Uerj revela “caos cibernético” para favorecer Bolsonaro com fake news
Pesquisa apontou que os grupos pró-candidato do PSL fazem censura e banem quem questiona informações, além de promover discursos de ódio
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A campanha de Jair Bolsonaro (PSL) foi beneficiada por um “caos cibernético” provocado pela disseminação de fake news. A constatação é de um grupo de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que monitora 90 grupos de WhatsApp de diversos candidatos a presidente, desde maio deste ano.
A pesquisa em Tecnologias da Comunicação e Política (TCP) da Uerj, composto por 14 pesquisadores, constatou que, ao longo de cinco meses, os grupos criados para favorecer Bolsonaro têm uma organização maior na disseminação de notícias falsas em comparação com os de outros candidatos, segundo informou o Agência Publica.
João Guilherme, que coordena o núcleo de análise de dados do grupo, explica que os discursos nos grupos de WhatsApp convergem em uma só mensagem para uma narrativa maior, que os apoiadores de Bolsonaro vem construindo há pelo menos dois anos no aplicativo.
“Essa ideia de ameaça comunista. A ideia de que a gente tem que se unir contra uma ameaça externa e todo mundo entre nós que atrapalhar essa união está favorecendo essa ameaça externa. É um mecanismo básico de movimentos populistas ou fascistas, onde você reprime sistematicamente quem discorda”, aponta.
Censura, banimento e discursos de ódio
Os pesquisadores da Uerj constataram que os administradores dos grupos pró-Bolsonaro fazem uma curadoria para controlar os assuntos que serão compartilhadas. Qualquer pessoas que questione a veracidade de uma informação, é sumariamente banida do grupo, em um estratégia claramente fascista de informação.
“Essa pessoa é enquadrada como um sabotador, ou petista ou comunista e é removido do grupo. Então, sempre que alguém vai destoar dessa narrativa unificada, essa pessoa é retirada acusada de traição. Se alguém começa a reclamar de fake news e dizer ‘você tem certeza que isso é verdade, onde que está a fonte disso, será que isso não vai pegar mal pra gente.’ Aí a pessoa é rapidamente deletada”, explica Alessandra.
Os administradores censuram qualquer questionamento sobre as informações divulgadas, no entanto, deixar passar discursos de ódio contra as minorias. Segundo a pesquisa, há diversas ameaças circulando contra mulheres e LGBTI+. Entre as ofensas, Alessandra cita como exemplos de frases: “Viado não vai ter mais vez, não vai poder fazer isso” e “Vamos acabar com essas feminazis quando o Bolsonaro ganhar”.
Nas mensagens, a verdade é mero detalhe
A pesquisa, que faz parte da rede do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, revelou também que, nos grupos do candidato do PSL, a cada 30 mensagens, uma pelo menos foi enviada do exterior. A coordenadora da pesquisa, Alessandra Aldé, explicou que a disseminação de fake news está sistematizada.
“As notícias falsas têm caminhos específicos. Esses fluxos não são aleatórios e existe uma técnica específica para fazer com que a informação falsa viralize. E isso é muito importante”. Alessandra destacou ainda que entre os apoiadores de Bolsonaro não há qualquer preocupação com a veracidade da informação que será disseminada.
“Chamou atenção da gente também essa falta de compromisso de quem difunde essas notícias como verdade. Porque não se trata de fatos, não tem uma objetividade, é desqualificação, geralmente moral, e associações que são muito impróprias, inadequadas. É uma campanha muito mentirosa”, aponta Alessandra.
Mecanismo fascista contra Fernando Haddad
A pesquisa constatou ainda que Fernando Haddad é o principal alvo do sistema de disseminação de fake news. De acordo com a coordenadora do grupo da Uerj, as mentiras sobre o candidato do PT e sua vice Manuela D’Ávilla foram segmentadas pelos apoiadores de Bolsonaro.
“Tem notícias falsas voltadas para valores religiosos, falando que Haddad vai acabar com a família, que ele é contra Deus, que Manuela d’Ávila falou que Jesus é travesti. Mas em outros grupos esse discurso não tem tanta entrada e você tem mais um discurso sobre segurança pública, por exemplo. Esses grupos falam que a situação está insustentável, que alguém tem que fazer alguma coisa, que tem que se armar”, explicou.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Agência Pública