientais do país. Em relação à Angra, Bolsonaro pediu no mesmo evento: “Me ajudem a fazer da Baía de Angra uma Cancún brasileira“, ignorando o rico ecossistema da região, que está ameaçado. Importante lembrar que ele foi multado em 2012 por pescar em local proibido na cidade fluminense, e exonerou o fiscal responsável por aplicar a punição.

Glenn Greenwald

 

“Ele não se encaixa na portaria. Ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil. Esse é o problema que nós temos. Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não.” – Em entrevista no sábado (27)

“No meu entender, ele cometeu um crime porque em outro país ele estaria já numa outra situação (…) A intenção é sempre atingir a Lava Jato, atingir o Moro, a minha pessoa, tentar e desqualificar e desgastar. Invasão de telefone é crime, ponto final” – Afirmou na segunda (29)

A portaria citada por Bolsonaro foi publicada na sexta-feira (26) pelo Ministério da Justiça, comandado por Moro, e autoriza a deportação de estrangeiros considerados “perigosos”. O fato evidencia mais um abuso de poder de Moro, que usa o cargo para atropelar a lei e caçar seus inimigos. E o inimigo número 1 do ex-juiz hoje é Glenn Greenwald, jornalista americano do The Intercept Brasil. Desde o dia 9 de junho, o site vem publicando chats entre integrantes da Operação Lato Jato. Nas mensagens divulgadas, fica evidente a falta de imparcialidade de Moro, e sua perseguição ao ex-presidente Lula, preso político há mais de 1 ano.

OAB e vítimas da ditadura militar

 

“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro.” – Nesta segunda (29), ao comentar sobre a atuação da OAB no caso de Adélio Bispo, autor da facada contra Bolsonaro em 2018. A entidade foi contra à investigação do advogado de Adélio, atestando a necessidade de preservar o sigilo dos defensores

Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, pai do presidente da OAB, era integrante da Ação Popular Marxista-Leninista e desapareceu em fevereiro de 1974 após ser preso por agentes do DOI-Codi, órgão de repressão do regime militar. Na época, Fernando era estudante de direito e trabalhava no Departamento de Águas e Energia Elétrica em São Paulo. Relatório da Comissão Nacional da Verdade relata que Santa Cruz “tinha emprego e endereço fixos e, portanto, não estava clandestino ou foragido dos órgãos de segurança”.

A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos já ​​emitiu atestado de óbito de Fernando, no qual informa que ele morreu em 1974 de forma “violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial”. Cláudio Guerra, ex-policial civil, declarou em depoimento à Comissão Nacional da Verdade que o corpo do ex-estudante foi incinerado junto com o de outras vítimas da ditadura que haviam sido mortas por militares em Petrópolis (RJ) e no Rio.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Folha de S. Paulo

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast