Folha/Intercept: Moro determinou que Lava Jato vazasse dados sigilosos sobre Venezuela

Diálogos mostram que ex-juiz tramou vazamento de informações da delação da Odebrecht sobre a Venezuela que estavam sob sigilo para influenciar na política do país

Lula Marques

Sérgio Moro

Uma série de reportagens do The Intercept Brasil com veículos parceiros vem mostrando uma atuação parcial do ex-juiz Sérgio Moro em conluio com procuradores da Lava Jato. Neste domingo (7) surge um novo capítulo com uma nova matéria, desta vez divulgada simultaneamente pelo site de Glenn Greenwald e pela Folha de S. Paulo.

A nova reportagem traz diálogos que mostram uma articulação de Moro junto a procuradores da força-tarefa, principalmente Deltan Dallagnol, para vazar dados da delação da Odebrecht sobre a Venezuela que estava sob sigilo.

Somados às outras conversas vazadas, os diálogos inéditos mostram que Moro agiu não como juiz, mas sim como chefe da força-tarefa, colocando em xeque a conduta imparcial que deveria ter.

“Talvez seja o caso de tornar pública a delação dá Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”, sugeriu Moro a Dallagnol em 5 de agosto de 2017. Um ano antes, executivos da empreiteira tinham fechado um acordo com a Lava Jato e admitido que tinham pago propina a outros governos, além do Brasil, com o objetivo de obter benefícios em negociações. Um desses países seria a Venezuela de Nicolás Maduro.

As conversas indicam que o próprio chefe da força-tarefa, Dallagnol, tinha ciência que o vazamento das informações sobre a Venezuela, que estavam sob sigilo, era ilegal.

“Não dá para tornar público simplesmente porque violaria acordo, mas dá pra enviar informação espontânea [à Venezuela] e isso torna provável que em algum lugar no caminho alguém possa tornar público”, disse o procurador do Power Point.

Em meio às articulações de Moro e Dallagnol para influenciar nos rumos políticos de outro país, com o claro objetivo de prejudicar o governo de Nicolás Maduro, outros procuradores que participavam do chat expressavam preocupação. “Vejam que uma guerra civil lá é possível e qq (sic) ação nossa pode levar a mais convulsão social e mais mortes”, escreveu Paulo Galvão. “Imagina se ajuizamos e o maluco manda prender todos os brasieliros no territorio (sic) venezuelano”, disse Athayde Ribeiro Costa.

Dallagnol, no entanto, insistia em cometer a ilegalidade. “PG, quanto ao risco, é algo que cabe aos cidadãos venezuelanos ponderarem”, escreveu em resposta à mensagem de Paulo Galvão. “Eles têm o direito de se insurgir”, completou o chefe da força-tarefa.

O vazamento das informações sigilosas sobre a delação da Odebrecht na Venezuela chegou a ser concretizado outubro de 2017, poucos meses após a ex-procuradora-geral venezuelana Luísa Ortega Díaz, já destituída do cargo, ter se exilado no Brasil.

“Ortega chegou antes deles no Brasil, em 22 de agosto, duas semanas depois de a força-tarefa começar a se movimentar. ‘Vcs que queriam leakar (sic) as coisas da Venezuela, tá aí o momento. A mulher está no Brasil’, escreveu o procurador Paulo Galvão. Como se Galvão estivesse brincando, os colegas reagiram com ironias. Semanas depois, já em outubro, Ortega publicou em seu site dois vídeos: eram trechos de depoimentos do ex-diretor da Odebrecht na Venezuela Euzenando Azevedo, nos quais ele admite ter repassado 35 milhões de dólares da empreiteira à campanha eleitoral de Maduro. Na delação, ele também admitiu ter pagado 15 milhões de dólares para a campanha do candidato da oposição, Henrique Capriles, fato que não foi incluído nos vídeos divulgados por Ortega. Faltavam apenas cinco dias para as eleições dos governos estaduais quando a população venezuelana viu nas redes o ex-diretor da Odebrecht no país detalhando a corrupção no governo Maduro”, narra o The Intercept Brasil.

De acordo com o site, o vazamento de informações sigilosas da delação da Odebrecht sobre a Venezuela teria, inclusive, gerado “risco de vida” de ex-funcionários da empresa, procuradores e da própria população venezuelana.

Confira a íntegra do novo capítulo aqui.

Por Revista Fórum

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