Estudo mapeia ecossistema que promove desinformação de gênero na internet
Pesquisa realizada pelo NetLab, a pedido do Ministério das Mulheres, é fundamental para elaboração de políticas públicas sobre o tema e enfrentar a misoginia
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A misoginia contra a mulher no Brasil expandiu seus horizontes para o campo virtual. A afirmação é comprovada pela pesquisa Observatório da indústria da desinformação e violência de gênero nas plataformas digitais, realizada pelo Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para o Ministério das Mulheres, no âmbito do programa Brasil sem Misoginia.
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A pesquisa foi realizada entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano, e revelou que em 28 dias de coletas de informações, foram identificados 1.565 anúncios tóxicos que impactaram mulheres e apresentaram indícios de comportamento misógino, de golpes ou fraudes direcionados a mulheres ou de irregularidades na oferta de produtos ou serviços para o público feminino. Os dados foram coletados das redes sociais e plataformas Facebook, Instagram, Messenger e Audience Network.
Todas as plataformas estudadas pertencem à Meta, que possui uma política de classificação de temas que considera sensíveis, na qual estão incluídos assuntos como eleições, política, direitos sociais, saúde, entre outros. Em contraste com os achados da pesquisa, mais de 98% dos anúncios considerados problemáticos e ameaçadores às mulheres não foram classificados como sensíveis no sistema de anúncios da Meta.
Além disso, foram mapeados perfis, páginas e sites envolvidos na divulgação de produtos, serviços e/ou tratamentos suspeitos, enganosos ou fraudulentos, com potencial de causar danos à saúde das mulheres. Também foram analisados perfis, páginas e sites que promovem a cultura de incentivo à desigualdade de gênero, pregam a inferioridade das mulheres e promovem o ódio a mulheres e meninas. Os anúncios foram categorizados em quatro grupos temáticos: corpo da mulher, misoginia e combate à igualdade de gênero, autonomia da mulher e mulher de fé.
Ainda de acordo com a pesquisa, a desinformação de gênero contribui diretamente para riscos à saúde física da mulher, impactos psicológicos, prejuízos econômicos e financeiros, obstáculos à igualdade de gênero, além de ser combustível para a misoginia.
Em entrevista ao site do MMulheres, a ministra da pasta, Cida Gonçalves, afirmou que “anúncios como os que foram avaliados pela pesquisa ajudam a reforçar a misoginia, incentivando a atuação de grupos masculinistas na internet. A publicidade tóxica voltada às mulheres contribui para torná-las mais vulneráveis e se traduz no aumento dos feminícídios e de outras formas de violência de gênero. O estudo será fundamental para embasar ações e políticas públicas pelo Ministério das Mulheres para enfrentar esse cenário e proteger a integridade e dignidade das mulheres”.
Já a diretora do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais, Marie Santini, afirmou ao portal do G20 Brasil que “o estudo mostra é a proliferação e aumento de conteúdos misóginos e de ataques às mulheres. Nós estamos falando do advento de uma misoginia patrocinada, no qual anunciantes segmentam mulheres com campanhas pagas, usando todas as técnicas da publicidade e de segmentação do público. É extremamente importante que a gente colete evidências que possam embasar ações e políticas públicas, especialmente do Ministério das Mulheres e pelo governo federal.”
O estudo identificou 550 páginas e perfis responsáveis por publicar anúncios categorizados como tóxicos pelo NetLab, pelo tipo de ameaça que representam às mulheres, principal público-alvo dos conteúdos. Uma análise das mensagens disseminadas e das normas jurídicas que incidem sobre os tipos de anúncios analisados permitiu identificá-los como problemáticos, irregulares ou ilegais/fraudulentos.
Buscou-se, também, uma categorização mais específica do tipo de ameaça que o anúncio representava. A mais recorrente foi a de “risco à saúde pública ou individual”, que aparece em 78,6% dos anúncios analisados.
Ela foi seguida por “desinformação ou publicidade abusiva ou enganosa”, presente em 66% dos conteúdos; “reforço de estereótipos de gênero, machismo e objetificação da mulher” (44,3%); “fraude ou golpe” (35%), e “uso de identidade falsa” (34%). A maior parte dos anúncios apresenta mais de um tipo de ameaça, de forma que há sobreposição de categorias.
A pesquisa aponta a necessidade de haver uma regulação para a Internet, que o espaço não pode ser uma terra sem lei, onde anúncios pagos seguem promovendo a violência contra mulheres e meninas. “A lógica algorítmica e o modelo de negócio das plataformas digitais, ao privilegiar conteúdos que prendem a atenção dos usuários, reforçam estereótipos de gênero e auxiliam na proliferação de narrativas nocivas.”
Do total de anúncios analisados, 1.253 tratam de temas relacionados ao corpo da mulher, inseridos no bilionário mercado da estética. Anúncios enganam, por exemplo, quando fazem referência à suposta aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para conferir legitimidade aos produtos. Muitos usam recursos como logo, fotos de fachada da agência e deep fakes para criar narrativas falsas e aplicar golpes.
Da Redação Elas por Elas, com informações do Ministério das Mulheres, NetLab e G20 Brasil