FMI contradiz Meirelles e diz que combate à desigualdade é prioridade
Afirmação da diretora-geral do FMI aconteceu no Fórum Econômico Mundial em resposta a Meirelles, que defendeu reformas de Temer que retiram direitos
Publicado em
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirmou que a prioridade das políticas econômicas precisa ser o combate à desigualdade social. A fala de Lagarde foi uma resposta ao ministro da Fazenda do governo golpista de Michel Temer, Henrique Meirelles, que defendeu a necessidade de adotar reformas como as que Temer tem feito no Brasil.
O comentário de Lagarde contradizendo Meirelles ocorreu nesta quarta-feira (18) durante a participação de ambos em um painel do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Questionado pela moderadora sobre como convencer a classe trabalhadora a aceitar reformas que exigirão dela “grandes sacrifícios”, Meirelles havia dito que o Brasil, diferentemente dos países ricos, não tem a tradição de uma classe média sólida, o que tornaria necessário o pacote de medidas como a Proposta de Emenda a Constituição PEC 55.
“Nos últimos quinze anos, vimos a proporção da classe média na população dobrar. E isso aconteceu ao longo da última década. Por causa da recessão que vimos nos últimos anos, essa dinâmica se inverteu, mas isso é um problema de curto prazo”, disse Meirelles.
Lagarde respondeu na sequência, afirmando que prioridade das políticas econômicas deve ser combate à desigualdade.
“Não sei por que as pessoas não escutaram a mensagem (de que a desigualdade é nociva), mas certamente os economistas se revoltaram e disseram que não era problema deles. Inclusive na minha própria instituição, que agora se converteu para aceitar a importância da desigualdade social e a necessidade de estudá-la e promover políticas em resposta a ela”, afirmou a diretora do FMI.
Meirelles defendeu que o País esta no momento de estabelecer uma classe média, “fazendo ela crescer com a abertura da economia”.
Mesmo sem citar o Brasil, Lagarde destacou que a desigualdade social precisa estar no centro das atenções dos economistas se eles quiserem um crescimento sustentável e, como consequência, uma classe média forte.
“Nosso argumento é de que, se há excesso de desigualdade, isso é contraproducente para o crescimento sustentável ao qual os membros do G-20 aspiram. O excesso de desigualdade está colocando travas nesse desenvolvimento sustentável”, disse.
Um estudo do próprio FMI de 2013 aponta que políticas de controle de gastos públicos resultam na geração de desemprego a curto prazo, o que contribui para a contração da classe média e o aumento do fosso social entre ricos e pobres.
O estudo mostra que pacotes de ajustes fiscais como o adotado pelo Brasil podem ter resultados adversos, dependendo das estratégias escolhidas na gestão pública.
“Pacotes de cortes nos gastos públicos tendem a piorar mais significativamente a desigualdade social, do que pacotes de aumentos de impostos”, afirma o levantamento.
A conclusão do estudo foi de que o primeiro reflexo de cortes nos gastos públicos é um aumento do desemprego e consequente aumento da desigualdade social.
No debate em Davos, Lagarde recomendou a escolha cautelosa de políticas públicas no contexto da quarta revolução industrial, de modo que governos como o do Brasil não olhem apenas para os desafios imediatos da globalização, mas se preparem para o futuro de longo prazo.
“Estamos agora em um momento muito oportuno para colocar em prática as políticas que sabemos que irão funcionar. Um momento de crise é momento de avaliarmos as políticas que estão em ação, o que mais podemos fazer, que tipo de medidas tomamos para reduzir a desigualdade social?”, questionou.
Para a diretora-geral do FMI, essas políticas precisam levar em conta qual tipo de redes de apoio social, de educação e treinamento os governos oferecem à sua população.
“Há coisas que podem ser feitas: reformas fiscais, reformas estruturais e políticas monetárias. Mas elas precisam ser graduais, regionais, focadas em resultados para as pessoas e isso provavelmente significa busca uma maior distribuição de renda do que há no momento”, reforçou Lagarde.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da BBC Brasil