Entre a indiferença e a crítica, mídia dos EUA não se encanta com Bolsonaro

Imprensa estadunidense lembra relações de Jair com a milícia, faz retrospectiva de suas declarações e ressaltou o constrangimento causado por sua subserviência

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Decididamente, não está sendo um passeio. O tour internacional de Jair Bolsonaro — iniciado pela visita aos Estados Unidos esta semana e que prosseguirá com viagens ao Chile e Israel — tem se provado um vasto manancial de notícias desfavoráveis, constrangimentos e cobranças ásperas da imprensa sobre as supostas relações do mandatário com as milícias e o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco.

Na passagem pelos Estados Unidos, encerrada na última quarta-feira (19), Bolsonaro não encontrou facilidades nem mesmo com a ultraconservadora rede de TV Fox News, a principal porta voz do pensamento de direita nos EUA, que destacou “as relações familiares de Bolsonaro com policiais corruptos e integrantes de gangues paramilitares”.

No Chile, a imprensa sequer esperou a chegada de Bolsonaro para começar as cobranças. Seis dias antes da visita do mandatário brasileiro, que começa nesta quinta-feira (21), a rede CNN local publicou reportagem de destaque relacionando “Todas as pistas que levam a Bolsonaro” no caso Marielle.

Pistas

Dias depois, a CNN Chile abrandou sua manchete para colocar o verbo no condicional (“Todas as pistas que levariam a Bolsonaro: Justiça brasileira ainda não esclareceu quem mandou matar Marielle Franco”), mas o texto continua a listar “a série de pistas apontam para o mandatário brasileiro.”

Esses cinco indícios, segundo a CNN Chile: “O assassino morava no mesmo condomínio que Bolsonaro”, “A filha do assassino foi namorada de um filho de Bolsonaro”, “O motorista do carro usado no assassinato foi fotografado com Bolsonaro”, “O chefe da milícia trabalhava para o filho de Bolsonaro” e “Tanto o presidente como seus filhos têm sido, ao longo dos anos, defensores das milícias”.

Choque com “valores americanos”

Nos Estados Unidos, a visita de Bolsonaro, encerrada na última quarta-feira (19), ficou exilada das manchetes, circunscrita ao cercadinho das notas secundárias — sob luz desfavorável ou, no máximo, indiferente.

Nem a Fox News pegou leve. “Ninguém imita mais Trump do que Bolsonaro”, apontou a emissora, lembrando que apesar dos esforços feitos por “esse ex-capitão do Exército de extrema-direita” para mostrar-se “amigo dos EUA”, ele teria “um longo histórico de manifestações que se chocam com os valores americanos, especialmente no que diz respeito à comunidade LGBT.”

A Fox News resgatou a famosa declaração de Bolsonaro sobre sua preferência por “ter um filho morto do que um filho gay” e ressaltou a defesa feita pelo presidente brasileiro do emprego da violência contra LGBTs.

Trump no espelho

Nos Estados Unidos, Bolsonaro falou mais do que em Davos, sua primeira viagem internacional, em janeiro — quando fez um discurso de sete minutos no Fórum Econômico Mundial e fugiu da entrevista coletiva. Mas seu desempenho na mídia não foi muito melhor.

O tom geral da parca cobertura da imprensa norte-americana à visita de Bolsonaro aos EUA não foi mais lisonjeiro do que o da Fox — e todos os veículos importantes fizeram questão de descrever o presidente brasileiro como “um político de extrema-direita”.

O New York Times, o jornal mais lido do país, destacou que “o novo presidente do Brasil ameaça os pulmões do Planeta”, referindo-se à sua política para a Amazônia, e também lembrou as semelhanças entre o presidente norte-americano e Bolsonaro — “Para Trump, o presidente do Brasil é como olhar no espelho”, dizia o título da reportagem publicada na quarta-feira (19).

Na matéria, o NY Times fez o apanhado de praxe das marcas mais conhecidas de Bolsonaro —a postura autoritária, a fama de expressar “opiniões grosseiras sobre mulheres, LGBTs e indígenas”, tradicional “apoiador da ditadura militar”, homofóbico orgulhoso dessa condição… e destacou uma declaração do presidente do Brasil: “Não tenho nada contra homossexuais ou mulheres. Eu não sou xenófobo”.

Vergonha

Já o Washington Post preferiu concentrar suas atenções no mal-estar provocado no Brasil pela postura subserviente de Bolsonaro nos EUA. “Vergonha: Bolsonaro visita Trump e brasileiros tuítam seu constrangimento”, estampou o segundo jornal mais lido dos Estados Unidos.

O Post ressaltou que a hashtag #BolsonaroEnvergonhaoBrasil esteve no topo do ranking das mais citadas na rede, na quarta-feira (19).

“O presidente de extrema-direita do Brasil reuniu-se com Trump na terça-feira, visando à construção de um bromance político. Mas nem todo mundo na América Latina está aplaudindo”, registrou o Post, referindo à “tempestade” de críticas dirigidas ao mandatário brasileiro.

O jornal sediado na capital dos EUA também chamou a atenção para a declaração de Bolsonaro contra os imigrantes—“a vasta maioria dos imigrantes não têm boas intenções” —, classificando-a “apenas mais uma da lista de diatribes contra mulheres, minorias e gays que ele tem proferido ao longo de décadas.”

Na coletânea de tuítes revoltados feita pelo Washington Post chama a atenção a crítica de Brian Adams, editor do Americas Quarterly, publicação da Council of the Americas, uma instituição dedicada a promover o comércio entre os EUA e a América Latina. Segundo Adams, “em seu desejo de agradar Trump, Bolsonaro exagerou” na declaração sobre os imigrantes. “Ele ofendeu os brasileiros, inclusive seus apoiadores.”

Por PT no Senado

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