Em SP, Tarcísio de Freitas propõe cortar R$ 9,3 bilhões da educação

Medida foi enviada à Assembleia Legislativa após governador vetar lei que previa mais psicólogos e assistentes sociais nas escolas do estado

Agência Brasil

Desenvolvimento do país passa por mais investimentos em educação, mas Tarcísio quer diminuir recursos

Depois de tentar substituir os livros didáticos por materiais 100% digitais e vetar um projeto de lei que previa mais psicólogos nas escolas, a nova investida do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), contra a educação é a tentativa de retirar R$ 9,3 bilhões do setor.

O corte está previsto em uma Proposta de Emenda à Constituição Estadual enviada por seu governo à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Hoje, a lei exige que o governo do estado invista na educação pelo menos 30% da receita obtida com impostos. Se a mudança desejada por Tarcísio for aprovada, esse percentual cairá para 25%.

A ideia não poderia vir em pior hora, uma vez que as escolas claramente precisam de mais recursos, como evidenciou um novo ataque a tiros realizado nesta segunda-feira (23) em um colégio da rede pública, no distrito de Sapopemba, Zona Leste de São Paulo.

“Muito triste o ataque com arma de fogo na Escola Estadual de Sapopemba. Não consigo entender o veto do governador ao PL que previa psicólogos nas escolas”, protestou no X o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), ao prestar solidariedade às vítimas e à comunidade escolar.

Autor do projeto que aumentava o número de psicólogos e assistentes sociais na rede estadual de educação, o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT-SP), líder da federação PT/PCdoB/PV na Alesp, apontou em suas redes sociais o equívoco de Tarcísio.

“O governador Tarcísio vetou projeto de minha autoria que ampliava o número de psicólogos e assistentes sociais nas escolas. ERROU feio!”, ressaltou Fiorilo ao postar matéria sobre o atentado e classificar como “maldade” as propostas de Tarcísio.

O governo de São Paulo, segundo o deputado, não está aplicando 30% de sua receita líquida em educação. “Se o governador excluir desse gasto as despesas com inativos da educação, o orçamento para despesas da educação retorna ao patamar dos 25%, conforme dados de 2022”, afirmou, ao criticar a retirada de recursos da educação para a saúde.

Para Fiorilo, o fato de a PEC de Tarcísio prever que o dinheiro retirado da educação seja remanejado para a saúde não ameniza os efeitos da medida. “Não se descobre um santo cobrindo o outro. Educação e saúde são igualmente áreas que necessitam de investimentos”, defendeu. 

O deputado estadual afirma que o governador pode aumentar as verbas da saúde por meio de isenções fiscais concedidas a empresas e setores que somariam R$ 65 bilhões em 2024. Ele disse ainda que esse é um tema em que não há transparência e que a sociedade nem sabe se há contrapartidas para o estado.

“Vamos lutar para impedir que esse remanejamento saia dos recursos da educação”, anunciou Fiorilo. “O governador mandou um pacote de maldades para a Alesp. Quer vender a Sabesp, tirar dinheiro da educação e fazer uma reforma administrativa que não reduz gastos. Só maldades, acabando com o estado de São Paulo”, postou o deputado junto com matéria do site Metrópoles sobre a proposta de remanejamento de verba da educação.

Desmonte da educação de São Paulo 

“É evidente o projeto do governador Tarcísio de Freitas de desmontar a educação pública no estado de São Paulo. Não aceitaremos. Não adianta tentar jogar a saúde contra a educação. Vamos lutar juntos pela não redução dos recursos da educação e para que a saúde tenha recursos adicionais. São duas áreas essenciais”, afirmou no X a deputada estadual e presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) Bebel Noronha (PT-SP). 

Líder do Grito pela Educação Pública de Qualidade, realizado na sexta-feira (20) com o mote “Tarcísio, tire as mãos do dinheiro da educação”, Bebel criticou a atitude do governador e prometeu resistência. “Lamentavelmente Tarcísio enviou uma PEC para a Alesp reduzindo o orçamento de Educação. Com a proposta do governador, a área da educação vai perder cerca de R$ 10 bilhões, valor que representa 5% do orçamento. Nós vamos lutar contra esse absurdo”.

Em entrevista à Carta Capital, ela fez perguntas ao governador. “Se está ‘sobrando dinheiro’, por que as escolas seguem abandonadas, com falta de estrutura mínima e equipamentos? Por que os salários dos professores continuam abaixo do piso? Por que o governador vetou a contratação de psicólogos às escolas para apoiar na prevenção de bullying e violência?”, questionou. “Por que não cumpre as promessas que fez na campanha eleitoral? Haverá resistência, óbvio”, disse ela ao site Brasil de Fato.

“Maior ataque à educação paulista” 

Aprofundamento da precarização da rede estadual, baixos salários e falta de professores preocupam as organizações estudantis além da tentativa de redução dos investimentos.  A União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (Umes) divulgou nota classificando a proposta do governador de São Paulo como “o maior ataque à educação paulista” desde a reorganização das escolas em 2015, quando o governo anunciou o fechamento de três mil salas de aula em todo o estado.

“As escolas já estão sem estrutura, já tem falta de professores constantes. Os alunos já carecem de questões básicas, como, por exemplo, aulas em laboratório. Agora, com esse corte, a possibilidade de a gente ter uma educação de qualidade fica quase impossível”, lamentou na nota da Umes o presidente Lucca Gidra.

Em 2022, o Tribunal de Contas da União reconheceu que o governo paulista vinha utilizando de maneira ilegal e inconstitucional os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Uma representação encaminhada ao órgão pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo apontou que, só em 2021, o governo de São Paulo reservou mais de R$ 2 bilhões do Fundeb para cobrir despesas previdenciárias, o que equivale a cerca de 11,5% das receitas do fundo. A proibição também é prevista na lei que regulamentou o novo Fundeb.

Da Redação

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