“Eu estou confiante que o Evandro vai ser o prefeito de Fortaleza”, diz Lula
Presidente foi entrevistado pela rádio O Povo/CBN, nesta sexta (11), em Fortaleza, e falou, entre outros assuntos, do cenário político nacional após primeiro turno das eleições municipais
Publicado em
O presidente Lula concedeu entrevista, nesta sexta-feira (11), à rádio O Povo/CBN, em Fortaleza, onde cumpre agenda oficial e, no início da noite, participa de ato público em apoio à candidatura de Evandro Leitão (PT) à prefeitura da capital cearense. Na entrevista, que tratou de vários assuntos, Lula afirmou estar confiante na vitória do deputado estadual, ressaltando a sólida base de apoio à sua candidatura.
As últimas sondagens do Datafolha em Fortaleza indicaram empate técnico entre Evandro e seu adversário bolsonarista no segundo turno.
“Eu estou confiante que o Evandro vai ser o prefeito de Fortaleza, porque […] primeiro ele tem o apoio da maior liderança política do estado do Ceará, que é o Camilo [Santana, atual ministro da Educação]. Vamos ser francos: o Camilo é o rei do voto no estado do Ceará. E tem o governador Elmano [de Freitas], que é uma novidade extraordinária para nós, do PT, o Elmano ser o governador do estado”, elogiou o presidente.
Logo mais, a partir de 17h13, Lula e Evandro estarão juntos em um grande ato de campanha, na Praça do Ferreira, no centro da cidade.
Fortaleza é uma das quatro capitais onde o PT disputa o segundo turno. O partido concorre também com Natália Bonavides em Natal, Lúdio Cabral em Cuiabá, e Maria do Rosário em Porto Alegre.
Análise das disputas municipais
Durante a entrevista, Lula fez uma análise sobre o desempenho do PT nas eleições municipais e do atual momento pelo qual atravessa a legenda. Ele minimizou a interferência das votações locais na corrida presidencial. “Toda vez que termina uma eleição, aparecem os vencedores, os herois, que acham que o mundo, a partir dali, mudou”, afirmou o petista. “A eleição de prefeito, na verdade, ela não tem muita incidência numa eleição presidencial”, prosseguiu.
Leia mais: Gleisi exalta fortalecimento do PT nas eleições municipais
O presidente lembrou que, em 2024, o índice de reeleição dos prefeitos foi alto, momento único na história da democracia brasileira. Isso se deve, argumenta Lula, ao crescimento acentuado dos fundos de participação dos municípios, a partir do ano passado, e ao famigerado “orçamento secreto”, prática legislativa instituída em 2020 para destinar verbas do orçamento público a projetos definidos por parlamentares sem a devida identificação.
“Essa quantidade de prefeitos reeleitos é em função de que os prefeitos estão com recurso para fazer as coisas. Senão, não seria reeleito. Além disso, você tem as emendas do orçamento, que era secreto até outro dia, que faz com que o dinheiro chegue na mão das prefeituras às vezes até sem passar pela mão do governador”, pontuou. “É o maior percentual de prefeitos reeleitos da história do Brasil, antes não era assim”, acrescentou.
Na quinta-feira (10), o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu manter suspensa a execução das emendas parlamentares RP8 e RP9, que são emendas de comissão e de relator ao orçamento. Dino ressaltou que “permanece o grave e inaceitável quadro de descumprimento da decisão do Plenário do STF que, em 2020, determinou a adequação das práticas orçamentárias ao disposto na Constituição Federal”.
Foco nos trabalhadores
Questionado a respeito da atual realidade do mercado de trabalho, absolutamente diversa do que era à época da fundação do PT, na década de 1980, Lula reconhece que o partido precisa calibrar o discurso e adaptá-lo ao momento. O presidente defendeu que todos os trabalhadores possam ascender na escala social e melhorar de vida, mesmo que não sejam sindicalizados.
“No meu tempo do sindicato, a Volkswagen tinha 44 mil trabalhadores. Hoje tem 12 mil. Então houve uma mudança substancial no mundo do trabalho e nós, então, precisamos adequar o nosso discurso ao mundo do trabalho que não é só carteira profissional assinada. É o cara que quer trabalhar em home office, é o cara que quer ser um pequeno empreendedor, é o cara que quer ter um pequeno comércio, o cara que quer trabalhar por conta própria.”
O petista também fez referência aos trabalhadores por aplicativo, que se multiplicaram em todo o país, e apontou as medidas do governo federal para tentar protegê-los da exploração laboral.
“Tem um novo tipo de trabalhador que nós temos que ter uma preocupação, que é o pessoal que trabalha em aplicativo. Esse é um público que não tem sindicato, esse é um público que não quer ter carteira profissional assinada […] Nós fizemos um acordo com o Uber, tem um projeto de lei no Congresso Nacional, que estabelece uma certa jornada de trabalho […] tudo isso na perspectiva de melhorar, mas nem de longe a gente está pensando em fazer com que ele deixe de ser o profissional que ele quer ser”, esclareceu Lula.
Segurança pública
O presidente tratou também do tema da segurança pública e do avanço do crime organizado, a quem se referiu como uma “empresa multinacional”. Lula mencionou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) elaborada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que pretende reestruturar o papel do governo federal no enfrentamento da violência.
“Eu quero convidar os 27 governadores para a gente pactuar: como é que a gente pode trabalhar na segurança pública, junto com os governadores, sabendo que a responsabilidade é do estado, mas que o governo federal tem que ter uma participação importante”, ponderou, antes de criticar a flexibilização do porte de armas pelo governo anterior, o que fortaleceu gravemente o crime organizado.
Incidente com o avião presidencial
Logo no início da entrevista à rádio cearense, Lula relatou, em detalhes, os momentos de tensão que viveu na sua última ida ao México, quando o avião presidencial apresentou falhas na decolagem de volta ao Brasil e precisou voar em círculos para consumir a enorme quantidade de combustível que carregava até que pudesse pousar, com segurança, na capital mexicana.
“Foi a primeira vez que eu passei uma situação dessa. Eu já tinha passado outras coisas mais leves […] quando a gente já estava andando na pista, o barulho já estava diferente. Quando levantou voo, aconteceu alguma coisa, porque o avião estava com um ronco diferente, o avião trepidava muito. E eu logo levantei para saber com o piloto o que estava acontecendo”, contou. “Eu bati na porta, o piloto abriu, estavam nervosos”, completou.
Segundo Lula, em meio à tensão, “todo mundo teve tempo de repensar sua vida”.
Estavam no avião a primeira-dama, Janja, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, o novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, além de quatro ministros de Estado.
O incidente no México levou Lula a decidir pela compra de novas aeronaves, para servir tanto à Presidência da República quanto aos ministros que compõem o governo.
“Um presidente da República tem que se respeitar. A instituição tem que ser respeitada. O Brasil é muito grande e não precisa um presidente correr risco.”
Da Redação