João Victor Chaves: O efeito Odebrecht

A euforia com que Doria é tratado nos meios empresariais que se apropriaram do público é um indício de que os métodos da Odebrecht não morreram

Paulo Pinto/Agência PT
Tribuna de Debates do PT

Manifestação contra o prefeito Doria em São Paulo

Diante do cenário de terra arrasada que recai sobre a classe política, figuras messiânicas se apresentam como salvadores da pátria. Membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, com evidente atração pelos holofotes, são sondados e venerados por uma massa que sai às ruas a pretexto de protestar contra a impunidade.

A desmoralização dos políticos, de modo geral, não é benéfica, uma vez que não há alternativa viável e com projeto de país. Por outro lado, a operação lava jato expôs as entranhas do poder político, e a escandalosa compra de parlamentares por grandes empresas, sobretudo do ramo de construção civil.

Tais relações já eram conhecidas, embora não com tantos detalhes. Empresas como a Odebrecht possuíam ascendência de fato sobre todos os presidentes da república desde a redemocratização. Pouco importava, para os empreiteiros, qual o matiz ideológico dos parlamentares, desde que servissem a seus interesses.

Nesse cenário, propaga-se o chavão de que “os políticos são todos iguais” e o recrudescimento da desesperança no seio da população tende a afastá-la ainda mais da participação política. Isso fortaleceria a manutenção do modelo exposto pelas investigações da Operação Lava Jato, talvez com apenas algumas distinções pontuais para transmitir a falsa impressão de progresso.

O pagamento de propinas como prática institucionalizada ao longo dos últimos 30 anos reforça a necessidade de uma profunda reforma política, apta a reduzir a influência do poder econômico nas eleições e tornar a política mais acessível e participativa para a população.

Em contraponto, surgem candidatos como o prefeito de São Paulo, João Doria Junior, fundador de uma empresa que promovia encontros entre políticos e empresários. Doria então assumiu o papel de interlocutor de empresários junto a políticos de diversos partidos e enriqueceu por meio de anuidades e taxas cobradas por sua empresa para a promoção dos referidos eventos.

Na condição de prefeito, se notabiliza por uma perigosa proximidade junto ao setor privado, em que alardeia a obtenção de doações “sem contrapartidas”. A apropriação da administração pública pelo setor privado, exposta pela Operação Lava Jato, demonstra que todas as doações tinham o objetivo de conseguir, ao menos, alguma simpatia por parte do político beneficiado.

A euforia com que é tratado o prefeito nos mesmos meios empresariais que se apropriaram do público é um indício de que os métodos da Odebrecht não morreram e, aparentemente, veem em Doria alguém para representá-los sem a inconveniente intermediação dos políticos tradicionais.

 

Por João Victor Chaves,  advogado e militante político para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

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