No Foro de São Paulo, mulheres debatem como ampliar presença na política

Retomada do diálogo e da organização busca reconstruir o sistema político na região para combater violência política de gênero e incluir mais mulheres nos espaços de poder

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O encontro teve falas de lideranças do Brasil, Peru, Cuba, México e Uruguai

Sob as urgências de debater a unidade das mulheres na América Latina, brasileiras, mexicanas, uruguaias, peruanas, espanholas, chilenas, cubanas, colombianas e bolivarianas que integram a XXVI edição do Foro de São Paulo estiveram reunidas na manhã desta sexta-feira (30), em Brasília, para debater dois temas cruciais para as latino-americanas: o enfrentamento à violência política gênero e a participação política das mulheres na América Latina e Caribe.

A secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura, fez a abertura do evento e ressaltou que a luta por mais participação na política e contra a violência política é comum a todas as mulheres da América Latina. “Esse momento do Foro de São Paulo é fundamental para que dialoguemos nossas experiências em nossos territórios e também discutamos de que forma enfrentamos o conservadorismo e a extrema direita, e de que forma vamos continuar vivas”, afirmou.

Moura lembrou que, no Brasil, as mulheres enfrentam cotidianamente muitas ameaças, incluindo a de morte por feminicídio. Mas celebrou conquistas recentes, trazidas pelo terceiro mandato do presidente Lula. “Aqui, foi criado o Ministério das Mulheres, o que é uma grande vitória. Somente com a representação política vamos diminuir os índices de violência e garantir a participação”, disse, ao dar boas-vindas às companheiras progressistas da região. 

A partir do encontro foi produzido uma Carta Compromisso e um Plano de Ação, com apontamentos e estratégias para as mulheres latino-americanas e caribenhas. Também foi deliberada e consensuada a reinstalação da Comissão de Mulheres do Foro. “A comissão deve ser democrática, horizontal, e garantir a participação de todas e todos”, explicou a liderança do PT. 

Na sequência, a secretária nacional da Mulher do PCdoB, Daniele Costa, ressaltou a necessidade de superação da sub-representação política das mulheres. “Mesmo sendo a maioria da população, somente 20% das mulheres ocupam espaços de poder e decisão”, lembrou, apontando como um passo importante a recente aprovação da lei de igualdade salarial, a ser sancionada por Lula na próxima segunda-feira (3). “A dependência econômica impede a jornada dessas mulheres na política”, explicou.

Corpo, trabalho e política

Em seguida foi a vez de Aida Naranjo Garcia, da Internacional Feminista e do PS Peru, falar. Ela disse que estar reunida com as companheiras do Foro é um momento especial e destacou a importância de dois importantes partidos brasileiros, PT e PCdoB, serem presididos por mulheres – respectivamente, Gleisi Hoffmann e Luciana Santos. “Ter duas presidentas nesses partidos é um grande momento.”

Garcia também elogiou as políticas públicas que vêm sendo implementadas pelo Ministério das Mulheres e chamou a atenção para três pontos que, segundo ela, são fundamentais para haver avanços no debate de gênero na região. O primeiro é o da dimensão física, da vida, da luta contra o feminicídio. “O bem mais precioso é a vida das mulheres. É preciso garantir os direitos sexuais e reprodutivos. As mulheres devem ter direito a decidir sobre seus corpos. Muitos países já avançaram sobre aborto seguro, legal e gratuito”, afirmou.

O segundo tema trata da dimensão laboral, econômica e social. “A igualdade salarial entre homens e mulheres, que ganham 30% menos que os homens, é muito importante. A lei que garante isso é um instrumento que tem valor simbólico, uma conquista para as mulheres, que geralmente recebem salários precários e se encontram em trabalhos insalubres”, afirmou a peruana. 

Por fim, o terceiro ponto que Garcia defende é a dimensão política. “Mulheres estão ingressando na política, mas estão na base da pirâmide, não estão no topo das decisões políticas. É urgente rever essa divisão. A lógica do eu participo, tu participas, nós participamos e eles (homens) decidem não está certa.”

União e representatividade

Representante de Cuba, Gertrudes Simon Pineda fez uma fala na qual pregou a união das mulheres da região por emancipação: “Chegamos a este importante cenário com esperança de um futuro melhor. Não há melhor estratégia que a unidade para enfrentar o inimigo imperialista ianque. Recordamos da importância de estar unidas, com resistência criativa”.

A penúltima companheira a falar foi a mexicana Citlali Hernandez, da Internacional Feminista. Segundo ela, o México vive um momento interessante , com as mulheres ocupando quase a metade das cadeiras no parlamento. “Pela primeira vez, temos mais mulheres na Câmara dos Deputados, com paridade, temos uma mulher jovem na Secretaria de Governo e temos mais mulheres governando os estados da República. Todos os partidos devem ter paridade. Creio que vamos ter mais mulheres em espaços de poder, avançando em propostas legislativas e nos direitos para as mulheres trabalhadoras”, revelou.

Por fim, a representante do Uruguai, Agustina Alejandro, fez um discurso breve, mas contundente: “O feminismo deve ser interseccional. As feministas têm que questionar todas as lógicas e dinâmicas de poder em exercício de poder das instituições. É urgente haver feminismos interseccionais com mulheres negras, gordas, dos povos originários, jovens, imigrantes, periféricas. Não há revolução se não há feminismo interseccional”, encerrou. 

Da Redação do Elas por Elas

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