“Guerra híbrida” interna compromete vacinação nos Estados Unidos
Diante da campanha de desinformação, que se volta contra os interesses de seu governo, Joe Biden passou a criticar as redes sociais pela disseminação de notícias falsas sobre vacinas. “Elas estão matando as pessoas”, disse
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Uma onda de fake news ameaça comprometer o esforço da campanaha vacinação nos Estados Unidos e, em consequência, a agenda econômica do atual governo de Joe Biden. A Casa Branca responsabiliza as notícias falsas que circulam nas redes sociais, disseminadas por canais de TV de direita, como Fox News, Newsmax e One America News.
Biden havia prometido vacinar com a primeira dose 70% dos adultos acima de 18 anos até 4 de julho, data de comemoração da independência americana. Além de não atingir a meta, a vacinação avança com lentidão e, segundo especialistas, não deve subir em relação ao nível atual – 69,6% dos adultos receberam ao menos a primeira dose.
Diante da dificuldade de atingir a “imunidade de rebanho” e do avanço da nova variante delta, que já responde por 83% das novas contaminações, o governo pode ser obrigado a impor novas restrições sanitárias no país. A “guerra híbrida” interna compromete os planos de Biden, que apostou em superar a pandemia e implementar seu plano de recuperação econômica do país.
O diretor de Saúde Pública dos EUA, Vivek Murthy, afirmou que a desinformação era responsável, ao menos em parte, pela rejeição às vacinas contra Covid-19 —e, consequentemente, pela morte de pessoas que já podiam ter recebido a imunização. As imunizações diárias, que tiveram um pico de 3,3 milhões de doses aplicadas em abril, agora baixaram para cerca de 550 mil por dia.
A campanha de vacinação, diferente do Brasil, enfrenta sua maior dificuldade em estados do Sul e do Meio-Oeste dos EUA, em que governadores republicanos criticam as vacinas e o uso de máscaras. No Mississippi, por exemplo, apenas 50% da população recebeu a primeira dose. Já na Pensilvânia, que fica no Nordeste do país e é governada por um democrata, 78,2% dos adultos estão parcialmente imunizados.
Segundo a Folha, pesquisa feita pela revista The Economist e pelo instituto britânico YouGov de julho apontou que, entre os americanos que não pretendem se vacinar, 90% dizem temer os efeitos colaterais da imunização. Desses, 50% afirmam acreditar que vacinas em geral causam autismo e que a de Covid é usada pelo governo para implantar um chip nas pessoas.
Biden acusa: “estão matando as pessoas”
Diante da campanha de desinformação, que se volta contra os interesses de seu governo, Joe Biden passou a criticar as redes sociais pela disseminação de notícias falsas sobre vacinas. “Elas estão matando as pessoas”, disse Biden, sugerindo que as empresas teriam responsabilidade pela recusa à vacina.
O Facebook reagiu mostrando que 85% dos usuários da plataforma foram vacinados ou pretendem se vacinar e informou ter derrubado 18 milhões de conteúdos antivacina. Facebook, Twitter e YouTube promovem conteúdos de autoridades de saúde com informações corretas sobre a Covid e os imunizantes.
Segundo estudo organização CCDH (centro de combate ao ódio digital, em português), divulgado pela Folha de S. Paulo, 12 influenciadores eram responsáveis por 65% da desinformação antivacina que circula nas redes sociais. Atingindo 62 milhões de seguidores, apenas esses influenciadores geraram US$ 1,1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) de faturamento para as gigantes da internet.
De acordo com o relatório da CCDH, quatro meses após a divulgação do relatório, grande parte da desinformação continua online, apesar de as plataformas terem derrubado perfis e conteúdos. “O Facebook e as plataformas não fizeram o suficiente para reparar o dano desde a publicação do relatório; as empresas derrubaram contas e reduziram o alcance de conteúdos, mas o material ainda atinge milhões de pessoas”, disse à Folha Imran Ahmed, diretor-executivo do CCDH.
Da Redação com Folha de S. Paulo