Ideli Salvatti: Tentam apagar as mulheres da História

Na opinião da ex-senadora e ex-ministra do governo Dilma, o resgate de papéis marcantes das mulheres é uma forma de estimular a participação política

Richard Casas/ Agência PT

Ideli Salvatti foi ministra no governo Dilma Rousseff e a primeira mulher eleita senadora em Santa Catarina

Ao longo dos séculos, as mulheres foram apagadas ou tiveram seu papel minimizado pelo discurso patriarcal que pautou a construção da narrativa histórica. Existem pesquisas que apontam como o discurso machista foi determinante para o apagamento de suas memórias. Para exemplificar, nos livros de história elas representam a minoria dos personagens.

O ocultamento de mulheres na História, porém, não é exclusividade dos livros. Elas também estão esquecidas nos nomes de ruas, praças e demais espaços públicos, que privilegiam, majoritariamente, figuras masculinas, brancas e eurocêntricas.

Para quem não é se Santa Catarina, o nome de Antonieta de Barros, por exemplo, pode soar completamente inédito. Afinal, ela não é tão lembrada como os presidentes ditatoriais que batizam nomes de rodovias e escolas pelo país.

Antonieta era mulher pobre e negra. Contrariando todas as probabilidades relacionadas a esses substantivos, tornou-se jornalista, militante, educadora e deputada estadual, sendo a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), em 1934, e a primeira deputada negra do país.

A ex-senadora e ministra do governo da presidenta eleita, Dilma Rousseff, Ideli Salvatti relata que quando chegou à Alesc ficou surpresa ao ver que não havia vestígios da passagem de Antonieta por lá.

“Ela é apagada da história brasileira e de Santa Catarina. Quando cheguei à Assembleia Legislativa, não havia nenhuma foto de Antonieta de Barros, nenhum registro da passagem da primeira deputada de Santa Catarina e primeira parlamentar negra do Brasil”, lembra Ideli.

O resgate da história de Maria Antonieta demandou trabalho intenso, que resultou no batismo do principal auditório do legislativo catarinense com o seu nome.

“O único túnel existente em Florianópolis também recebe o nome de Maria Antonieta. Mas foi uma briga homérica, porque mais uma vez queriam dar a ele nomes de oligarcas brancos”, conta a ex-senadora.  

Antonieta (3ª pessoa sentada, da esquerda para a direita de quem olha) com os colegas deputados na posse, em 1935

Ainda em Santa Catarina, Ideli recorda Maria Rosa, uma das principais comandantes militares na Guerra do Contestado, que nas narrativas históricas frequentemente é apresentada apenas como uma figura mística, pela sua intensa religiosidade.

“A visão machista da atuação das mulheres nos momentos históricos, econômicos e político é sempre muito aquém da real e efetiva participação delas”, reforça a ex-ministra.

Os registros históricos refletem também na estrutura política. Na sociedade, os homens ainda são comumente vistos como os indivíduos preparados para o espaço público, capazes de governar e criar leis, enquanto as mulheres ocupam principalmente lugares secundários, assim como na maioria dos acontecimentos registrados pela ótica masculina. 

O evidenciamento desse papel foi aprofundado no Brasil após o golpe machista, classista e misógino que destituiu a presidenta eleita, Dilma Rousseff. O golpista Michel Temer, assim que usurpou o poder, não nomeou sequer uma mulher para os cargos ministeriais.

Um cenário diferente foi vivenciado durante os treze anos de governo petista. Com Lula e Dilma, as mulheres assumiram papel de protagonismo nos programas sociais e também no alto escalão dos mandatos.

Ideli Salvatti é uma das mulheres que ocuparam postos estratégicos durante o governo Dilma, como ministra das pastas da Pesca e Aquicultura, Ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais e Ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos.

Ela, que foi ainda a primeira senadora eleita por Santa Catarina, em 2002, reforça o histórico papel de protagonismo das mulheres petistas na política, principalmente com a eleição da presidenta Dilma Rousseff, a primeira mulher a ocupar a presidência da República.

A ex-ministra cita ainda Luci Choinacki, a primeira parlamentar agricultora de Santa Catarina, eleita em 1986. Quatro anos mais tarde, ela se tornou a primeira trabalhadora rural a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados.

“Nós temos uma participação e uma projeção de mulheres extremamente significativas e precisamos resgatar esses papéis marcantes. Essa é uma das maneiras mais fortes de estimular a participação de mulheres na política”, conclui.

Por Geisa Marques, da Comunicação Elas por Elas

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