Gleisi Hoffmann: Estabilidade e crescimento econômico para quem?

“Enquanto o novo governo debaterá como arrochar a previdência, entregar a Petrobrás, cortar recursos da área social, milhões de brasileiros se debatem para sobreviver.”

Marcos Oliveira/Agência Senado

Gleisi Hoffmann

A economia brasileira deve repetir, neste 2018 que se encerra, um crescimento semelhante ao que tivemos em 2017, de 1% no PIB. Melhor que nada. O problema é que no Brasil, mesmo esse crescimento medíocre não melhora a vida do povo. Só serve para os mais ricos. O IBGE registra que em 2017 o número de pessoas pobres (que vivem com até R$ 406 por mês) aumentou de 52,8 milhões para 54,8 milhões. E os que vivem na extrema pobreza (R$ 140 por mês) passaram de 13,6 milhões para 15,3 milhões.

As principais razões desse retrocesso são a queda do emprego formal (mais de 70% dos empregos gerados este ano são sem carteira), a queda dos salários e os cortes no Bolsa Família, também segundo os analistas do IBGE. É o contrário do que aconteceu no governos Lula e Dilma, que em 12 anos elevaram o número de empregos com carteira assinada de 28,6 milhões para mais de 48 milhões, um crescimento de quase 70% que inverteu por completo a curva da informalidade.

Nada indica que esse processo de empobrecimento do povo, que vimos no primeiro ano do golpe, tenha se revertido este ano ou venha a mudar no próximo, mesmo com uma melhora no resultado do PIB, porque ele resulta de um modelo econômico extremamente concentrador de renda. Um modelo que beneficia os rentistas, os banqueiros, os especuladores, grandes empresários e exclui a imensa maioria. Um modelo que nunca deu certo, a não ser para os mais ricos.

O Brasil é o campeão mundial da desigualdade, título vergonhoso que recebemos da respeitada Pesquisa Mundial da Desigualdade de Thomas Piketty. Nada menos do que 43,4% da renda nacional estão nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto os 10% mais pobres sobrevivem (Deus sabe como) com 0,7% da renda total. É uma situação de iniquidade sobre a qual nenhuma Nação civilizada pode se sustentar.

No mesmo ano de 2017 em que o povo voltou a empobrecer, a lista de bilionários da revista Forbes trazia os nomes de 42 brasileiros, quase todos rentistas. Juntos, acumulavam uma fortuna de US$ 177 bilhões (cerca de R$ 680 bilhões) que representa mais do que os R$ 500 bilhões que as famílias e empresas brasileiras pagaram de juros aos bancos naquele ano.

O dinheiro desses 42 bilionários daria para cobrir 22 anos de Bolsa Família, mais de 5 anos do Orçamento da Saúde ou da Educação. É mais da metade da metade do que o governo arrecadou em impostos naquele ano. E são estes privilegiados que vão continuar enriquecendo com o modelo ultraliberal que Jair Bolsonaro e seus Chicago Boys querem aprofundar imediatamente.

Enquanto o novo governo debaterá como arrochar a previdência (duvido que farão reformas nos privilégios do serviço público), entregar a Petrobrás, cortar recursos da área social, milhões de brasileiros se debatem para sobreviver. Com salários menores ou sem salários, pelo desemprego, sofrem para colocar comida na mesa, pagar o aluguel, a conta de água, luz, comprar o botijão de gás, o remédio que precisam. Mas mudar isso não está no foco do governo. O que está são as ditas reformas, que tem outro endereço de beneficiários.

Voltando ao título deste artigo: estabilidade e crescimento econômico para quem? Ao povo é que não. Ao povo e ao Brasil interessa crescer com inclusão social e distribuição de renda, como só ocorreu quando o PT esteve no governo. Nós entendemos que nenhum país será grande, forte ou rico, se os trabalhadores e as pessoas do povo não puderem viver dignamente, com emprego formal, proteção da lei, salários melhores e oportunidades para crescer.

Nos anos Lula o Brasil experimentou o maior período de crescimento econômico e aumento da renda; foi quando demos os primeiros passos para a redução da desigualdade que sempre manchou nossa história. Fizemos isso com investimento público e privado na infraestrutura e na produção, democratizando o crédito para os trabalhadores da cidade e do campo, valorizando o salário, criando o Bolsa Família, investindo na saúde e abrindo as portas da universidade para milhões de alunos negros, indígenas e das escolas públicas.

Só vale a pena garantir a estabilidade fiscal e monetária, acumular reservas, como nós fizemos na prática quando todo esse esforço se reverte numa vida melhor para o povo. Valeu a pena governar para tirar 36 milhões da pobreza e elevar o padrão de vida de mais de 40 milhões. Valeu a pena mostrar que o Brasil pode ser governado para todos, principalmente para os que mais necessitam, e não para os privilegiados de sempre.

Nós aprendemos com nossos acertos e erros, e não vamos desistir da construção democrática interrompida pelo golpe de 2016 e pela proibição arbitrária da candidatura do ex-presidente Lula. A vida continua, conhecemos a estrada e sabemos onde queremos chegar: a um país mais justo com oportunidades para todos. Um país que não tenha mais de se envergonhar da desigualdade.

Gleisi Hoffmann – senadora (PT-PR) e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores

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