Gilney Viana: A vitória da militância e a derrota da direção
Direção nacional do PT foi atropelada pela militância, que ignorou dubiedades da nota que admitia possibilidade de se votar em golpistas no Congresso
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A militância petista falou diretamente aos senadores e deputados federais do PT: “Petista Não Vota em Golpista” para as eleições das mesas diretoras do Senado e da Câmara. A bancada dos deputados por unanimidade adotou essa orientação, a dos senadores liberou o voto, embora a maioria tenha declarado voto em branco.
Na Câmara, a maioria da bancada votou no candidato do bloco PT-PDT. As diferenças de posicionamento no Senado e as prováveis defecções na Câmara só atestam o grau de divergência interna em ambas bancadas, mas não diminui a grandeza da vitória da posição defendida pela militância.
A direção nacional do PT, mais uma vez, foi atropelada pela militância que simplesmente ignorou as dubiedades da nota aprovada no dia 20 de janeiro que admitia a possibilidade de se votar em golpistas para assegurar a participação proporcional do partido, como manda as normas, nas mesas daquelas casas.
Este episódio não se resume a diferenças de opinião sobre tática parlamentar. Pelo contrário, ela expressa uma divergência estratégica: de como enfrentar o golpe que derrubou a presidenta Dilma e instalou um regime de restrição aos direitos da cidadania e desconstrução das conquistas da classe trabalhadora.
A maioria do diretório nacional considerou uma questão interna ao Parlamento, o que é meia verdade, porque esqueceu que este Parlamento foi e é protagonista do golpe. Supervalorizou os cargos a que teríamos direito porque ainda está dominada pelas ilusões parlamentares e eleitorais e subestimou o impacto que isto teria para as lutas extra parlamentares, como as manifestações de rua contra o golpe (“Fora Temer”), as greves e a resistência sindical em defesa dos direitos ameaçados (“Nenhum Direito a Menos”) e a resistência cultural contra o obscurantismo e a luta popular contra o desmonte das conquistas sociais. Ignorou o sentimento da militância petista que mais sofreu e sofre com o golpe e busca na direção do partido e nos nossos parlamentares referências políticas, ideológicas e morais para continuar a luta – e muitas vezes não as encontra e se sente não representada.
Alguns e algumas da maioria chegaram a negar o impacto de gestos simbólicos (como aparecer votando em golpista), outros e outras desvalorizaram as manifestações da militância e apoiadores pelas redes sociais e, suprema alienação, não imaginaram que a maioria da militância petista pudesse ter uma posição tão assertiva contra acordos e votos em golpistas (por isto mesmo se surpreenderam com tantas manifestações de dirigentes e diretórios municipais e zonais e petistas dirigentes sindicais e de movimentos populares que, acreditavam controlar por lealdades de tendência, grupos, mandatos e pretensões eleitorais articulados pela maioria da direção).
Não é a primeira vez que a maioria da direção se vê em minoria no conjunto da militância e da bancada parlamentar federal. O caso mais escandaloso ocorreu no V Congresso – Segunda Etapa, quando essa maioria apoiou o ajuste fiscal de Joaquim Levy enquanto a maioria da militância petista, sindical e social e das bancadas parlamentares foram manifestamente contrárias.
O que mais preocupa é que essas posições políticas e posturas da maioria no presente não me parecem “autocríticas na prática” em relação a erros do passado (como querem nos fazer acreditar líderes da maioria) e, o que é mais grave, me parecem políticas e posturas equivocadas que pretendem continuar dirigindo o PT no futuro. Não por acaso essa posição política negada pela militância petista foi a primeira demonstração de força e arrogância do novo Acordão que acha que já ganhou o VI Congresso, sem combinar com a militância e os filiados. Começou mal, com derrota pública, revisão sem autocrítica e pretensão de hegemonia que não existe mais.
Por Gilney Viana, secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.
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