Jaques: em 2024, foco de Lula será neoindustrialização e micro e pequenas empresas

Em coletiva de imprensa, líder do governo Jaques Wagner (PT-BA) fez um balanço positivo do primeiro ano do governo

Rafael Nunes

"Neste primeiro ano, o governo conseguiu fazer muito mais do que fez no primeiro, em 2003", avaliou Wagner

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (18), o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), fez uma avaliação positiva do primeiro ano do governo Lula, citando resultados como a reconstrução de dezenas de políticas públicas, a queda do desemprego, da inflação e do dólar; um crescimento econômico acima das expectativas, o arcabouço fiscal e a histórica aprovação da reforma tributária. Quanto a 2024, o parlamentar considera que a pauta principal do governo será a neoindustrialização e o fortalecimento das micro e pequenas empresas.

“Eu acho que, neste primeiro ano, que está perto de terminar, o governo conseguiu fazer muito mais do que fez no primeiro, em 2003, a despeito de a gente ter pego uma situação institucional e econômica muito pior do que em 2003. Em 2003, a gente sucedeu um democrata, onde as coisas fluíram normalmente, e, evidentemente, alguém que tinha organizado a questão da responsabilidade fiscal, de modo que a gente recebeu um Estado, um país, numa condição que permitiu ao presidente Lula fazer o que ele chama de revolução social pacífica, botando outro foco no social”, disse Wagner.

“Agora é muito diferente”, disse, citando a tentativa de golpe bolsonarista de 8 de janeiro, “que tumultuou o ambiente e foi um susto para o mundo inteiro”.

“E depois, para cada ministério que foi remontado, ou ministério que já tinha e foi continuado, eu imagino que cada ministro e cada equipe andava com uma lanterna na mão, para saber onde é que poderia ter uma bomba, uma mina deixada ali. Então, não houve nem transição, nós tivemos que ir descobrindo as coisas aos poucos”, afirmou.

Wagner disse que, apesar dessas adversidades, o governo Lula conseguiu colocar o Brasil de novo no caminho do desenvolvimento. “Hoje, a bolsa bateu recorde, o dólar está caindo, eu acho que têm indicadores positivos. A balança comercial foi extremamente positiva”, disse.

Quanto à pauta no Congresso, o líder afirmou que, no Senado, o governo “aprovou quase tudo” e que, a poucos dias do início do recesso parlamentar, deve ser aprovada pelos senadores a Medida Provisória 1185/2023. Ela acaba com a isenção de incidência de tributos federais sobre subvenções destinadas a custeio, mantendo apenas a possibilidade de apuração de um crédito fiscal relativo a subvenções para investimento. Segundo estimativas do Ministério da Fazenda, essa MP tem potencial para aumentar a arrecadação da União em R$ 137 bilhões.

Quanto a 2024, o senador disse que as perspectivas são muito boas, em grande parte por causa do reposicionamento do Brasil no cenário internacional, o que poderá trazer os investimentos necessários para o processo de neoindustrialização no país. Ele citou fatores como a recém-iniciada presidência brasileira no G20, que reúne as maiores economias do mundo, e a atuação de Dilma Rousseff como presidenta do Banco dos BRICS, grupo que terá 11 países-membros a partir do ano que vem.

“O governo conseguiu recompor a presença do Brasil no cenário internacional. Hoje em dia fazem fila na porta para conversar com ele [Lula]. Eu acho que esse protagonismo recuperado que ele fez é um ponto que vale muito para a gente. Nós já estamos exportando mais, estamos reabrindo uma série de relacionamentos que tinham sido interditados. Portanto, o protagonismo na questão ambiental, trazer a COP 30 para a região amazônica, eu acho que é um sinal”, disse Wagner.

“Na minha opinião, isso tem ganhos para o país. É óbvio que ele [Lula] está ocupado com a questão da América do Sul, quer voltar a fortalecer, vamos ver como é que fica com a eleição do novo presidente da Argentina”, afirmou o senador.

Efeitos

Jaques Wagner pontuou que muitas ações realizadas pelo governo em 2023 começarão a surtir efeito a partir do ano que vem, a exemplo do Minha Casa, Minha Vida, programa fundamental para a redução das desigualdades sociais, o fortalecimento do setor da construção civil e a geração de emprego e renda. Mas ele acredita que o protagonismo maior será dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e das Micro e Pequenas Empresas.

“Eu acho que o ponto do foco será em cima da pasta do ministro [Geraldo] Alckmin e do ministro Márcio [França], na questão das micro e médias empresas e a questão industrial. O eixo vai estar por aí, que é a crença do presidente. Nós não vamos ficar, não que seja ruim, só vivendo de commodities”, disse o líder do governo.

Ao falar sobre a importância do hidrogênio verde no processo brasileiro de neoindustrialização, Wagner avalia que é necessária uma discussão aprofundada sobre o tema, para que o foco não seja a exportação, mas a modernização da cadeia produtiva.

“Se for para a gente produzir hidrogênio verde e embarcar tudo para exportar, tudo bem, vai exportar e vai ganhar, mas o que que a gente vai ganhar? Porque a gente precisa fazer hidrogênio verde e modernizar nossa cadeia produtiva, não é pegar e exportar. Hidrogênio verde, ao fim e ao cabo, o que é? É sol, água, e nós vamos ficar mandando para fora. Então, eu não acho que o destino é transformar em mais uma commodity como muita gente está sonhando, para vender, vender, vender para fora. Eu acho que seria uma burrice”, afirmou.

Juros altos

Jaques Wagner falou também sobre a taxa básica de juros (Selic), mantida em patamares elevados pelo Banco Central, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto. Segundo o senador, é praticamente uma unanimidade a opinião de que os resultados são nefastos para a economia, o que inclui um maior gasto do governo, já que grande parte da dívida pública é indexada pela Selic.

“Agora ela [Selic] está caindo, vamos ver até onde vai. Eu, sinceramente, não via por que, e a gente gastou muito dinheiro, porque a rolagem da dívida do governo é feita com base na Selic, qualquer um por cento é dinheiro para caramba. Nós já gastamos muito dinheiro este ano, e eu acho que a gente poderia ter gastado menos, mas ele é o presidente do Banco Central, aprovou lá na equipe dele”, afirmou o senador.

Perguntado se considera a Selic um obstáculo à retomada do desenvolvimento, ele respondeu: “Eu não. Eu, a torcida do Flamengo, do Bahia. Eu não sou economista, não gosto de dar muito pitaco, mas o que eu queria dizer é que até o chamado mercado invisível achava que era absurdo aquelas taxas. E eu repito: você perguntou se prejudica a economia, claro que prejudica. Se eu for rolar minha dívida com base na Selic, qualquer um por cento, faça a conta para ver quantos bilhões que são”.

Da Redação

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