Edinho: crise de 2008 agravou desigualdade e impulsiona extrema direita global

“Há um avanço da financeirização da economia desde então e, junto com ela, o avanço da concentração da renda”, alerta presidente do PT, em entrevista à Folha de S. Paulo

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Edinho Silva: diálogo, respeito e compromisso com o desenvolvimento sustentável

A grave crise do capitalismo gerada pela quebra do sistema financeiro americano em 2008 não foi superada e continua impondo desafios a economistas de diferentes formações. O maior deles se traduz na perigosa ascensão da extrema direita, que passou a contar com crescente apoio popular em diversas regiões do mundo justamente  após o colapso da globalização. A avaliação é do presidente Nacional do PT, Edinho Silva. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada neste fim de semana, Edinho traçou um panorama da conjuntura política atual e dos principais dilemas da esquerda no Brasil e no mundo, do enfrentamento ao fascismo à reconstrução de instâncias multilaterais como as Nações Unidas, passando por um debate urgente sobre a reforma da renda.

“Se é verdade que a crise econômica de 2008 derrota o conceito da globalização, e derrota, pois tivemos uma retomada da concepção de Estado nacional, mas um Estado xenofóbico, é verdade também que veio junto uma agenda de direita que achávamos ter derrotado na Segunda Guerra Mundial”, afirmou o petista. “Xenofobia, homofobia, misoginia, racismo estrutural, tudo isso vem com uma força absurda”, constatou.

Para o petista, a crise de 2008, ao invés de abrir caminhos para um novo modelo de economia, menos desregulado, acelerou o acúmulo de capital e, consequentemente, a desigualdade global. “Há um avanço da financeirização da economia desde então e, junto com ela, o avanço da concentração da renda. Este é o grande debate deste momento histórico que estamos vivendo, sobre a democratização da renda”, ponderou.

Edinho considera que a maior expressão dessa nova força da extrema direita é representada pelo radicalismo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, líder que o petista avalia como o maior expoente do fascismo moderno. “A forma como ele enfrenta a questão imigratória, como ele deporta imigrantes algemados… O que ele tem feito com famílias imigrantes da Costa Rica só o nazismo fez semelhante, separar famílias, pais de filhos”, lembrou Edinho.

Defesa da democracia

Ao tratar da agenda que terá nesta semana na Alemanha, onde se encontra com parlamentares do SDP, o partido social-democrata que integra a coalizão do atual governo, Edinho reforçou a posição do PT de defesa da democracia e dos interesses dos trabalhadores. Segundo o dirigente, a Europa enfrenta os mesmos problemas econômicos e sociais da América Latina, impasses semelhantes decorrentes da crise do capitalismo.

“A economia mundial deixou de crescer de forma sustentável, e esse empobrecimento do mundo pega principalmente os setores médios”, observou Edinho. “Podemos ter algumas diferenciações dependendo do país, mas os setores médios são os mais penalizados, não há manutenção da capacidade de consumo, de expectativas em relação ao futuro. Esse empobrecimento dos setores médios gera descrença, e a primeira vítima disso é a democracia liberal”, advertiu.

“Temos que ter coragem de defender os interesses da classe trabalhadora, daqueles que são vítimas desse processo da crise longa do capitalismo. Temos que repensar a democracia representativa. Mais do que nunca, a democracia direta tem que ser valorizada”, defendeu.

ONU e reforma da renda

Edinho fez ainda um alerta: a atuação de Trump fragiliza cada vez o multilateralismo representado pelas Nações Unidas. “O que temos defendido publicamente é estabelecer um espaço de diálogo”, sugeriu o petista. “A ONU está muito enfraquecida. É atacada cotidianamente por Trump. Temos que fortalecer a ONU, devolver seu protagonismo, fazer com que seja um grande instrumento de superação dos conflitos”.

A aprovação do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil reais, na semana passada, insiste o petista, é um avanço crucial para a discussão sobre a reforma da renda, tema caro não apenas ao Brasil, mas ao resto do planeta. “A gente abre no Brasil o debate sobre a reforma da renda. É o debate central que o mundo vai ter que enfrentar no próximo período”, declarou.

“Mesmo com os programas de transferência de renda que vêm desde o primeiro governo Lula —e que nem Bolsonaro teve coragem de cortar—, temos uma concentração absurda“, lamentou. “Ou o mundo democrático enfrenta esse debate ou qualquer coisa que se faça será paliativo”.

Da Redação, com Folha de S. Paulo

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